Month: Março, 2009

O dinheiro, a imprensa e a democracia

null

«O que é a verdade? Para a multidão é aquilo que continuadamente lê e ouve. Uma pequena gota perdida pode cair algures e reunir terreno para determinar “a verdade”, mas o que obtém é apenas a sua verdade. A outra, a verdade pública do momento, que é a única que interessa para resultados e sucessos no mundo dos factos, é, hoje em dia, um produto da imprensa. O que a imprensa quer torna-se verdade. Os seus dirigentes evocam, transformam, permutam verdades. Três semanas de trabalho da imprensa, e a verdade passa a ser reconhecida por toda a gente.

As suas bases são irrefutáveis enquanto o dinheiro esteja disponível para as manter intactas. Também a retórica Clássica foi concebida para o resultado e não o conteúdo – como Shakespeare brilhantemente demonstra na oração do funeral de António – mas essa estava limitada à audiência presente e ao momento. O que o dinamismo da nossa imprensa pretende é a eficiência permanente, manter a mente dos homens continuamente sob a sua influência. Cada argumento é derrubado assim que a vantagem do poder financeiro passa para o contra-argumento e passa a levar este último ainda com mais frequência aos olhos e ouvidos dos homens. Nesse momento a agulha da opinião pública inclina-se para o pólo mais forte. Todos se convencem imediatamente da nova verdade e passam a olhar para si próprios como tendo sido acordados do erro.

Com a imprensa política existe a necessidade de uma educação escolar universal, que no mundo clássico estava completamente ausente. Nesta exigência existe um elemento algo inconsciente de desejar conduzir o rebanho das massas, como objecto da política partidária, ao encontro do poder dos jornais. O idealista da democracia nascente olhava a educação popular, sem reservas, como esclarecimento (“iluminismo”) puro e simples, e ainda hoje encontramos aqui e ali cabeças fracas que se entusiasmam com a Liberdade da Imprensa, mas é precisamente isto que abre caminho para os vindouros Césares da imprensa mundial. Os que aprenderam a ler sucumbem ao seu poder, e a auto-determinação visionária da democracia tardia resulta numa determinação total do povo pelos poderes a quem a imprensa obedece.

Nas disputas do presente a táctica consiste em retirar ao adversário esta arma. Na infância pouco sofisticada do seu poder, o jornal sofreu com a censura oficial que os campeões da tradição lhe impuseram em auto-defesa, e então a burguesia chorou porque a liberdade do espírito estava em perigo. Agora a multidão segue placidamente o seu caminho, conquistou definitivamente para si esta liberdade. Mas nos bastidores, longe da vista, as novas forças combatem-se comprando a imprensa. Sem que se observe, o jornal, e com ele o leitor, muda de mestre. Também aqui o dinheiro triunfa e obriga os espíritos livres ao seu serviço. Não há domador que tenha os seus animais sob maior controlo. Soltem o povo, como leitor-massa, e explodirá pelas ruas jogando-se contra o alvo indicado, aterrorizando e partindo montras; basta uma indicação ao staff da imprensa e o povo acalmar-se-á e irá para casa. A imprensa é hoje um exército com armas e ramos cuidadosamente organizados, com os jornalistas como oficiais e os leitores como soldados. Mas aqui, como em qualquer exército, o soldado obedece cegamente e os objectivos de guerra e planos de operações mudam sem o seu conhecimento.

O leitor não sabe, nem é autorizado a saber, os propósitos para os quais é usado, nem sequer o papel que irá desempenhar. Uma mais aterradora caricatura da liberdade de pensamento não poderia ser imaginada. Antigamente um homem não se atreveria a pensar livremente. Agora ele atreve-se, mas não consegue; a sua vontade de pensamento é apenas uma vontade de pensar dentro da ordem, e é isto que ele sente como sendo a sua liberdade.

E o outro lado desta liberdade tardia é permitir a todos dizer o que lhes apraz, mas a imprensa é livre de tomar nota do que é dito ou não. Pode condenar qualquer “verdade” à morte simplesmente não a comunicando ao mundo, uma terrível censura de silêncio, que é ainda mais potente porque as massas de leitores desconhecem em absoluto que existe. (…)

A ditadura dos partidos é suportada pela da imprensa. Os competidores esforçam-se através do dinheiro para afastar os leitores das alianças hostis e para os colocar sob o seu treino. E tudo o que aprendem nesse treino, é o que foi considerado que deveriam saber, porque uma força mais alta define a imagem do seu mundo por eles. Não há agora necessidade, como havia com os príncipes barrocos, de impor a responsabilidade do serviço militar uma vez que se açoitam as almas com artigos, telegramas e imagens até que o clamor por armas obrigue os líderes a um conflito para o qual queriam ser obrigados.(…)

O pensamento, e consequentemente a acção, das massas é mantido sob um controlo férreo, razão pela qual, e apenas por essa razão, aos homens é permitido serem leitores e votantes, isto é, numa escravidão dupla enquanto os partidos se tornam os séquitos obedientes de uns poucos, e a sombra do cesarismo vindouro já os toca.

