Month: Junho, 2009

Terra e Povo

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No próximo sábado, dia 27 de Junho, decorrerá em Lisboa a primeira Universidade de Verão da Associação Terra e Povo, que contará com a presença de vários oradores de diversos países. A recepção dos participantes será feita a partir das 10 horas e os trabalhos iniciar-se-ão às 10:30, prevendo-se que terminem às 17:30. As inscrições são limitadas e obrigatórias, devendo ser feitas por correio electrónico ou telefone. O preço é de € 30 e inclui almoço. Associados e estudantes beneficiam do preço reduzido de € 25.

Dossier Irão (2) – A escolha do povo

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O resultado das eleições no Irão pode reflectir a vontade do povo iraniano. Muitos especialistas alegam que a margem da vitória do presidente incumbente Mahmoud Ahmadinejad é o resultado de fraude ou manipulação, mas a nossa sondagem à escala nacional entre os iranianos, realizada três semanas antes do voto, revelou que Ahmadinejad liderava por uma margem superior a 2 contra 1 – maior portanto do que a sua aparente margem de vitória nas eleições de sexta-feira.

Enquanto as notícias ocidentais de Teerão nos dias que antecederam as eleições retratavam um público iraniano entusiasmado com Mir Hossein Mousavi, o principal opositor de Ahmadinejad, a nossa amostra científica das 30 províncias do Irão revelava que Ahmadinejad estava bastante à frente.

Sondagens do Irão à escala nacional , independentes e sem censura, são raras. Tipicamente as sondagens pré-eleitorais são ali ou monitorizadas ou conduzidas pelo governo e manifestamente pouco confiáveis. Em contraste, a sondagem conduzida pelas nossas organizações sem fins lucrativos, de 11 a 20 de Maio, foi a terceira de uma série durante os últimos dois anos. Conduzida por telefone a partir de um país vizinho, o trabalho de campo foi realizado em farsi por uma empresa de sondagens cujo trabalho na região para a ABC News e a BBC recebeu um prémio Emmy. A nossa sondagem foi financiada pelo Rockefeller Brothers Fund.

A extensão do apoio a Ahmadinejad foi aparente no nosso inquérito pré-eleitoral. Durante a campanha, por exemplo, Mousavi enfatizou a sua identidade azeri, o segundo maior grupo étnico no Irão a seguir aos persas, para atrair os votantes azeri. Contudo, a nossa sondagem indicou que os azeri favoreciam Ahmadinejad contra Mousavi numa proporção de 2 para 1.

Muitos comentários retrataram a juventude iraniana e a internet como sinais da mudança que estava para vir nestas eleições. Mas o nosso inquérito revelou que apenas 1/3 dos iranianos têm sequer acesso à internet, enquanto a faixa etária dos 18 aos 24 anos representava de todas a que maior apoio dava a Ahmadinejad.

Os únicos grupos demográficos onde na nossa sondagem Mousavi liderava ou era competitivo com Ahmadinejad eram estudantes universitários e licenciados juntamente com os iranianos de rendimento mais elevado. Quando a nossa sondagem teve lugar, quase 1/3 dos iranianos estavam também ainda indecisos. Contudo a distribuição de resultados que encontrámos na altura espelha os resultados reportados pelas autoridades iranianas, indicando a possibilidade de que o voto não foi o produto de uma fraude.

Alguns podem argumentar que o apoio professado a Ahmadinejad que encontrámos reflectia simplesmente a relutância receosa dos inquiridos em dar respostas honestas aos investigadores. No entanto, a integridade dos nossos resultados é confirmada pelas respostas politicamente perigosas que os iranianos estiveram dispostos a dar a uma série de perguntas. Por exemplo, quase 4 em cada 5 iranianos – incluindo a maior parte dos apoiantes de Ahmadinejad – disseram que queriam mudanças no sistema político para lhes dar o direito de elegerem o Líder Supremo do Irão, que não é actualmente sujeito a voto popular. Similarmente, os iranianos escolheram eleições livres e uma imprensa livre como as maiores prioridades para o seu governo, virtualmente empatadas com a melhoria da economia nacional. Estas foram respostas que dificilmente podemos considerar “politicamente correctas” para serem proferidas publicamente numa sociedade largamente autoritária.

De facto, e consistentemente em todas as nossas três sondagens durante os últimos dois anos, mais de 70% dos iranianos também expressaram o seu apoio a que fosse concedida plena liberdade aos inspectores de armas no país e uma garantia de que o Irão não desenvolveria ou possuiria armas nucleares, em troca de ajuda e investimento externo. E 77% dos iranianos favoreciam a normalização das relações e comércio com os EUA, outro resultado consistente com as nossas conclusões anteriores.

