Month: Outubro, 2010

VALORES MODERNOS:TRABALHA-COMPRA-CONSOME-MORRE!

A nossa tradição política e a economia (parte I)

A falta de uma doutrina económica?

Para quem observa de fora é comum ficar a impressão de que a nossa tradição política tem um ponto fraco em relação aos adversários: a inexistência de um pensamento económico mecanizado que permita propostas e análises imediatas e facilmente repetíveis no que à economia diz respeito. Mesmo naqueles que fazem parte da nossa mundividência surge muitas vezes uma incapacidade de contestar essa observação. Será verdadeira?

Não é. Mas é natural que na actual modernidade exista essa percepção. Para o explicarmos temos de recuar na História.

Contextualizar o problema

A segunda guerra mundial foi uma guerra de várias frentes e muitas batalhas diferentes, mas uma delas é fulcral para o tema que aqui abordamos. Essa guerra representou, entre outras coisas, o embate de três grandes mundividências distintas: a liberal, a marxista e uma outra que chamaremos, por conveniência, “nacionalista” (com todas as nuances que este conceito aqui acarreta).

Com o equilíbrio (ou desequilíbrio) de poderes que resultou do desfecho dessa guerra instalou-se no Ocidente a percepção de que as duas grandes alternativas económicas, os dois grandes sistemas antagónicos, eram, de um lado, saído da mundividência liberal, o capitalismo, do outro lado, saído da mundividência marxista, o socialismo. Mas essa oposição era na realidade um antagonismo secundário em relação àquele que, verdadeiramente, se deu durante a segunda guerra.

A verdadeira oposição

Esse antagonismo principal foi o que opôs uma concepção materialista (no sentido economicista do conceito) do homem, representada pelos campos liberais e marxistas, a uma concepção anti-materialista do homem, representada pelo campo “nacionalista”. Como a primeira concepção aniquilou a segunda durante a guerra, apenas as oposições que existiam no campo materialista passaram a ser tomadas em consideração.

Falsos inimigos

Mas o que definia em concreto esse antagonismo entre a concepção materialista e a concepção anti-materialista do homem? Como é que se pode juntar no mesmo campo o capitalismo e o socialismo, perguntarão…

Juntamo-los porque um e outro pensam a política e a organização da sociedade em função da produção, da economia, subjugando tudo o resto a esse imperativo que tudo explica e determina.

Porque as sociedades capitalistas/liberais quantificam o sucesso em função do que se possui, do que se consome, do que se pode comprar, da conta bancária. O “american-dream” é precisamente essa perspectiva de poder enriquecer através do mercado, a possibilidade de nada tendo adquirir muitos bens materiais, isso é o retrato do tão elogiado “self-made man”; não o homem que constrói gradualmente uma vida sem máculas éticas ou de carácter, mas antes o indivíduo que, se preciso através de procedimentos oportunistas e expedientes duvidosos, sai da pobreza para uma situação de abundância material.

Já o materialismo marxista está explicitamente assumido na sua doutrina teórica. Para além do pressuposto teórico de que as condições económicas determinam a história, o marxismo divide toda a sociedade em classes delimitadas pela economia. A desigualdade que o marxismo contesta é, antes de mais, uma desigualdade de dinheiro, do que se possui. O revolucionário marxista explora a inveja dos que querem ter o que outros têm e não conseguem, e se eles não conseguem então os outros também não deverão ter, essa é a raiz do igualitarismo marxista.

Enquanto que o liberal adora o livre jogo das forças económicas e do dinheiro porque mede por aí o sucesso, acredita que pode vir a possuir muito e define o seu bem-estar por essa posse quantitativa e material, o marxista odeia o livre jogo do capital e da economia porque acredita que daí surgem as desigualdades em seu desfavor que ele não suporta, ele avalia o seu próprio insucesso e a superioridade implícita do patrão e do rico em função do conforto material que o separa desta última classe.

Ora, como uns e outros avaliam o homem em função dos bens materiais e da economia as suas propostas de organização sócio-política derivam sempre de um pensamento económico, porque é a economia que lhes interessa primeiramente, é ela que determina a distribuição de bens e riqueza, e portanto define as hierarquias em que uns e outros pensam. Essa obsessão com o estudo das condições económicas faz com que ambos os lados tenham desenvolvido escolas de pensamento económico com soluções prontas a usar para todas as ocasiões, todos os tempos e todos os espaços.

