Month: Maio, 2009

Não à Europa maçónica!

null

«A carta com data de 29 de Outubro de 1979 do secretário-geral do Conselho da Europa Franz Karasek dirigida a António Garcia Borrajo, Grande Orador do Grande Oriente Espanhol, na sua parte mais essencial destaca: A vossa organização [a maçonaria] colaborou sempre de uma maneira activa nos trabalhos do Conselho da Europa […] e tomámos nota das recomendações adoptadas pelo seu comité. (…)»

Jorge Blaschke e Santiago Rio, A verdadeira história da maçonaria, QuidNovi , pp 227-228

«A Europa não é um tratado, não é uma constituição. É necessário, sem dúvida. Não é um Continente. A Europa não é um fim em si. A Europa é uma ideia. A Europa é uma etapa.

É antes de tudo uma etapa, uma etapa em direcção a um outro mundo, em direcção ao nosso mundo. Em direcção a vós que vindes de África. A vós que vindes da Ásia. A vós que vindes dos Estados-Unidos. A vós que vindes da América Latina. A Europa está aberta ao mundo. A Europa não pode estar fechada. A Europa é o primeiro passo em direcção a um mundo sem fronteiras. A Europa é o primeiro passo em direcção a um mundo do Universal.(…)

Mas a Europa é também e sobretudo uma ideia.(…)

Então juntemo-nos!

Juntemo-nos, juntemos as forças humanistas de todo o mundo para vencer. Para que os nossos ideais se tornem num verdadeiro combate e para que esse combate possa ser vitorioso, juntemos as nossas forças.»

Jean-Michel Quillardet, à época Grão-mestre do Grande Oriente de França, no seu discurso de encerramento da reunião maçónica internacional de Estrasburgo a 2 e 3 de Junho de 2007

O papel decisivo da maçonaria na edificação da U.E. é um facto bem conhecido e, ao longo dos tempos, assumido pelos próprios maçons, de forma mais ou menos explícita. Também disso (mas não só…) resulta a explicação para as ideias que têm norteado todo o actual processo de construção económico-político da Europa.

Sou contra a U.E. mas não sou um anti-europeísta, ou seja, acredito na validade de uma construção política europeia, mas assente em pressupostos antagónicos àqueles que servem de base a esta União.

A minha oposição ao Tratado sobre a União Europeia partiu, antes de qualquer outra razão, de uma renúncia de princípio àquilo que no referido texto pretendia definir a Europa. Nas centenas de páginas do tratado não há uma única referência à identidade concreta e física da Europa, não encontramos uma forma perene de distinguir a Europa de qualquer outra parte do mundo. Pelo contrário, aquilo que ali pretende caracterizar os europeus, logo a partir do preâmbulo, é a adesão a um conjunto de princípios ideológicos universalistas e humanistas. Assim, não é europeu o homem ou mulher que descende e nasce no seio de um povo europeu, mas os membros de toda a humanidade que adiram à doutrina política liberal de quem ergueu a União Europeia.

Quando o Grão-mestre maçom Quillardet afirma, no final da reunião internacional da maçonaria, que a Europa não é um Continente, nem um fim, mas, pelo contrário, é uma “ideia” e uma etapa, uma transição portanto, aberta a todos os povos do mundo, expõe claramente a forma como esta U.E. é um instrumento na construção da República Universal maçónica. E isso é mais um dos dados que ajudam a explicar a razão pela qual os povos europeus vão perdendo gradualmente a sua identidade submergidos por milhões de imigrantes de todo o mundo sem que haja a menor vontade política de inverter tendências, bem como a razão pela qual a U.E. pretende abrir-se à Turquia ou aos países do Magrebe, que não fazem parte do seu bloco geográfico-cultural.

É contra isto que nos batemos, a nossa Europa não é uma “ideia” nem uma etapa rumo a outros fins pouco confessáveis, é a nossa “pátria maior”, aquela que une e complementa todas as nações do Continente.

A Europa que queremos é um fim em si mesmo, onde os europeus não o são pelas ideias que têm (mesmo se não forem as da república universal-humanista) e que está delimitada pelas suas características identitárias: é o espaço dos povos caucasóides que se situam na área geográfica delimitada a ocidente por Portugal, a oriente e a norte pela Rússia e a sul pela Grécia.