Os iranianos vêem o seu apoio a um sistema mais democrático e relações normais com os EUA como sendo consonante com o seu apoio a Ahmadinejad. Não querem que ele continue as suas políticas de linha dura. Na realidade, os iranianos aparentemente vêem Ahmadinejad como o seu negociador mais capaz, a pessoa melhor posicionada para conseguir uma decisão favorável – como um Nixon persa que se desloca à China.

Alegações de fraude e manipulação eleitoral servirão para isolar ainda mais o Irão e são passíveis de aumentar a sua beligerância e intransigência contra o mundo exterior. Antes de os outros países, incluindo os EUA, se precipitarem na conclusão de que as eleições presidenciais iranianas foram fraudulentas, com as graves consequências que essas acusações poderiam trazer, deveriam levar em consideração toda a informação independente. O facto pode simplesmente ser que a reeleição do presidente Ahmadinejad é o que o povo iraniano queria.

Ken Ballen and Patrick Doherty, The Washington Post,15 de Junho de 2009

Dossier Irão (1) – A orquestração de uma nova “revolução colorida”

Serão os protestos nas eleições iranianas mais uma “revolução das cores” orquestrada pelos EUA?

Um certo número de comentadores expressou a sua crença idealística na pureza de Mousavi, Montazeri e na juventude ocidentalizada de Teerão. O plano de destabilização da CIA, anunciado há dois anos (ler abaixo), não teria, de alguma forma, influenciado os acontecimentos que se desenrolam.

O argumento é que Ahmadinejad falseou as eleições, porque o resultado foi anunciado demasiado cedo depois das urnas fecharem para que todos os votos tivessem sido contados. Contudo, Mousavi declarou a sua vitória várias horas antes das urnas sequer fecharem. Isto são métodos clássicos de destabilização da CIA desenhados para descredibilizar um resultado adverso. Obriga a um anúncio rápido dos votos. Quanto mais longo fosse o intervalo de tempo entre a declaração antecipada de vitória e a divulgação dos resultados da votação, maior seria o tempo que Mousavi teria para criar a impressão de que as autoridades estavam a utilizar o tempo para manipular os votos. É espantoso que as pessoas não percebam este truque.

Quanto à acusação do grande aiatola Montazeri de que a eleição foi fraudulenta, relembremos que ele era a primeira escolha para suceder a Khomeini mas que perdeu para o actual Líder Supremo. Ele vê nos protestos uma oportunidade para ajustar contas com Khamenei. Montazeri tem o incentivo para desafiar o resultado das eleições quer esteja ou não a ser manipulado pela CIA, que tem uma história de sucesso na manipulação de políticos descontentes.

Há uma luta de poder entre os aiatolas. Muitos estão alinhados contra Ahmadinejad porque ele os acusou de corrupção, apelando assim ao Irão profundo, onde muitos iranianos pensam que o estilo de vida dos aiatolas indica um excesso de poder e dinheiro. Na minha opinião, o ataque de Ahmadinejad aos aiatolas é oportunista. Contudo, torna-se complicado para os seus detractores americanos dizerem que ele é um conservador reaccionário alinhado com os aiatolas.

Os comentadores “explicam” as eleições iranianas baseados nas suas próprias ilusões, desilusões, emoções e interesses escondidos. Quer os resultados anunciando a vitória de Ahmadinejad sejam ou não sólidos, não há, até ao momento, nenhuma evidência concludente de que a eleição foi fraudulenta. Há contudo informações credíveis de que a CIA trabalha há dois anos para destabilizar o governo iraniano.

Em 23 de Maio de 2007, Brian Ross e Richard Esposito relataram na ABC News:

“A CIA recebeu aprovação presidencial para montar uma operação secreta para destabilizar o governo Iraniano, disseram à ABC News actuais e antigos agentes dos serviços de informação”

A 27 de Maio de 2007, o The Telegraph londrino escreveu:

“ Bush assinou um documento oficial aprovando planos para uma campanha de propaganda e desinformação com o objectivo de destabilizar, e eventualmente derrubar, o governo teocrático dos mullahs”

Alguns dias antes, a 16 de Maio de 2007, o The Telegraph informava que o neocon John Bolton lhes havia dito que um ataque militar americano ao Irão seria “uma ‘última opção’, para o caso das sanções económicas e das tentativas de fomentar uma revolução popular falharem”.

Em 29 de Junho de 2008 Seymour Hersh escrevia no New Yorker:

“Em finais do ano passado, o Congresso deu o seu acordo a uma proposta do presidente George Bush para financiar uma grande escalada de operações secretas contra o Irão, segundo antigas e actuais fontes militares, dos serviços secretos e do Congresso. Estas operações, para as quais o presidente conseguiu cerca de quatrocentos milhões de dólares, foram descritas numa directiva presidencial assinada por Bush e destinam-se a destabilizar a liderança religiosa do país”

Os protestos em Teerão têm, sem dúvida, muitos participantes sinceros. Mas os protestos têm também a marca dos protestos orquestrados pela CIA na Geórgia e na Ucrânia.