A alternativa que não aceita a ditadura económica

Os “nacionalismos”, ao invés, fazem parte de um filão histórico totalmente diferente, um filão de correntes de pensamento que acreditam noutras hierarquias e prioridades que não as impostas pela economia. Correntes que não medem a capacidade ou a incapacidade dos homens pelo seu sucesso material nem, consequentemente, a grandeza das nações pela quantidade do PIB.

Enquanto que as duas primeiras concepções fazem uma avaliação essencialmente quantitativa do homem e do mundo, o filão de que fazem partes os “nacionalismos” faz uma avaliação primeiramente qualitativa da existência e da vida em comunidade. Por essa razão inverte a ordem dos materialismos e, em vez de direccionar a sociedade para o cumprimento de um determinado conjunto de objectivos económicos, coloca antes a economia ao serviço do cumprimento de uma ideia política de comunidade. Ou pelo menos controla a dinâmica económica para que esta não prejudique esse projecto de comunidade…

Não é por acaso que alguns politólogos modernos quando decidiram analisar o sucesso eleitoral do partido identitário flamengo Vlaams Belang faziam notar, em tom de crítica, o que para eles era uma fragilidade do programa do partido: o pouco espaço e aprofundamento da questão económica. Alguns pretenderam mesmo descobrir um ziguezague do partido observando que no início este tinha um programa económico mais socializante (na verdade solidarista) e que, depois, as ideias económicas se liberalizaram.

Ora na verdade não há ali nenhuma fragilidade nem ziguezague. Simplesmente, o Vlaams Belang, como faz parte da tradição que expusemos atrás, dava no seu programa maior prioridade à apresentação das suas ideias sobre a identidade do povo, a autonomia da comunidade, a defesa da família, a liberdade do homem, ou seja, a valores e princípios não materiais, do que a saber se deveria ser privatizada ou “estatizada” a produção disto ou daquilo. Nem tampouco há qualquer ziguezague representado pela evolução das opções económicas do partido, porque, ao contrário das mundividências materialistas que têm uma escola de pensamento económica mecanizada com uma cassete em permanente “play” sempre com as mesmas soluções (nuns privatizar para criar riqueza, noutros dar ao Estado para distribuir riqueza) os nacionalismos, como dão à economia um mero papel administrativo e funcional, não se prendem a dogmas próprios de autênticas religiosidades económicas e adaptam por isso as sua soluções às circunstâncias concretas existentes, uma vez que, aquilo que é do domínio administrativo e funcional, não define a essência de uma tradição, não lhe altera a natureza e não lhe marca a agenda ou o ritmo… pode apenas servi-la melhor ou pior num dado momento.

A economia não manda, serve… mas deve servir bem

Mas dizer que a economia não dita as leis significa “pô-la no seu devido lugar”, não significa descurá-la, porque a subsistência digna das pessoas depende da gestão da economia da comunidade.

Assim, o que se procura é apresentar um conjunto de pressupostos que enquadrem de forma teórica o pensamento económico dessa tradição anti-materialista. Pressupostos dentro dos quais estarão confinadas as medidas práticas que, em cada momento e dadas as diferentes circunstâncias existentes, constituirão o programa de propostas económicas concretas.

[Continua…]

Em Esparta manda a coragem, não o dinheiro

(quadro de Jean-Jacques-Francois Le Barbier, “La Magnanimite de Lycurgue”)

1- Vejamos ainda outros usos opostos aos do resto da Grécia que Licurgo estabeleceu em Esparta. Nos outros Estados, todos se enriquecem tanto quanto podem: um cultiva a terra, outro arma um navio, um terceiro faz comércio, os outros vivem de diferentes ofícios.

2- Em Esparta, Licurgo proibiu os homens livres de tocar em quaisquer assuntos de dinheiro; assegurar a liberdade do Estado, essa é, segundo ele, a única ocupação que devem considerar como sua.

3- E de facto, porque se procuraria a riqueza ali, onde o legislador, ordenando distribuir a mesma porção à mesa comum e viver do mesmo regime, fez as coisas de modo a que não se deseje a riqueza para levar uma vida luxuosa. Também não é pelas roupas que se deseja enriquecer; o adorno de um espartano não está no luxo das vestimentas mas na boa constituição do seu corpo.

4- Também não é para ter o que despender em favor dos seus comensais que é preciso acumular dinheiro, porque Licurgo estabeleceu que é mais glorioso servir os seus amigos com o trabalho das suas mãos do que esbanjando dinheiro. Ele fez ver que uma coisa é obra do coração, a outra, é obra da riqueza.