A escolha do Trágico

null

«O desenvolvimento da Pessoa

Se um “ser humano” procura apenas o prazer e a felicidade na sua vida, se o objectivo é viver placidamente logrando satisfazer ao máximo as necessidades físicas e psicológicas, nesse caso de pouco lhe pode servir continuar a ler estas linhas. A visão “utilista” do homem, visto como “máquina económica” (inclusive considerando a palavra “económica” não só no sentido monetário mas no sentido de satisfação de necessidades), que pretende conseguir os meios para viver feliz, reproduzir-se e obter prazer, está num caminho absolutamente diferente do nosso.

O mundo como Representação, diria Schopenhauer, é o mundo da aparência, do superficial e material, que tem como cúspide a ciência, o mais perfeito conhecimento do Representativo. Mas atrás do conhecimento esconde-se a Utilidade, primeiro degrau inevitável em direcção ao inferior, em plena representação ilusória da realidade, para cair, por fim, na Felicidade e no Prazer como únicos fins capazes de se alcançar nesse caminho do aparente.

Quando se pergunta a alguém qual o seu objectivo na vida, são cada vez mais os que respondem “ser felizes”, e a essência dessa “felicidade” é a ausência de dor, o cumprimento das necessidades (as “utilidades”) e a Posse de elementos representativos, materiais, capazes de dar esse prazer. E em todos os casos satisfazer necessidades psicológicas como segurança e auto-estima, sem nenhuma referência a cumprir algum Dever ou melhorar a sua qualidade humana.

Frente a esse caminho centrado no material, há outra forma de entender o desenvolvimento pessoal, o que Schopenhauer chamou a “Vontade”, que implica a compreensão da dimensão perecedoura de tudo o que é Representativo e pretender uma acção transcendente, algo que nos eleve sobre o humano. É a luta como caminho heróico, não egoísta nem útil.

Quando um ser humano aceita que a sua vida tem como objectivo a sua elevação a Pessoa, acto nunca acabado, uma luta permanente entre as tendências para o Prazer do superficial e a Vontade de sobrehumanidade, é nesse momento que se necessita de Wagner. Herói não é quem comete actos extraordinários mas quem vive a própria vida como um acto contrário ao egoísmo utilista. O acto heróico é um desafio da Vontade à Utilidade, e é sempre um acto Trágico.

O Sentimento e a Arte formam esse caminho para a essência real interior, frente às aparências dos feitos materiais. Assim, podemos assumir na nossa vida um objectivo “normal”, “representativo”, ou pretender assumir a construção da Pessoa, o caminho heróico contra o “possuir” e o prazer material, e de alguma forma, nesse caso, assumir a Tragédia como essência da vida superior. Para quem recorde “Siegfried”, Fafner “possui” o Ouro, e essa posse “fá-lo feliz”, dorme e descansa porque “tem tudo” na sua posse do material. Essa é a felicidade “humana” de quem não procura ser “pessoa”.

A Tragédia como essência da Pessoa

O “heróico” não é o mero acto singular de valor mas antes assumir a vida como um acto Trágico. De certa forma o debate é entre o Vulgar e o Trágico, entre a Utilidade e o Heróico, entre Representação e Vontade. Uma pessoa tem a possibilidade de orientar a sua vida para o “útil”, ou seja esforçar-se por cumprir as suas necessidades e desejos. O Sentido Trágico da Vida consiste em superar essa tentação e orientar a vida contra o egoísmo, na seriedade e na superação. E este caminho é uma Tragédia em si mesmo.

Não há que entender o “Trágico” como triste ou pessimista, significação saída precisamente da visão utilista da vida. Para o utilismo tudo o que é heróico é doloroso, implica uma renúncia ao prazer imediato do material, de alguma forma é “triste e pessimista”. Em parte o “Trágico” significa sempre Dor, renúncia ao prazer que dá a Posse e cumprimento dos egoísmos. Mas não significa tristeza, de todo.