É necessária completa cegueira para não ver isto.

Daniel McAdams levantou sobre isso algumas questões significativas.

Por exemplo, o neoconservador Kenneth Timmerman escreveu no dia anterior às eleições :”Há rumores de uma ‘revolução verde’ em Teerão”. Como é que Timmerman saberia isso se não fosse um plano orquestrado? Por que haveria uma ‘revolução verde’ preparada antes dos resultados dos votos, especialmente se Mousavi e os seus apoiantes estavam tão confiantes na vitória como afirmavam? Isto parece uma definitiva evidência de que os EUA estão envolvidos nos protestos eleitorais.

Timmerman prossegue e escreve que “a National Endowment for Democracy gastou milhões de dólares a promover as revoluções das cores”…algum desse dinheiro parece ter chegado às mãos de apoiantes de Mousavi, que têm ligações a organizações não-governamentais fora do Irão financiadas pela National Endowment for Democracy. A organização neocon Foundation for Democracy in Iran do próprio Timmerman é ”uma organização privada, sem fins lucrativos, estabelecida em 1995 e financiada pela National Endowment for Democracy (NED) para promover a democracia e padrões internacionalmente reconhecidos de direitos humanos no Irão”

Paul Craig Roberts

Luxo e Capitalismo

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A supremacia do feminino é manifestamente o objectivo final das oligarquias que controlam e governam o Ocidente moderno. Para explicar o motivo de tanta solicitude face às instâncias feministas é muito útil a leitura de um clássico do pensamento económico: Amor, Luxo e Capitalismo (Liebe, Luxus und Kapitalismus) de Werner Sombart. Nesta obra de 1913 o grande economista alemão analisa os processos que transformaram uma economia baseada nas exigências reais à moderna sociedade de consumo fundada sobre os bens de luxo e coloca em destaque a transformação na relação entre os sexos que determinou o nascimento de novas estruturas sociais.

No final da Idade Média assiste-se a um extraordinário desenvolvimento da vida de corte. A primeira corte moderna que fez gala de luxo supérfluo foi a corte papal de Avignon. Os príncipes italianos do renascimento ampliaram estas tendências e nas suas cortes as senhoras tinham grande influência. Naturalmente, desde a Antiguidade que haviam existido figuras femininas com papéis reais ou de notável poder, mas a novidade era que nas cortes do renascimento havia cada vez mais espaço para as damas de companhia, amantes e prostitutas de alto nível.

Enquanto na Idade Média a riqueza era eminentemente representada pela propriedade térrea, no Renascimento começa a circular uma grande quantidade de dinheiro, também por causa do ouro e da prata provenientes das Américas. Multiplicam-se as aquisições de títulos nobiliárquicos e assiste-se ao ingresso na alta sociedade de elementos vindos da burguesia totalmente alheios ao estilo de vida da nobreza guerreira: a concepção mercantilista do mundo estende-se cada vez mais e contamina todos os estratos sociais. As cidades engrandecem desmesuradamente e começa a formar-se uma espécie de “proletariado” urbano do qual as forças da subversão se servirão habilidosamente nos séculos que virão. Por outro lado, a reforma protestante, como é sabido, dará um impulso decisivo ao capitalismo, removendo a desconfiança em relação à riqueza que havia caracterizado toda a reflexão económica medieval. O capitalismo nascente encontrava assim os seus aliados naturais em todas aquelas figuras que a Idade Média havia olhado com suspeição: os judeus, os heréticos, os infiéis, os estrangeiros…

O dinheiro, que para a Igreja medieval era o “esterco do demónio”, torna-se para os protestantes numa bênção de Deus.

Paralelamente à ascensão do protestantismo surge uma concepção descomprometida e puramente hedonista das relações entre os sexos, em que as uniões estáveis dão lugar a casais de amantes ocasionais em que o princípio de legitimidade se torna cada vez mais degradado. Na corte francesa do século XVIII assistir-se-á à institucionalização de uniões de facto como aquela célebre formada por Luís XV e Madame Pompadour. A própria Maria Antonieta, de resto, mostrar-se-á sempre pronta a ostentar o luxo mais desbragado, e o comportamento digno que terá nos momentos dramáticos da Revolução Francesa não justificará a vida indecorosa de uma nobreza que já estava completamente corrompida.