5- Quanto a enriquecer por vias injustas, ele impediu-o por medidas como estas: Logo à partida estabeleceu uma moeda tal que mesmo uma soma de dez faces entrando numa casa não escaparia à atenção nem dos mestres nem dos servidores: ocuparia um espaço enorme e seria preciso um carro para a transportar.

6- E depois, investiga-se à procura de ouro e dinheiro, e se se o encontra em algum lado, o detentor é multado. Por que razão correr-se-ia atrás da riqueza ali, onde a possessão de dinheiro causa mais aborrecimentos do que o prazer que pode dar o seu uso?

Retirado de: Xenofonte, Constituição de Esparta, capítulo VII

Que a coruja de Minerva levante voo!

«Recordemos as previsões do Kali-Yuga indiano relativas à idade de ferro, ou seja, aquela da decadência final:

Matar-se-ão as crianças no ventre das mulheres, os homens e as mulheres serão promíscuos, o herói e o guerreiro serão vexados e banidos, os reis serão ladrões e os ladrões tornar-se-ão reis.

Uma civilização, uma nação, um povo, uma raça, assemelham-se a uma árvore. As raízes são o fundamento biológico, isto é, o substrato genético, num sentido mais amplo, de onde tudo procede. O tronco é a cultura, o conjunto das manifestações étnicas de ordem mental e espiritual. A folhagem representa as manifestações exteriores da civilização, a economia, as técnicas, as artes, a potência material. Quando o tronco e a folhagem são feridos ou ficam doentes, a cura é possível enquanto as raízes forem sãs e puderem regenerar o conjunto. Mas se estas últimas forem atingidas pelo desmoronamento demográfico, pela mestiçagem, pela imigração alógena maciça, para além de um certo limiar, não se pode mais voltar atrás, a árvore cai, o povo de origem e tudo aquilo que criou petrificam-se para sempre na morte, dado que o código identitário desapareceu, foi parasitado e alterou-se.

Todavia, as possibilidades dos nossos povos feridos ainda existem, como a semente que mantém a vida no gelo e sob a neve, no frio invernal onde cresce a Edelweiss.

Temos a possibilidade de pertencer a uma civilização metamórfica, que sempre se soube regenerar após crises graves, como a Fénix, a ave que renasce das suas cinzas. Não é no crepúsculo, quando tudo parece perdido, que levanta voo a coruja de Minerva?

É a partir deste momento que é necessário preparar o Renascimento e imaginar o mundo vindouro. Na História, são as minorias activas que vencem.

No seio da mentalidade dos povos de origem europeia, reside essa ideia fundamental de destino, o Fatum dos romanos e a Moïra dos gregos. O destino é aberto e imprevisível. Nada está escrito. O rio da História pode voltar o seu curso. Nenhum Deus pode fazer dobrar Prometeus.

No início do seu Fausto, Goethe escreveu: “Ao início era a acção”, invertendo assim o provérbio bíblico “ao início era o verbo”. Penso em boa verdade que ao início estão ao mesmo tempo o verbo e a acção. É necessário falar e escrever para ensinar e convencer, e agir para fazer avançar as coisas.

Porque combatemos? Não tanto para nós mas pela herança dos antepassados e pelo futuro das nossas crianças.

Da Resistência à Reconquista, e da Reconquista à Revolução. Renascença e Revolução não são, mais ou menos, sinónimos?»

De uma conferência de Guillaume Faye na Alemanha em 2006. Via Arquivo Guillaume Faye

República ou Monarquia?

De cada vez que se aproxima a celebração da implantação da república dividem-se as opiniões entre os defensores desta e os da Monarquia que a antecedeu. Para mim, francamente, é assunto de importância muito relativa, porque me importa menos a forma do regime do que o seu conteúdo valorativo. Não é saber se deve vingar a forma republicana ou a forma monárquica mas que república ou que monarquia se pretende. Se olharmos hoje para o Ocidente encontraremos vários casos de repúblicas e monarquias, mas a verdade é que, no essencial, nada distingue umas de outras. Porque os valores que sustentam essas repúblicas são os mesmos que sustentam aquelas monarquias. De resto, quando as revoluções republicanas se impuseram a maioria das monarquias estavam já numa fase de acentuada degradação, eram regimes de privilegiados com títulos nobiliárquicos obtidos à nascença, sem qualquer necessidade de provarem méritos e sem verdadeiro ethos aristocrático. A república não veio fazer mais do que substituir o que já estava podre. Voltar a implantar a monarquia para quê? Para, em vez de um presidente, ter um rei e uma corte de crentes no dogma do humanitarismo, do igualitarismo e da globalização? Como os que hoje existem no Ocidente? Dispensam-se falsas questões…

Salazar e os anõezinhos

Há uns dias ouvi na televisão o professor Silva Lopes, insuspeito de simpatias “fascistas”, constatar resignado que Portugal apenas tinha conseguido ordem e rigor nas finanças públicas fora do regime democrático.

