Month: Março, 2010

O tempo dos mediagogos

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Não houve surpresa e Pedro Passos Coelho tornou-se líder do PSD. Isso basta para que o país se arrisque a tê-lo como primeiro-ministro. É um triste cenário que se perspectiva, tão triste quanto aquele que José Sócrates deixará como legado.

Acima de tudo a ascensão de Passos Coelho reflecte a entrada numa nova idade da democracia portuguesa, do tempo dos demagogos chegamos ao tempo dos mediagogos, aquele grupo de indivíduos que valem sobretudo pela sua imagem mediática, pela sua empatia com as câmaras de televisão, vazios de ideias, ao sabor das vagas que permitem chegar ao poder, dizem o que for preciso e politicamente vantajoso. É o triunfo das aparências sobre as essências. Numa era em que a política é feita de futilidades, slogans publicitários e assessores de imagem, valem mais os sorrisos cinematográficos, o à vontade perante as câmaras e os bons fatos e gravatas do que as convicções inabaláveis e os méritos profissionais extra-políticos.

Passos Coelho é a mesma coisa que José Sócrates, um e outro nunca provaram nada na vida fora do colo do respectivo partido, mas parece que tanto o primeiro como o segundo se dão bem com as câmaras… só muda a sigla da bandeira, mas como, por detrás das cores de PS e PSD, se escondem, na verdade, os mesmos interesses, restam as ilusões para quem as não conseguir desmontar.

A verdadeira profissão de Passos Coelho é o “jotismo”. O “jotismo” é uma actividade que a democracia foi disseminando crescentemente ao longo dos anos. O “jota” é geralmente aquele indivíduo que passa toda a sua juventude (juventude que, no caso destes especímenes se costuma prolongar até aos trintas e muitos, altura em que os outros já são homens) num partido, ao seu serviço e a servir-se dele: trabalha para o partido e beneficia pessoal e profissionalmente do partido mais do que dos seus méritos. Passos Coelho acabou um curso de economia às três pancadas numa faculdade privada quando tinha 36 anos (faz sentido, para o jota, ao contrário do homem comum, os 36 anos devem marcar o fim da juventude…) e mesmo assim, sem qualquer curriculum que o justificasse, conseguiu em “meia-dúzia” de anos ser colocado pelos amigos do partido a dar aulas numa outra instituição privada e nos mais altos cargos das empresas de um grupo (Fomentinvest) dominado pelos seus confrades social-democratas. Ninguém com o curriculum deste Passos Coelho teria uma trajectória profissional destas se não tivesse sido um importante “jota”.

Estes indivíduos que fazem carreira nos partidos são parasitas sociais que não criam qualquer mais-valia para o país mas que lhe sugam recursos, tachistas hiper-remunerados que minam as organizações para as quais entram, geralmente para cargos de chefia, passando por cima (e para cima) daqueles cujo mérito não é um cartão de filiação política mas o seu esforço e capacidade.

A verdade é que a degradação do nível intelectual e dos méritos profissionais e virtudes éticas dos dirigentes políticos democráticos tem vindo a acentuar-se notoriamente. Hoje, olhando para os principais partidos, não encontramos os melhores da nação, mas os mais oportunistas da nação, o pior que ela cria.

A degradação societária está também relacionada com o aumento dos profissionais de partido, gente que nunca fez nada de relevante na vida para além de estar inscrita e pagar quotas para a agência de emprego partidária: empestam as câmaras municipais, enchem e rebaixam o parlamento, corrompem as empresas onde são metidos pelos seus correligionários, etc.

O problema da nossa democracia não é o partido X ou o partido Y, é a própria existência dos partidos nos moldes actuais e o seu poder económico-social. É, pois, um problema de funcionamento do regime que não pode ser resolvido sem se acabar com o peso dos partidos na vida social e empresarial da nação, sem se combater os “profissionais de partido”, sem alterações às regras da própria democracia, porque a “democracia representativa” como hoje existe é um grande factor de podridão e destruição da nação.

Passos Coelho será apenas o próximo actor desta farsa.