Os intelectuais do iluminismo exaltavam o estilo de vida dispendioso pela sua capacidade de movimentar os mercados, mesmo se estes iluministas filantropos fechavam os olhos ao comércio de escravos africanos que assumia naqueles anos proporções gigantescas (entre os negreiros tinham também um papel não secundário os capitalistas judeus e maçons…)

No curso do século XVIII assiste-se a uma produção anormal de bens de consumo que não têm justificação no seu uso efectivo: espelhos, porcelanas, flores artificiais…

Sombart pensa que as formas económicas variaram sobretudo em virtude destas grandes mutações psicológicas ocorridas no período examinado, enquanto os historiadores marxistas ou liberais, marcados por um rígido determinismo, pensam que tais mudanças foram o resultado inevitável de novas descobertas geográficas e da relativa expansão dos mercados. O resultado final destes processos está hoje, contudo, à vista de todos: o turbo-capitalismo globalizado que encontra nas reivindicações feministas o mais fiel aliado. A aniquilação da família natural, na realidade, produziu uma posterior expansão do consumo, que atinge agora níveis inverosímeis.

Amor, Luxo e Capitalismo, para além de ser um estudo histórico que sugere perspectivas originais de pesquisa, é um eficaz antídoto contra o pensamento único liberal e é particularmente recomendada a leitura deste clássico do anti-capitalismo militante na época que levou a consequências extremas a lógica da especulação financeira.

Michele Fabbri

Mito e Comunidade (parte 2 de 2)

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Esta ligação íntima entre Mito fundador, sociedade, sistema de valores, norma social, permite-nos falar da sociedade como de um organismo, de falar de sociedade orgânica. De resto, o termo sociedade é impróprio, como o demonstra o facto de sermos obrigados a adjectivá-lo. Falarei então, doravante, de comunidade, para significar sociedade orgânica, e ademais, oporei comunidade a sociedade, a toda a linha, um pouco da maneira como opomos um conceito-limite a outro. Esta oposição entre comunidade e sociedade não é nova, foi estabelecida por sociólogos alemães e notoriamente por Ferdinand Tönnies. A intuição destes sociólogos era justa, mas sempre conduziu a conclusões erradas ou a teorias assaz confusas, porque a definição de comunidade em relação a sociedade nunca foi dada senão de maneira implícita.

Um Mito é sempre nostalgia das origens, como afirma Mircea Eliade, mas também é sempre visão cosmológica do futuro, anuncia um fim do mundo, que também pode ser por vezes começo de uma repetição do mundo e, num caso que conhecemos bem, regeneração do mundo.

O Mito, também o dizemos, não tem tempo. Não o tem porque ele é o tempo, o tempo da história. Assim, a comunidade que ele organiza é um organismo histórico que ocupa a todo o momento as três dimensões do tempo histórico. Uma comunidade é um organismo vivente, que está à vez no passado, no presente e no futuro. Uma comunidade tem uma consciência comunitária, que é, ao mesmo tempo, memória, acção e projecto. Uma tal comunidade, chamamo-la povo. Quando um povo já não tem a memória das suas origens e, como diz Richard Wagner, quando deixa de ser movida por uma paixão e um sofrimento comum, deixa de ser povo: torna-se massa. E a comunidade torna-se sociedade. Afirmei que comunidade e sociedade são conceitos-limite. Há sempre um pouco de massa nos melhores povos e há sempre uma réstia de povo na massa mais vil e mais rebaixada. Não há dúvida, e de resto enchem-nos com isso os ouvidos, de que vivemos na época das massas, de que vivemos em sociedades massificadas. O indivíduo, não importa qual, é divinizado em nome da igualdade. Todo o individuo social tem o mesmo valor, a personalidade nunca é tomada em consideração – e com causa, pois já não há sistema referencial de valor social. Numa comunidade, pelo contrário, o valor humano, que é sempre personalidade social, é medido pelo seu grau de adequação aos exemplos ideais propostos pelo Mito, e que cada membro da comunidade traz em si como uma espécie de superego. Quando o mito se esteriliza, quando esses arquétipos ideais não são mais sentidos como tal, deixa de haver laço comunitário, de modo que, no limite, todo o indivíduo é considerado como ideal em si, pelo simples facto de ser um indivíduo. O que resta para manter unido aquilo que se tornou uma sociedade, é o laço sempre precário e contingente criado pela aliança dos interesses egoístas de grupos de indivíduos, de classes, de partidos, de capelas, de seitas. A verdadeira dimensão humana, que é dimensão histórica, está perdida; a sociedade de massa já não se preocupa, verdadeiramente, nem com o passado nem com o futuro, apenas vive no presente e para o presente. Assim, ela já não faz política, apenas faz economia, e economia da pior espécie, condicionando todos os reflexos sociais. Sintomaticamente, a preocupação do futuro, os horizontes do século XXI, não são invocados senão para justificar e avalizar o insucesso económico do presente. Perceberam bem, estamos em vias de falar das nossas sociedades ocidentais. Estas sociedades, no seio das quais nascemos e vivemos, saíram da grande ecúmena cristã, que havia sido formada e conformada pelo Mito judaico-cristão. Este Mito morreu há muito tempo, com o seu Deus. Mesmo a religião, tal como é veiculada pelo que resta das Igrejas, é ideologizada, tornou-se ideologia que se opõe a outras ideologias brotadas da mesma fonte mítica, entretanto exaurida. Ali, onde o Mito havia organizado, harmonizado, unido, e assim dado um significado e um conteúdo espiritual, isto é, humano, à vida dos homens, as ideologias opõem, desunem, desagregam. A ideologia rejeita o Mito como sendo irracional e pretende, ela, ser racional, ser racionalmente fundada. No fundo, de maneira implícita ou explícita, toda a ideologia pretende ser ciência e ciência do homem também. E lançada sobre a sua busca de racionalismo, toda a ideologia acaba por se transformar em anti-ideologia. Com efeito, uma vez que uma ideologia é sempre acompanhada por uma ideologia contrária, esta constatação leva à procura de uma síntese, numa espécie de neutralidade ideológica aparente, sustentada pela convicção absurda de que em último caso tudo, mesmo o homem, é quantificável, que tudo pode ser calculado, que a vida de uma sociedade reduz-se a um problema de gestão administrativa.