Como sucedeu à monarquia inglesa no século XIX, também os parlamentos se tornarão, no século XX, um espectáculo pomposo e vazio. Como antes com o ceptro e a coroa, são agora os direitos do povo que são exibidos em parada para a multidão, e quanto mais escrupulosamente menor o seu verdadeiro significado. Foi por esta razão que o cauteloso Augusto nunca deixou passar uma oportunidade para realçar os antigos e venerados costumes da liberdade romana. Mas o poder está a migrar ainda hoje, e consequentemente as eleições estão a degenerar para nós na farsa que eram em Roma. O dinheiro organiza o processo no interesse daqueles que o possuem, e as eleições tornam-se um jogo pré-concertado que é encenado como auto-determinação popular. Se a eleição foi originariamente revolução em formas legítimas, esgotou essas formas, e o que acontece é que a humanidade volta a “eleger” o seu destino pelo método primitivo da violência quando as políticas do dinheiro se tornam intoleráveis.

Através do dinheiro, a democracia transforma-se na sua própria ruína, depois do dinheiro ter destruído o intelecto. Mas, porque a ilusão de que a actualidade pode permitir-se ser melhorada pelas ideias de um qualquer Zeno ou Marx desvaneceu, porque os homens aprenderam que no reino da realidade uma vontade-de-poder pode apenas ser derrubada por outra [ pois esse é o grande ensinamento humano dos períodos dos “Estados em Guerra” (NdT: da História da China)], desperta finalmente um profundo desejo por toda a antiga e valorosa tradição que ainda permanece viva. Os homens estão cansados e enjoados da economia-dinheiro. Anseiam por salvação de um lado qualquer, por algum sentido real de honra e cavalheirismo, de nobreza interior, de abnegação e dever. E agora amanhece o tempo em que os poderes do sangue, que o racionalismo da Megapolis havia suprimido, despertam nas profundidades. Tudo na ordem da tradição dinástica e da velha nobreza que se salvou para o futuro, tudo cuja ética desdenha o dinheiro, tudo o que é intrinsecamente firme para, nas palavras de Frederico o Grande, servir, trabalhar duramente ,sacrificar-se, cuidar do Estado, tudo o que descrevi noutra parte e numa palavra como Socialismo em contraste com Capitalismo (NdT: cf. “Prussianismo e Socialismo”. O socialismo de Spengler era tradicionalista e hierárquico, sem relação com marxismos ou socialismos liberais), tudo isto se torna, subitamente, o centro de imensas forças vitais. O Cesarismo cresce no solo da democracia mas as suas raízes penetram a fundo no subsolo da tradição do sangue.

O César Clássico derivava o seu poder do Tribunato, e a sua dignidade, e portanto a sua permanência, do facto se ser o Princeps. Também aqui a alma do antigo Gótico desperta de novo. O espírito das Ordens de Cavalaria supera a pilharia viking. Os poderosos do futuro podem possuir a terra como sua propriedade privada pois a grande forma política da Cultura está irremediavelmente em ruínas, mas não interessa, porque, por informe e ilimitado que o seu poder possa ser, tem uma tarefa. E essa tarefa é a incansável preocupação por este mundo tal como é, que é o exacto oposto do oportunismo vigente na era do poder do dinheiro, e requer elevada honra e consciência. Mas por esta mesma razão instala-se agora a batalha final entre a Democracia e o Cesarismo, entre as forças que lideram a ditadura da economia-dinheiro e a vontade-de-ordem puramente política dos Césares.(…)»

Oswald Spengler, The Decline of the West, Vol. II, London Allen & Unwin, 1918, pp 461-465