A religiosidade arcangélica

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«Para Hans Werner Schroeder, os arcanjos, legado da tradição persa na Europa medieval, insuflam as forças cósmicas originais nas acções dos homens justos e rectos e protegem os povos contra o declínio das suas forças vivas. O arcanjo de vastas asas estendidas e protectoras, que encontramos nas mitologias avésticas e medievais-cristãs, indica o caminho, sinaliza, convida a segui-lo na sua marcha ou no seu voo sempre ascendente em direcção à luz das luzes: a força arcangélica e miguelina, afirma Emil Bock, induz uma dinâmica permanente, uma tensão perpétua em direcção à luz, ao sublime, à superação. Não se contenta nunca com o que já existe, com o que está conseguido, com o que foi acabado e encerrado; ela incita a mergulhar no porvir, a inovar, a avançar em todos os domínios, a forjar formas novas, a combater sem descanso por causas que devem ainda ser ganhas. No culto de São Miguel, o arcanjo não oferece nada aos homens que o seguem, nem vantagens materiais nem recompensas morais. O arcanjo não é consolador. Ele não está lá para evitar problemas e dificuldades. Ele não ama o conforto dos homens, porque ele sabe que com aqueles que estão mergulhados na opulência não podemos fazer nada de grande nem de luminoso.

A religião mais antiga dos povos europeus é pois esta religião de luz, de glória, de dinâmica e de esforço sobre si próprio. Ela nasceu no seio dos clãs europeus que tinham penetrado mais profundamente no coração do continente asiático (…)»

Robert Steuckers, “sur l’identité européenne”

À procura de um Socialismo Tradicionalista ou um Conservadorismo Vermelho

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«Será assim tão óbvio que possibilitar que crianças nasçam em famílias sem pai seja progressista, ou até liberal ou feminista? Por detrás da fachada mediática, há debates mais subtis sobre este tipo de temas que não seguem necessariamente as divisões políticas e de religiosidade óbvias. A realidade é que, depois de se ter vendido ao capitalismo extremo, a esquerda procura arranjar álibis ideológicos sob a forma de hostilidade à religião, à família, à cultura elevada e ao papel das elites com princípios.

Havia uma esquerda mais velha que tinha maior sentido da importância comprovada destas coisas e da forma como podem funcionar para permitir uma maior igualdade económica e a democratização da excelência. Agora, muitos de nós começam a perceber que os velhos socialistas deviam entender-se com os conservadores tradicionalistas. Em face da secreta aliança que se estabeleceu entre o liberalismo cultural e o liberalismo económico, precisamos de inventar um novo tipo de política que ligue o igualitarismo económico à procura de valores e virtudes objectivas: um “ socialismo tradicionalista” ou um “conservadorismo vermelho”. Afinal, o que conta como radical não é o novo, mas o bom.»

John Milbank, professor de religião, politica e ética na Universidade de Nottingham

Contra a hierarquia do dinheiro

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«Há uma tirania à qual jamais nos poderemos submeter: é a das leis económicas. Porque, sendo um facto que ela é totalmente estrangeira à nossa natureza, é-nos impossível progredir nela. Ela torna-se insuportável porque é de um grau demasiado baixo. É aí que se encontra o critério; é aí que é preciso escolher mesmo sem pedir provas. Ou temos ou não temos o sentido da hierarquia dos valores, e qualquer discussão é impossível com aqueles que invertem esta hierarquia»

Ernst Von Salomon in Os Reprovados

Interlúdio Nacional Socialista

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«Fanáticos, intransigentes, partidários! Sim, sê-lo-emos e queremos sê-lo. Sê-lo-emos tanto mais quanto o nosso povo e a nossa raça forem mais ameaçados e que, por os termos avisado, formos mais perseguidos! Sê-lo-emos tanto mais quanto virmos, cada dia um pouco mais, toda a bestialidade das raças inferiores estalar sobre a nossa terra e asfixiar a nossa civilização. Sê-lo-emos tanto mais quanto, no seio do nosso próprio povo, se manifestar o desencorajamento, o medo e o espírito de capitulação.

Fanáticos, intransigentes, partidários! Sim, durante tanto tempo quanto, nos nossos países, reinarem o capital internacional e as massas sub-humanas. Durante tanto tempo quanto os agentes dos Estados estrangeiros nos tentarem impor disciplinas que nos tornarão a vida insuportável. Durante tanto tempo quanto, num deboche sanguinário, os vermelhos estalinistas, os negros do Vaticano, os caquis de Washington, tentarem partilhar os despojos do nosso continente e da nossa raça, da nossa raça branca que não se quer tornar nem vermelha, nem negra, nem caqui.

Fanáticos, intransigentes, partidários! Sim, até ao dia em que, sobre os nossos povos libertados, sobre o nosso socialismo nacional triunfante, se erguerá a alvorada da ressurreição. Mas ao esperá-la, de olhos fixados perante toda a ameaça ou toda a realidade que não seja a nossa, os dentes cerrados, os punhos fechados, responderemos a cada golpe com um golpe, por um olho os dois, por um dente a garganta!

“Entraste no combate, camarada, porque querias ser vitorioso ou porque este propósito era o teu?” – Aí reside toda a questão da dignidade do militante na luta.