As sociedades ocidentais, por exemplo, têm a ilusão de reencontrar a harmonia perdida, a fusão íntima dos contrários, graças às virtudes da tolerância: mas tornam-se assim esquizofrénicas e tornam esquizofrénicos os indivíduos mais sensíveis ao clima social. O indivíduo ocidental acaba sempre por ter uma má consciência, sobretudo ao nível do poder, porque é atormentado por duas exigências opostas, que não saberia satisfazer conjuntamente, que dizemos ser, para simplificar: a exigência de liberdade individual e a exigência de justiça social. A cisão que está no seio das sociedades está também sempre no coração dos indivíduos e isso leva por vezes a consequências cómicas, como no caso dos liberais avançados que queriam também ser ao mesmo tempo socialistas e no dos comunistas e socialistas que queriam também ser liberais. E note-se que se desconsideramos o Mito, rejeitado como sendo irracional, instintivamente pretendemos recuperar os seus benefícios sociais, propondo Anti-Mitos, com um ideal correspondente que seria o do anti-herói, ideal tão bem representado ao nível da consumação quotidiana de pseudo-valores sociais, pelo artista desleixado, cabeludo e se possível um pouco sujo.

As sociedades comunistas, também elas saídas do Mito judaico-cristão, tentaram uma outra solução. Escolheram a intolerância, em benefício de uma só ideologia, convocada a tomar a lugar do Mito. Mas porque a ideologia não é um Mito, e portanto não pode ser operante na alma dos indivíduos, estes nunca se conformam à norma ideológica. A consequência bem conhecida é que a sociedade comunista é uma sociedade restritiva. Para ser exacto: há na sociedade comunista, a todos os níveis, uma obrigação de restrição, de forma que o depurador acaba sempre, ele próprio, depurado, enquanto na sociedade liberal-democrática chegamos a uma obrigação de tolerância, da qual mesmo os delinquentes acabam por beneficiar. Além do mais, também as sociedades comunistas, apesar de certas aparências “anti-económicas”, apenas vivem no presente. A demonstração é-nos oferecida, de maneira periódica mas marcante, pela condenação de todo o “presente encerrado”, assumindo o aspecto de uma celebração ritual. O presente é sempre divinizado – de Lenine a Estaline, até Mao – para ser infalivelmente condenado e desprezado a partir do momento em que cede lugar a outro presente. Assim, tudo somado, podemos dizer que a equação social da sociedade comunista tem como resultado o mesmo valor da equação democrático-liberal. Microscopicamente, ao nível dos indivíduos, a sociedade liberal é mais atraente, daí os fenómenos de dissidência no seio dos regimes comunistas, as fugas, e por reacção o muro de Berlim. Mas note-se também que ao nível macroscópico, da massa enquanto tal, a fuga produz-se sobretudo em sentido inverso e que portanto, no pós-guerra, as sociedades socialistas multiplicaram-se.