Fez-me lembrar Medina Carreira, há pouco tempo, no programa Plano Inclinado, comparando Salazar com os políticos de Abril, e elogiando a honestidade do primeiro, lembrando que até a conta da luz Salazar pagava do seu ordenado. A convidada desse dia, Filomena Mónica, insurgiu-se agitadamente com o elogio, protestando que a honestidade de Salazar era a única coisa boa que lhe reconhecia, já que, aliás, ele nem era um democrata.

A honestidade e a rectidão de Salazar, que viveu e morreu sem posses ou fortuna, não são coisa de pouca monta. Sobretudo quando comparadas com o oportunismo, a corrupção e o nepotismo que caracteriza a classe política democrática e endinheirada saída da “revolução abrilista”.

Mas não é apenas isso, como reconheceu contrariado Silva Lopes: Salazar foi também o único homem, na história mais recente da nação, que conseguiu equilibrar as finanças públicas, impor rigor na gestão do dinheiro do Estado. E isso, por mais ruído de fundo que exista, é um facto!

Para além disso, como reconhecia há pouco tempo a agência financeira internacional Bloomberg, Salazar foi também o mais brilhante investidor português:

«Elogio ou não, Salazar recebe o título de “melhor investidor sem ganhos”, já que foi o responsável pela aquisição de 695 toneladas de ouro em 24 anos. E tudo com receitas de exportações como volfrâmio e atum enlatado.

Como o ouro valorizou 26% no ano passado e este é o décimo ano de valorizações consecutivas, a decisão do antigo ditador deixa o país com um activo cada vez mais valioso, diz a Bloomberg. Mas também um de que não pôde beneficiar nas situações de maior aperto por que já passou.

João Lima da Bloomberg explica assim, que Salazar poderia ser lembrado como “o melhor investidor português”, se as regras do Banco de Portugal (BdP) “permitissem ao país beneficiar do seu negócio mais astuto: A maior reserva de ouro da Europa”, face à dimensão da sua economia.»

Ao contrário do que dizia irritada Filomena Mónica, Salazar não foi “apenas” (e este “apenas” tem muito que se lhe diga…) mais honesto que os democratas, foi também mais competente a gerir a economia e o Estado. As constatações envergonhas dos méritos de Salazar que se começam a generalizar, pelo menos nas mentes mais sérias e livres, são apenas a ponta de um fio mais longo que a história acabará por desvelar.

Como se isso não bastasse, o antigo líder do Estado Novo continua a gozar de enorme popularidade entre o povo.

Não foi por acaso que numa votação aberta a todos os portugueses a maioria votou em Salazar como o maior português de sempre, e Salazar não tinha, ao contrário de outros nomes, um aparelho partidário a organizar votações em seu nome (como o PCP fez com o infame Cunhal). Foi o homem “despartidarizado” que reconheceu a estatura de Salazar e deu um estalo de luva branca nas faces coradas de vergonha de toda uma classe política medíocre que destruiu Portugal em poucas décadas e que gosta de apresentar publicamente as suas credenciais antifascistas enquanto serve os seus interesses particulares em privado.

Esse contraste de capacidades e éticas tornou-se demasiado evidente numa altura em que, estando o país sob o governo socialista de José Sócrates, toda a classe política democrática reconhece implícita ou explicitamente que Portugal está em risco de falência.

Por enquanto é a mesma teia de interesses que nasceu da revolução de Abril que continua a tomar conta do Estado e da informação jornalística, depois seguir-se-ão as gerações que foram mais directamente educadas por essa horda de mentirosos e propagandistas, mas à medida que, afortunadamente e com o passar das décadas, essa corja e os seus papagaios for desaparecendo da face da terra, o mesmo sucederá à sua historiografia inventada… a História libertar-se-á da sua opressora propaganda e reconhecer-se-á a evidente diferença de grandeza entre Salazar e os seus inimigos, tão evidente como um gigante que permanece de pé junto de uma massa de anõezinhos saltitantes…e talvez já não falte assim tanto tempo. Reconhecimentos públicos, ainda que tímidos e esporádicos, como os de Silva Lopes ou Medina Carreira, são apenas os primeiros sinais da libertação da verdade histórica.