Calderón escreve jocosamente:” Bem-aventurado o que vive enganado”, que é a expressão máxima da Representação, da “utilidade”. Quem assume a essência e não se deixa enganar pela representação superficial, aparente, da vida, está condenado a não ser “feliz”, a sofrer, pois a felicidade do “vulgar” baseia-se fundamentalmente em viver “enganado”(no “dormir” da Posse de Fafner), em não aprofundar, em enganar a essência da pessoa com argumentos de utilidade superficial. Uma vez dizia-me um amigo “se a minha mulher me enganar não quero saber, pois assim não terei sofrimento”. Ou dito mais duramente: se não conheço o “trágico” poderei desfrutar do “cómico”. Se bloqueio a minha sensibilidade profunda poderei desfrutar das alegres aparências dos bens, dos prazeres instantâneos que dá a Posse face à tragédia que dá o Sentimento. Possuir dá um instante de prazer, sentir permite uma essência superior, mas ao mesmo tempo abre a consciência ao sofrimento, ao trágico. Prazer frente a Dever, o Cómico frente ao Trágico.

Unamuno escreveu “O Sentido Trágico da Vida”, um livro para expressar este caminho, “a vida é tragédia e a tragédia é luta perpétua, sem vitória nem esperança dela”. De certa forma a morte marca o fim do trágico…”a vida é tragédia” mas a morte é a confirmação do valor da Tragédia face ao Cómico. Se não aproveitamos esse esplendor de vida entre dois vazios, se não temos Vontade de Poder nesse segundo de vida pessoal, o significado dessa vida é jocoso, é Cómico, somos nada e vamos para o nada. Só o sentido Trágico, o esforço para ser sobre-homens, pode dar sentido a esse instante de vida. Dar-lhe sentido pelo prazer e a utilidade do representativo é rebaixar a nossa qualidade humana.

Para Schopenhauer o sentido trágico resume-se na renúncia, no eliminar dos desejos egoístas. Para Nietzsche na Vontade de Poder, em superar-se através da Vontade. O egoísmo, para Nietzsche, não é impor a vontade própria mas orientar essa vontade para o baixo e o miserável em vez de para a potência e a superação. Para a religião a Tragédia é a Compaixão pela dor do mundo. Cada um trata de procurar uma solução para a sua tragédia pessoal. É neste sentido que a Tragédia é a essência pura da Arte, é a forma extrema de fazer surgir os sentimentos mais profundos e menos egoístas, menos úteis.

E a Política, não a “política” miserável do imediato, deve ser um acto Heróico para dar a todos a possibilidade da Arte do Trágico. Ou seja, estabelecer as condições materiais e sociais que permitam a cada homem da comunidade poder desenvolver, se o quiser, a sua personalidade e rebelar-se contra o domínio do seu prazer material, despertar o seu Sentimento face ao seu desejo de Posse, alcançar pela arte a sobrehumanidade.

No Trágico narram-se os desafios da Vontade sobre o devir dos homens. Na Tragédia o herói levanta-se e observa a Vontade que o insulta e persegue, está inclusive disposto a renunciar à vontade de viver pela sua Honra (a sua Vontade de superação). Com ele o herói não só redime as suas culpas individuais mas combate o rebaixamento vulgar da humanidade, mostra-nos o caminho da redenção.»

Ramón Bau, El wagnerismo como concepción del mundo

Os libertadores

null

«(…)O livro de Robert Lilly, “Taken by Force”, foi primeiramente publicado em França em 2003, depois em Itália em 2004, mas não conseguiu, inicialmente, encontrar um editor norte-americano ou inglês. Um editor americano explicou a Lilly, professor de sociologia na Universidade do Kentucky do Norte, que “não tocaria nesse livro nem à distância”, já que o tema estava relacionado com as estimadas 14.000 violações cometidas por soldados americanos em Inglaterra, França e Alemanha, entre 1942 e 1945.

(…) o público americano não queria que lhe dissessem que os seus pais, tios e irmãos que haviam lutado na segunda guerra mundial – aquele bando de irmãos, como o historiador Stephen Ambrose os baptizou, e cujo estatuto de “melhor geração de sempre” fora cimentando por “O resgate do soldado Ryan” de Steven Spielberg – tinham, na realidade, estado envolvidos nalguns dos piores crimes perpetrados no continente europeu, incluindo negócios ilegais, roubo à mão-armada, pilhagens, violações e homicídios.(…)»

Recensão do “The Guardian”

Só os que conseguem lutar podem escolher

null

«A violência não resolve tudo, não é forçosamente desejável mas não é igualmente negligenciável. A violência física também é um grande teste. A coragem não é uma questão de tamanho. A escolha da não violência é frequentemente a escolha de um cobarde: só aquele que não tem medo, ou que pelo menos consegue conter o seu medo de se bater, pode verdadeiramente fazer a escolha da não violência.»