O que fazer então? O que esperar? Permitam-me regressar uma vez mais a Nietzsche. Nietzsche foi dos primeiros a dizer-nos que a civilização ocidental tinha entrado em agonia, uma agonia de duração imprevisível, e que iria morrer. As nações europeias estão condenadas ou a sair da história à maneira dos Bororos, tão caros ao senhor Levy-Strauss, ou a morrerem historicamente e verem dissolvida a sua substância biológica em nações e povos que estão para vir. No fundo, todos na Europa estão mais ou menos conscientes e é por causa disso que há, desde há algum tempo, um discurso sobre a Europa. Mas essa Europa é concebida como um prolongamento das actuais realidades sociais, como o último meio para salvar o que está em agonia, o que está condenado à morte, ou seja, a civilização judaico-cristã. Mas se uma Europa vir a luz do dia num futuro mais ou menos distante, ela não terá sentido, historicamente, se não for tal como Friedrich Nietzsche a auspiciava, conduzida e organizada por um Mito novo, fundamentalmente estranho a tudo o que existe hoje. Acreditamos que este novo Mito já existe, que já apareceu. Disso há sinais e sinais por detrás dos sinais. Nos seus inícios um Mito é sempre extremamente frágil, a sua vida depende sempre de alguns punhados de homens que já o falam. Num estudo sobre aquilo que chamo a música europeia, de Johann Sebastian Bach a Richard Wagner, tentei mostrar como este Novo Mito e a nova consciência histórica que o transporta nasceram, e mostrar também por que via este Novo Mito se dirigiu ao nosso presente. Se ele vive ainda, não pode sobreviver senão em virtude da total fidelidade ao seu jovem passado daqueles que o transportam. É certo, ele ainda não disse tudo, talvez não tenha feito mais que balbuciar. O mito, quando vivente, está sempre em vias de se expressar.

Mito e Comunidade (parte 1 de 2)

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Comunicação de Giorgio Locchi no XIII colóquio federal do G.R.E.C.E.

Com um bom século de avanço, Friedrich Nietzsche havia previsto todos, ou quase todos, os fenómenos que caracterizam a nossa época, como a ascensão do niilismo anarquista, a epidemia das neuroses, o extraordinário desenvolvimento de uma arte do espectáculo rebaixada ao nível do “circense” quotidiano, o comércio da luxúria. A verificação das profecias nietzschianas deveria afectar os espíritos, convidá-los à reflexão. Não é assim. Mas isso é fatal. Nietzsche havia estabelecido para as sociedades ocidentais um diagnóstico de decadência e não fazia mais do que prever o decurso normal da doença. Ora, o que é próprio desta doença das sociedades que é a decadência é a cegueira que afecta o doente sobre o seu estado. Quanto mais está doente, mais acredita estar de boa saúde. Uma sociedade decadente é tanto mais progressista quanto mais se aproxima da conclusão fatal da sua doença.

Olhemos em torno a nós. Todos, do liberal mais ou menos avançado ao comunista mais ou menos atrasado, acreditam visceralmente no progresso, estão intimamente convencidos de viver uma era de progresso e mesmo de progresso último. Vêem toda a espécie de fenómenos sociais que na longa história dos povos sempre caracterizaram as agonias dos povos e das culturas. Do feminismo à ascensão social fulgurante dos histriões e das gentes do espectáculo, da desagregação das células sociais tradicionais (para nós a família) às tentativas efémeras e sempre renovadas de as substituir por não se sabe que “comunas”, do universalismo masoquista ao abatimento de toda a norma social restritiva para o indivíduo. Mas tornaram-se perfeitamente incapazes de tirar lições da história, o que os leva por vezes a dizer que a história não tem sentido.

Um outro traço é característico da decadência avançada: a mediocridade dos sentimentos. Discutimos agressivamente, mas toleramo-nos. Ainda fazemos a guerra, fria se possível, mas fazemo-la em nome do amor, para libertar o outro. Aquilo que nos obrigamos a odiar é uma abstracção do Outro, nunca o Outro na sua realidade. Odiamos consoante o campo em que nos encontramos, o detestável capitalismo ocidental ou o horrível regime comunista, mas amamos o povo russo, amamos o grande povo americano. As sociedades decadentes já não sabem amar ou odiar, já estão tépidas, pois a vida está em vias de as abandonar, a sua força vital está já quase toda dissipada. Essa força vital que dá vida às sociedades, as organiza e as lança sobre os perigosos caminhos da história, essa força pode receber diversos nomes. Dostoievski chamava-lhe Deus e dizia que quando um povo deixa de ter o seu Deus não pode mais que agonizar e morrer. Friedrich Nietzsche, por sua vez, anunciou às sociedades ocidentais que o seu Deus estava morto e que elas também iriam, portanto, morrer. Paul Valéry, à sua maneira, sentiu a mesma verdade. Para mim, “Deus” é uma definição demasiado estreita, demasiado “ocidental”, daquilo que é a força vital de uma sociedade. O Divino não é mais que um elemento, que um aspecto dessa força vital que eu chamaria antes, em toda a sua complexidade, MITO.