Aquele que tudo deixou e que tudo aceitou e que tudo arriscou porque o propósito lhe parecia digno de todo o abandono, de todo o risco, de todo o esforço, esse jamais será totalmente vencido.

Todas as batalhas são feitas de reveses e vitórias. Aquele que não aceite ser por vezes batido para chegar à vitória, esse não será digno nem do combate nem da vitória. Cada revés poderá e deverá, para aquele que não duvida, ser uma manifestação de força e dignidade, uma prova do valor de um exercício no caminho para a vitória e, seguindo a célebre frase de Nietzsche “cada golpe que não nos mata torna-nos mais fortes”.

Cada um sabe, empenhando a sua força e a sua vontade na luta pelo socialismo, pelo seu povo e pelo seu solo, que cem derrotas deverão preparar a única vitória final. Apraz-nos deixar pelo caminho aqueles que não têm a força ou a energia moral de nos acompanhar até ao fim, aqueles que querem gozar a sua pequena vidinha actual mesmo se ela é estreita, mesquinha e rasteira, aqueles que preferem a facilidade ao perigo.

Apraz-nos vê-los abandonar o socialismo nacional a cada curva no caminho porque se soubemos escolher os nossos adversários também queremos seleccionar os nossos amigos.

A vitória imediata ou a vitória distante? São distinções que não fazemos porque a vitória tem para nós o mesmo rosto quando está próxima ou distante. A vitória, no nosso espírito, tem o rosto que moldámos com as nossas mãos e a nossa vontade. A vitória é o rosto do destino final, e ela está moldada por mil derrotas. Em frente, pois então! Não há para nós derrotas sem amanhã. O revés do dia é testemunho para o sucesso de amanhã, a prova de que a nossa vitória está no final.

Que os fracos se lamentem e que se agarrem a qualquer esperança exterior. Para nós não há esperança fora da vida, há apenas uma certeza: o combate; Uma vontade erguida numa única direcção. Deixemos aos fracos o recurso a um qualquer salvador supremo, fora do mundo e da vida.

Nós somos os nossos próprios salvadores: destruiremos os últimos ídolos e os últimos obstáculos sobre o nosso caminho. Não serão eles que nos darão a vitória mas sim a nossa vontade e o nosso esforço, o nosso espírito de sacrifício e a clareza do nosso olhar.

Não desenvolveremos, contudo, o nosso esforço, não libertaremos a nossa vontade para obter a vitória, mas apenas para combater e marchar em direcção ao nosso objectivo. O que nos importa a vitória? É apenas o sentido da nossa marcha que conta: o sentido do combate, o sentido da luta. A vitória ser-nos-á dada por acréscimo, não como um salário mas como uma coroa.

É por isso que, ao início, eu dizia que não havíamos começado a luta pela vitória mas porque o nosso combate era justo e que esse combate deveria ser travado.

Nós somos os portadores do futuro, os portadores do progresso, devemos ser os melhores do nosso povo. Que a nossa vontade, que o nosso pensamento quotidiano, seja somente um, como o povo deve ser um, como a raça deve ser uma e que sejam afastados do nosso caminho todos os pregadores de resignação. Que sejam afastados do nosso caminho todos os factores de degeneração. Que sejam afastados do nosso caminho todos aqueles que “querem viver” e que não ousam nem sabem conquistar o seu direito à vida.

Em frente! Conhecemos o propósito! Sabemos o que está em jogo!

Aceitámos o sacrifício!

A coroa da vitória ser-nos-á entregue porque teremos erguido a nossa força, ligado toda a nossa vontade e aceite todas as cargas de uma luta incessante.»

René Binet, Socialisme National contre Marxisme, pp.95-97, Éditions Celtiques, 1978

Bloco Central

Da estupidificação necessária para o Estado Universal

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«A decadência linguística a que o professor se referia recuava à era final das nações guerreiras, que anunciava grandes fusões. Mas antes, os deuses regionais tiveram de ser destituídos do poder, em todo o mundo (…)
Numa era de declínio em que se considerava glorioso ter participado no afundamento do seu próprio povo, não podia ser de admirar que também à linguagem se podassem as raízes, e isso em Eumeswil mais do que em qualquer outro local. A perda da História e a decadência da linguagem condicionam-se reciprocamente; os eumenistas encarregaram-se disso. Sentiam-se chamados, por um lado, a desfolhar a linguagem, por outro lado, a prestigiar o calão. Assim, com o pretexto de facilitar a fala, roubaram lá em baixo, na cidade, ao povo, a sua língua, e com ela a sua poesia, enquanto elevavam às alturas os seus carões. A agressão contra a linguagem amadurecida através dos tempos e a gramática, a escrita e os signos, constitui parte da simplificação que passou à história sob o nome de revolução cultural. O primeiro Estado Universal projectava a sua sombra adiante de si.»