Via Zentropa

O homem de Direita

null

«Tenho de precisar que, em minha opinião, a dicotomia política e ideológica direita-esquerda perde hoje muita da sua força por causa do início do declínio da ideologia iluminista que a originou. Ainda assim, sobretudo em França, país superpolitizado, essa dicotomia continua a desempenhar o seu papel de distinção entre as mentalidades profundas. Alain de Benoist pensa que “não existe um critério conceptual que possa servir de denominador comum” à direita. Eu não penso assim. Acredito que existe, desde o iluminismo, uma tipologia mental de direita que se define pela recusa da “tábua rasa”. Qualquer pensamento de direita provém do sentimento de que os homens existem, antes de tudo, enquanto portadores de uma herança colectiva específica. Ideia refutada pela esquerda, para a qual cada homem é em si um início, um sujeito autónomo que não deve nada às suas raízes, a uma herança, a uma cultura, a uma História. No máximo reconhece um condicionamento social do qual é seu dever libertar-se. Libertação é a palavra-chave da esquerda assim como Herança (ou raízes) é a palavra-chave da direita. Isto implica, incidentalmente, que pessoas de esquerda virem à direita (sabendo-o ou nem tanto) quando ganham consciência das suas raízes.»

Dominique Venner em debate com Alain de Benoist sobre a “Direita”

O vírus da decadência

null

«Este teatro que pretendia dar-se ares de arrebatado é na realidade um teatro raso. Uma intriga melodramática e geralmente banal conduz, após alguns desvios, a uma peripécia sumária e brutal. Tudo ali é judeu, horrorosamente judeu, desde a intenção social anárquica quanto aos costumes, conservadora quanto à bolsa, desde a falsa sátira inspirada nos piores clichés da velha avenida, até ao exibicionismo moral – os personagens apenas falam de si próprios e com a imodéstia de macacos –, até à fealdade do diálogo que interrompe aqui e ali ora uma expressão mal utilizada ora uma metáfora de pacotilha. Os homens exprimem-se como tratantes e comportam-se como animais. Retêm do cão os actos e do criado os comentários. As mulheres são criaturas melancólicas, permanentemente debruçadas sobre o seu espelho, o seu próprio carácter ou o seu porta-moedas. Elas não têm nem coração, nem tacto, nem discrição, nem delicadeza…

Este teatro aspira a uma destruição universal que apenas o pouparia a si e aos da sua raça. A palavra de ordem deste teatro é “sujar”. Todos os sentimentos são tornados vis, todas as intenções declaradas ou escondidas são ignóbeis. Um só poder é respeitado, mesmo quando é mal falado e insultado, sempre com uma admiração secreta: o do dinheiro.»

Léon Daudet citado por Lucien Rebatet em “Les tribus du cinéma et du théâtre”

O imperativo racial

null

«(…)O fundo genético, base da identidade

A existência das raças é um facto. Relembremos o essencial da questão racial, como ela se apresenta de forma geral:

1- A espécie humana está dividida em 5 grandes raças: a raça branca (caucasóide), a raça amarela (mongolóide), a raça negra (negróide) e mais duas que é preciso distinguir da precedente, a raça capóide (os bosquímanos, no sul de África) e a australóide (na Oceânia e sul da Ásia). Estas cinco raças estão separadas desde há pelo menos um milhão de anos, segundo a teoria policêntrica (enunciada, com variantes, por Weidenreich, Coon e Wolpoff).

2- As sociedades são sistemas bio-culturais, de modo que o fundo genético dos povos, e portanto, em particular, a raça dos homens que as compõem, é a base da sua identidade (ver, a este respeito, o livro do Club de l’Horloge, “La politique du vivant”).

3- Se homens de uma outra raça chegam massivamente ao território de um povo, as consequências são sempre dramáticas. Primeira hipótese: os imigrantes são absorvidos por mestiçagem: o povo de acolhimento cai então em decadência e perde a sua identidade. Segunda hipótese: Os imigrantes não se misturam com os autóctones (que no caso somos nós…) e os antagonismos raciais desenvolvem-se inelutavelmente no seio dessa sociedade multi-comunitária. Terceira hipótese: uma parte dos imigrantes mistura-se com os autóctones, que vão perdendo pouco a pouco a sua identidade juntamente com a sua homogeneidade, e uma outra parte dos imigrantes forma uma ou várias comunidades separadas e hostis.