O que é próprio do Mito, tal como o entendo, é entrar na história criando-se a si mesmo, isto é, criando e organizando os seus próprios elementos. O Mito é essa força histórica que dá vida a uma comunidade, organiza-a, lança-a rumo ao seu destino. O Mito é, antes de tudo, um sentimento do mundo, mas um sentimento do mundo partilhado e, enquanto tal, é e cria objectivamente o laço social e, ao mesmo tempo, a norma comunitária. Estrutura a comunidade, dá-lhe o seu estilo de vida, e estrutura também as personalidades individuais. Este sentimento do mundo está, por outro lado, na origem de uma visão do mundo, portanto de expressões coerentes de pensamento. A história ensina-nos que cada povo, cada civilização, teve o seu Mito. Na perspectiva que se abre a partir do nosso presente social, temos a impressão que os Mitos estão sempre ligados a uma fase primordial, já superada, do devir humano. Que o Mito seja, por assim dizer, a manifestação própria da infância da humanidade, é um lugar-comum da reflexão histórica moderna. É o ponto de vista, inevitável, de um pensamento que é o reflexo da velhice de uma civilização. Quando um Mito morre, quando o olhamos de fora, um Mito surge-nos como um conjunto de crenças mais ou menos fantasiosas, como uma colecção de narrativas imaginárias, estranhamente confusas, sempre contraditórias. Se tentamos, pela imaginação posterior, transportá-lo para a vida e a história, o Mito parece mover-se contra o sentido do tempo, o que leva Mircea Eliade a dizer que o Mito é nostalgia das origens. Mas sucede que não podemos estudar a vida num cadáver. Um Mito vivo reconhece-se pelo facto de ser harmonia, fusão e unidade dos contrários. Isso significa, muito simplesmente, que os homens que vivem no campo do Mito e que são organizados por ele, não sentem como contraditório tudo que parecerá contraditória aos que estão de fora. O Mito é força criativa viva e demonstra-o justamente por essa criação que infatigavelmente reduz e harmoniza os contrários. Tivemos um nome para esta virtude redutora das contradições, chamámos-lhe a fé. Racionalmente estamos aqui num círculo vicioso, outra forma de contradição: o Mito apenas é verdadeiro pela fé, mas a fé apenas vive pelo Mito – a fé não é criada senão pelo Mito.

Para quem está no Mito, sabemo-lo bem, esse círculo vicioso, essa contradição, não o é, porque o Mito está em todos os que dele são tributários e não cessa de se criar entre eles e por eles. Porque o Mito, com efeito, é criação incessante se si mesmo, ele é – sob todos os aspectos – auto-criação. Isso é verdade, desde logo, ao nível da linguagem, que é o nível no qual o humano se constitui enquanto ser social. Ilustres estruturalistas dizem-nos hoje que nós não falamos, que “somos falados”. Falam evidentemente deles mesmos e para eles mesmos, enquanto representantes privilegiados das sociedades actuais. Têm razão; pois toda a língua, desligada do Mito – isto é, do sentimento do mundo – que a criou, apenas pode ser falada, no sentido em que aqueles que a utilizam já não falam verdadeiramente, antes são falados. Enquanto a língua está ainda vivamente ligada à sua raiz mítica está também ainda a criar-se e aqueles que a utilizam ainda falam e se falam, longe de toda a Torre de Babel.

A língua do Mito estrutura símbolos, ainda cria as coisas com as palavras. A partir do momento em que o Mito deixa de falar, e passa a ser, no máximo, falado, à harmonia do símbolo sucede a discórdia de duas ideias opostas, inconciliáveis. Isso significa também, tautologicamente, que à época do Mito sucede a época das ideologias, de ideologias saídas de uma mesma fonte e contudo sempre opostas, que se esforçam em vão para atingir a sua síntese impossível através de uma “ciência última” e de reencontrar dessa forma esse paraíso perdido que era assegurado pela harmonia do Mito.

Por ser harmonia dos contrários, o Mito é também o laço social por excelência e, desse ponto de vista, é legítimo falar, a seu respeito, de religião. Enquanto laço social, o Mito organiza a sociedade, assegura-lhe a coerência no espaço e através do tempo. O Mito é bem mais que uma Weltanschauung, é um sentimento do mundo e também, ao mesmo tempo – melhor: por isso mesmo – um sentimento de valor, uma métrica operante. Ele é a chave que explica, que sugere a acção e a norma da acção. Queria relembrar-vos aqui como um Mito pode organizar uma sociedade, ditar a conduta dos homens, no caso os helenos, confrontados frequentemente com um problema que lhes era desconhecido. Os helenos eram indo-europeus, o seu Mito era o Mito indo-europeu, que constituía a base sobre a qual estavam organizados em descendência patrilinear fundada sobre o que podemos chamar o valor heróico. Quando imigraram para a península grega viram-se confrontados com uma sociedade de descendência matrilinear. Por razões que foram talvez contingentes, não destruíram esta sociedade estrangeira. Houve mistura de povos, de civilizações. Isto colocava um grave problema: o da oposição inconciliável entre duas concepções da sociedade e do direito. Na sociedade matriarcal, não são as mulheres que fazem a guerra e detêm o poder, são também os homens. Mas a legitimidade do poder vem da mulher, apenas se é rei porque se desposa a mulher que por direito de descendência matrilinear é herdeira do poder. Nestas sociedades o poder é assim sempre detido por homens que são escolhidos pelas mulheres. Ora, se podemos legitimamente pensar que os helenos, no início da mistura, adquiriram frequentemente o poder graças ao casamento, deviam ainda assim legitimá-lo do ponto de vista do seu Mito, do ponto de vista do direito patrilinear. Existe toda uma miríade de narrativas míticas que nos contam estes conflitos e as mil vias pelas quais os helenos sempre fizeram triunfar o seu sistema de valores. A aventura de Édipo, a Oresteia, os mitos de Teseu, de Jasão, de Belerofonte, mesmo o mito do rapto da Europa são penas exemplos entre tantos outros. E a supremacia do direito paternal é simbolizada, num Panteão que é tributário, é certo, de duas religiões míticas, pela presença de Atena, a deusa virgem, deusa guerreira mas também deusa do pensamento reflectido. Atena não tem mãe, ela proclama “apenas ser de seu pai”, Zeus, e é ela que está lá para absolver todos os Orestes, que para vingar o seu pai, foram constrangidos a assinar a sua mãe.