Ernst Jünger, Eumeswill, P.78, Ulisseia

O orgulho é virtude capital e nós não damos a outra face

«Caminhava pelo bosque, o bosque tão remoto e vasto,
A solidão sussurrava-me palavras pesadas.
Murmurava de tempos idos, quando por aqui ainda erravam os bisontes.
Sobre o pântano a águia voava alto nos ceús;
Lá o feroz lobo deixava runas de morte,
Lá o possante alce caía ainda pelas mãos do caçador.
Lá a doutrina estrangeira não tinha ainda transformado o bem no mal,
E os nobres Wotan e Freia eram ainda solenemente venerados;
Lá contava ainda a coragem do homem e não apenas o seu dinheiro,
Lá o herói defendia o seu direito com a espada reluzente;
Nem com vil palavra, nem com juramentos baratos;
Isto ensinava-me secretamente a fatal solidão.
Os nossos deuses eram ainda chamados amor e potência,
Potência gerava a vida, amor trazia o prazer.
A nossa lei era breve, a nossa lei era esta:
Amor ao amor, mas também ódio para o ódio.
A mão leal a todo o homem que se mostrava amigo,
A mão sangrenta para o canalha que se aproximava como inimigo.
(…)»

Hermann Löns, Das Osterfeuer

Pela Direita dos Valores e a Esquerda do Trabalho!

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Excerto de um discurso de Alain Soral, em defesa da junção da Direita dos Valores com a Esquerda do Trabalho:

«(…) Mas esta confusão entre a esquerda e a direita vem também da confusão da sua definição. Confusão que nos leva a lembrar que há duas maneiras de definir a esquerda e a direita.

Há desde logo, historicamente, a definição de direita que nos vem do Antigo Regime. Definição que vê na direita os valores positivos da honra, da moral, do respeito dos antigos e da hierarquia…a esquerda seria então a destruição desses valores através do liberalismo crescente que resultará na Revolução Francesa…O liberalismo, os seus valores de cálculo amoral e a sua destruição da ordem antiga deverão portanto ser considerados como o mal e a esquerda…que é o que certos homens que se consideram de direita tradicional têm tendência a esquecer.

Há depois a definição de esquerda que nos vem do marxismo e da Revolução de Outubro, para a qual aquilo que define a esquerda e a direita é a relação Capital/Trabalho…É de esquerda o que favorece o Trabalho. É de direita o que favorece o Capital. Segundo esta definição, bem compreendida, um patrão de uma PME é hoje portanto de esquerda, pois está do lado do trabalho produtivo. Um accionista de grandes empresas é, pelo contrário, de direita, já que está do lado da renda, da exploração e do parasitismo, tal como o filho de família ocioso ou aquele que vive de subsídios. (…)

Desta primeira clarificação das esquerdas e das direitas podemos desde já concluir que um partido populista que defenda ao mesmo tempo os valores morais e o mundo do Trabalho é de direita pela primeira definição e de esquerda pela segunda…o que não quer dizer que não exista esquerda ou direita ou, ainda menos, que tudo seja a mesma coisa, mas antes que existe uma direita moral que é, se reflectirmos bem, a condição da esquerda económica. Ao contrário, existe uma esquerda amoral que se revelou ser a condição ideológica da direita económica na sua versão mais recente. Lembremo-nos do Maio de 68, da sociedade de consumo e do famoso liberalismo libertário…

Um liberalismo libertário que não é nada mais que a esquerda dos valores ao serviço da direita económica, afim de destruir ao mesmo tempo a esquerda económica e a direita dos valores (…)

O que há em comum entre a direita nacionalista dos valores e a direita liberal do lucro? Direi nada, são dois grupos sociais, na realidade, inconciliáveis:

– Um fundado sobre uma ordem moral e a hierarquia natural do mundo antigo…

– O outro sobre o amoralismo integral e moderno da lei do lucro, com a porta aberta a todos os arrivismos, a todas as decadências e todas as mobilidades sociais…

Essa união é a de dois grupos com pretensões dominadoras onde o primeiro, que não dispõe dos meios, se coloca ao serviço do segundo, que, por sua vez, não partilha nenhum dos seus valores…

Os liberais a servirem-se dos conservadores, que historicamente venceram e correram do poder, como de idiotas úteis, para guardarem o poder contra o povo. (…)»

Capitalismo global, desumanidade total