A inversão dos fluxos migratórios

Este último cenário, que acumula inconvenientes, é o que se desenha na França (NdT: e em toda a Europa). Para salvar a nossa pátria é necessário empenharmo-nos na substituição dos actuais dirigentes políticos, indignos das responsabilidades que exercem. A etapa seguinte consistirá em inverter os fluxos migratórios para que a proporção de negros diminua no nosso país. Relembremos as palavras do general de Gaulle: “Somos antes de tudo um povo europeu, de raça branca, de cultura greco-latina e religião cristã”»

Do editorial de Maio de 2009 de Henri de Lesquen, presidente da “Voix des Français-Renaissance 95”

Sobre o Fahrenheit 451 de Ray Bradbury

null

«(…)Bradbury ainda tem muito para dizer, especialmente sobre a forma como as pessoas não entendem o seu trabalho mais literário, Fahrenheit 451, publicado em 1953. Muito ensinado nas escolas é também para muitos estudantes a primeira vez que conhecem os nomes de Aristóteles, Dickens e Tolstoi.

Agora Bradbury decidiu falar sobre a sua iconográfica obra e o seu real significado. Fahrenheit 451 não é, diz com firmeza, uma história sobre censura governamental. Nem era uma resposta ao Senador Joseph McCarthy, cujas investigações haviam instigado o medo e paralisado a criatividade de milhares.

Isto apesar do que foi escrito em sentido contrário, ao longo das décadas, em recensões, críticas e ensaios. Até o biógrafo autorizado de Bradbury, Sam Weller, em The Bradbury Chronicles, se refere a Fahrenheit 451 como um livro sobre a censura.

Bradbury, um homem a viver numa cidade que é o centro criativo e industrial dos “reality shows” e das “telenovelas”, diz que é, na realidade, uma história sobre a forma como a televisão destrói o interesse na literatura.

“A televisão dá-nos as datas sobre Napoleão, mas não nos diz quem ele era”, diz Bradbury, resumindo os conteúdos televisivos com uma única palavra que cospe como um epíteto: “factóides”. Diz isto sentado numa sala dominada por uma gigantesca televisão de ecrã plano que transmite a Fox News, sem som, com os factóides a passarem em rodapé.

O seu medo, em 1953, de que a televisão matasse os livros foi, diz-nos, parcialmente confirmado pelo efeito da televisão sobre a substância das notícias. A capa do L.A. Times do dia parece dar-lhe razão e fala sobre as receitas de fim-de-semana do terceiro filme da série do homem-aranha.

“Inútil”, diz Bradbury, “alimentam-nos com tanta informação inútil, que nos sentimos cheios”. Fica eriçado quando outros lhe dizem o que as suas histórias significam, e uma vez abandonou uma aula na Universidade da Califórnia onde os estudantes insistiram que o seu livro era sobre censura governamental. (…)

Desde 1951 que Bradbury pressagiava os seus receios, numa carta sobre os perigos da rádio, dirigida ao autor de fantasia e ficção-científica, Richard Matheson, escrevia:” A rádio contribuiu para a nossa crescente falta de concentração. Esta espécie de existência ao pé-coxinho torna quase impossível que as pessoas, incluindo eu, se voltem a sentar e a entrar num livro. Tornámo-nos um povo de leituras rápidas, ou, pior que isso, tornámo-nos leitores rápidos.”

Diz que o acusado em Fahrenheit 451 não é o Estado – é o povo. Ao contrário do 1984 de Orwell, no qual o governo usa os ecrãs de televisão para doutrinar os cidadãos, Bradbury anteviu a televisão como um ópio. No livro, as televisões ocupam paredes inteiras e os seus actores são chamados “família”, uma verdade evidente para qualquer um que tenha lido um fórum sobre séries televisivas onde os fãs se referem às personagens pelo primeiro nome, como se fossem familiares ou amigos.

A história do livro centra-se sobre Guy Montag, um bombeiro da Califórnia que começa a questionar a razão pela qual queima livros como forma de vida. Montag acaba por rejeitar a sua cultura autoritária e junta-se a uma comunidade de indivíduos que memorizam livros inteiros para que não caiam no esquecimento, até que a sociedade esteja, novamente, disposta a ler.