PNR: Uma luta que não cessa

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Viver pela Espada!

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Daniel Roxo era transmontano de nascimento e doou-se completamente à defesa da Pátria.

Morreu em território português de Angola continuando a luta onde o deixaram – no Batalhão 32 do Exército Sul Africano. Ele que foi sempre o Comandante aceitou as divisas de Sargento e decidiu (como tantos outros da sua estirpe) continuar o combate.

A sua acção em combate foi épica. A ele e a outros poucos portugueses se deve a grande vitória da ponte 14 (Dezembro de 1975 – no rio Nhia) em que milhares de cubanos e MPLA foram clamorosamente derrotados pelo Batalhão 32. Durante a batalha os portugueses do Batalhão 32 sofreram quatro mortos. Os Cubanos e MPLA perderam mais de 400 homens, embora o número exacto seja difícil de determinar pois, como a BBC mais tarde informou, camiões carregados de cadáveres estavam constantemente a sair da área em direcção ao norte. Entre os Cubanos mortos estava o comandante da força expedicionária daquele país, o Comandante Raul Diaz Arguelles, grande herói da Cuba de Fidel. E note-se sem a intervenção de meios aéreos! Só com apoio da artilharia.

Foi cronologicamente a última grande batalha em que soldados portugueses (no século XX) se bateram. E bem!

Trata-se de uma batalha que nas nossas Academias Militares não é estudada (nem sequer conhecida), mas que pelas inovações tácticas e emprego de pequeníssimos grupos de comandos deu resultados bem inesperados (para os cubanos, é claro). No entanto esta batalha é estudada (e bem) nas academias russas, britânicas e americanas (algumas).

Poucos meses depois o nosso Daniel Roxo morria em combate. Antes contudo tinha já recebido a maior condecoração sul africana (equivalente à nossa Torre e Espada). Só no primeiro reconhecimento abateu (sozinho) 11 inimigos a tiro.

Durante uma patrulha perto do rio Okavango, o seu Wolf (veículo anti minas semi blindado) rebentou uma mina e foi virado ao contrario, matando um homem e esmagando Roxo debaixo dele. O resto da tripulação tentou levantar o veiculo para o libertar mas era demasiado pesado. Breytenbach, (antigo comandante dos Búfalos, no seu livro (Eles vivem pela Espada – They Live by the Sword, pp. 105) escreveu:

Danny Roxo, mantendo-se com o seu carácter intrépido, decidiu tirar o melhor partido das coisas, acendendo um cigarro e fumando-o calmamente até que este acabou, e então morreu – ainda esmagado debaixo do Wolf. Ele não se tinha queixado uma única vez, não tinha dado um único gemido ou grito, apesar das dores de certeza serem enormes.

Assim morreu o Sargento Danny Roxo, um homem que se tinha tornado numa lenda nas Forças de Segurança Portuguesas em Moçambique, e que rapidamente se tinha tornado noutra lenda nas Forças Especiais Sul Africanas.

Metapedia

O rebanho ocidental

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«No Ocidente sem censura as correntes de pensamento e ideias politicamente correctas são cuidadosamente separadas daquelas que não o são; nada é proibido, mas o que não é politicamente correcto dificilmente encontrará forma de se expressar nos periódicos, livros ou nas faculdades. Por lei os vossos investigadores são livres, mas na realidade estão condicionados pelo que está em moda. Não há uma violência aberta como no Leste, contudo, uma selecção ditada pelo que é politicamente correcto e a necessidade de corresponder a critérios de massa impede frequentemente as pessoas intelectualmente livres de darem a sua contribuição à vida pública. Há uma tendência perigosa para formar um rebanho (…)»

Do discurso do dissidente soviético Alexander Soljenitsine em Harvard, a 8 de Junho de 1978