Bradbury imaginou uma sociedade democrática cuja população diversa se volta contra os livros: os brancos e os negros rejeitando os livros que lhes causam desconforto. Ele não anteviu apenas o politicamente correcto, mas uma sociedade com tanta diversidade que todos os grupos passariam a ser “minorias”. Escreveu que ao início condensariam as obras, extirpando mais e mais passagens ofensivas até que, por fim, tudo o que restaria seriam notas de rodapé, que dificilmente alguém lia. Apenas depois das pessoas terem deixado de ler é que o Estado empregaria os bombeiros para queimarem os livros. (…)»

Ray Bradbury: Fahrenheit 451 Misinterpreted

Política de Educação

ci copy

Eterno Feminino

null

Não quer nada comigo, uma vez que aceita sem pesar ver-me sair da sua vida, mas deseja perder-me com as honras de guerra. Não convém que a mulher deixe de ver em si um herói. Receia ser despoetizado, pobre anjinho! Pois bem, fique sabendo que o verdadeiro herói é aquele que dá felicidade. E se alguma coisa me poderia causar repugnância não seria o «acto carnal» consigo, seria a sua cobardia em esquivar-se a ele. A sua miserável confissão fez, pela primeira vez, vacilar a admiração que lhe dedico. Sim, a sua ridícula amizade só me merece compaixão e desprezo, visto ser tão frouxa que não assimila a carne e lhe receia os fermentos. E é você o deus fecundador! Invejam-no e, no entanto, leva uma existência vergonhosa. Sim, não sabia? Oh, todos esses homens «superiores»! Esses impotentes! Esses parasitas! Mereciam que os homens vulgares, os rapazes valentes, de mãos calosas, lhes cortassem a cabeça – é outra coisa de que se não sabem servir para fazer felizes aquelas que precisam mais da felicidade do que da vida. Ah! Por que não me possuiu, ainda que fosse só para me humilhar? Podia curar-me de um amor que me mata e não o fez! Deve-se sofrer nobremente, hem? Deve-se ser sublime. O cavalheiro é forte no sacrifício – no sacrifício dos outros, evidentemente.«Seja como for, conserva-me a sua amizade, não é verdade?» Por outras palavras: «Poderia, com um simples gesto sem consequências para mim, dar-lhe a felicidade. Mas não quero. No entanto, desejo que permaneça na minha vida, mas apenas o necessário para me ser agradável, sem me aborrecer nem complicar a existência. Não gosto da sua cara, nem do seu corpo, nem da sua presença; pode dar essa parte grosseira de si mesma a quem quiser. Mas reserve-me sempre, peço-lhe, querida Menina, a sua parte etérea. Sem falar (por memória) do direito de a fazer sofrer.» Pois bem, estou farta do heroísmo. Você curou-me do heroísmo. Para sempre.

Sonhara que um homem me dominava, me arrebatava numa tempestade. Escolhera um conquistador, um príncipe radioso, um homem dez vezes mais másculo, mais inteligente, mais senhor de si, mais prestigioso do que os outros; o homem que fora capza de responder a certo jornalista católico que lhe censurava ter abusado do prazer: «Que mal há nisso? Fiz gozar a criação!» Queria dar-lhe o meu espírito, a minha juventude, o meu corpo virgem, a minha boca que nunca foi beijada. Seria feliz em lhe obedecer. Estava pronta a imolar-lhe fosse o que fosse, a minha vida, até mesmo a minha honra. Pois ofereci-lhe tudo isto e ele não o quis! Previra e aceitara tudo: durante, a perda da minha paz íntima, depois, o abandono súbito, a sua infidelidade, o seu esquecimento, o meu desespero e a minha reputação perdida. Previra tudo, excepto que a minha oferenda fosse repelida. Previra tudo para depois, só não previra que não haveria depois. Queria o seu abraço e encontrei apenas a sua «gentileza» e a sua piedade. Ou um velhote protector e paternal, ou um rapazola caprichoso e turbulento. Perfilhava a psicologia dos simples, talvez dos humildes, que julgam ser inevitável o desejo entre um homem e uma mulher jovens e normais, que se amam com prazer. Esquecera-me dos requintes da «alta burguesia» e do «escol intelectual». Sabe que mais? Tornou-me comunista.

Henri de Montherlant, Noivas de Ninguém, Publicações Europa-América, 1974, pp.126-128