postulado identitário

null

Eu sou pela não-discriminação, pela descolonização, pelo direito dos povos a disporem de si próprios. Mas com uma condição: é que não haja excepções à regra. Se somos contra a descolonização, então é preciso ser pela descolonização recíproca, isto é contra todas as formas de colonização: estratégica, económica, cultural, artística, etc. Temos direito a ser pelo black power, mas com a condição de podermos ser, igualmente, pelo white power, yellow power ou red power. Acima de tudo, desconfio do unilateralismo: é o primeiro sinal do espírito partidário, no pior sentido do termo. Ora, assistimos a certos paradoxos. Vemos os ideólogos tomarem posição pelo respeito de todas as raças. Excepto uma: a nossa (que,entre parênteses, é também a deles).Falava-se constantemente de alter-racio-fobia. Aqui é de alter-racio-mania que é preciso falar: outro desvio patológico, de carácter mais ou menos masoquista. Os mesmos que nos explicam, e não sem razão, que ao destruir os hábitos mentais, as estruturas sociais e tradicionais, dos países do terceiro-mundo, a colonização esterilizou-os, tornam-se na Europa os adeptos da pior neofilia, dedicam todos os dias ao mito do «progresso» e convidam os nossos contemporâneos a romper com as «velharias» do passado. Por um lado, dizem-nos que os índios e os esquimós não podem resistir à agressão que representa o contacto com a civilização ocidental, por outro lado, que a mistura dos povos e das culturas é, para os europeus, uma coisa excelente e um factor de progresso. Seria então preciso saber se há dois pesos e duas medidas, e se, para citar Orwell, todos os povos são iguais com excepção daqueles que são mais iguais do que os outros!

Pela minha parte não vejo por que razão o que é excelente para os Bororos ou os Guaiaquis não se revelaria, pelo menos, igualmente bom para nós. Ou então, claro, seria necessário admitir que certas raças são mais dotadas do que outras do ponto de vista das capacidades de adaptação. Mas isso seria discriminação. « Se denunciamos, com direito, os etnocídios dos povos primitivos pelos europeus», escreve Raymond Ruyer, «não se pode interditar aos europeus o direito a preservarem as suas próprias etnias». Os dirigentes das comunidades judaicas, pela sua parte, não se cansam de repetir que duas ameaças sempre os acompanharam ao longo da História: os pogroms e a assimilação. O seu aviso merece ser escutado. É fundado numa sabedoria que vem de longe. Reafirmemos, então, o direito dos povos a serem o que são, o direito que têm todos os povos de tentarem atingir a sua plenitude, contra todos os universalismos e todos os racismos.

Alain de Benoist, Contre tous les racismes, Élements, nº 8-9, Novembro de 1974

O Anarca de Ernst Jünger e outras figuras dissidentes

null

As figuras do rebelde ou do anarca, em Ernst Jünger, implicam uma outra ideia: o “recurso à floresta”. Ao recorrer à floresta, o anarca (o rebelde) manifesta a sua livre vontade de procurar ele mesmo a sua própria via e de fugir, assim, à massificação, que é o reino do maior número. Mas como sobreviver no deserto espiritual desta massificação? Em Eumeswil, o anarca, que aperfeiçoa o conceito de rebelde e o eleva a um nível qualitativo superior, é o homem que quer afirmar a sua própria liberdade. Mas à parte do sistema, pelos seus próprios meios. O rebelde, depois o anarca, mantêm a sua própria identidade, não aceitam desempenhar qualquer papel na sociedade sufocante da qual procuram fugir. Pelo contrário, procuram os seus pares, com a esperança de formar novas elites que agirão directamente sobre os núcleos vitais do sistema.

Face a estas figuras próximas do rebelde e do anarca, o partisan de Carl Schmitt é o herdeiro dos guerrilheiros franceses, jugoslavos ou soviéticos da segunda guerra mundial. Mas o partisan não está à parte de toda a lei: ele recebe as suas determinações a partir de uma instância que lhe é exterior, sobre a qual não tem qualquer dizer. Depois do seu combate, e em caso de vitória, o partisan sobre ao poder e torna-o tão rotineiro como antes, portanto tão insuportável, tão sufocante.

O sistema apenas produz “deslocados”, não anarcas, e pode justificar-se pela própria presença desses “deslocados”, provando assim que não é tão totalitário e sufocante ao ponto de absorver tudo. O “deslocado” é aquele que constrói para si uma pequena esfera de autonomia dentro do sistema, sem de lá sair, beneficiando das vantagens materiais que este oferece: o “deslocado” é, portanto, uma espécie de “canada dry” em comparação com o anarca. O marketing do sistema utiliza o atipismo formal do “deslocado”, que é assim perfeitamente recuperado, sem o menor choque. O anarca caracteriza-se por uma disciplina interior, por um trabalho em profundidade sobre si mesmo, que é inalcançável ao “deslocado”.

Alessandra Colla – Universidade de Verão da FACE, 1995, notas de Catherine Niclaisse.(Via Euro Synergies)

O mito europeu contra a religiosidade do deserto

null

A Moral da Luz e a Fé Solar

Sem dúvida, as duas palavras que se repetem mais frequentemente nas velhas crónicas europeias são Vontade e Honra. A Esperança, pelo contrário, não tem significado. O que conta é cumprir o que deve ser cumprido e não o que pode acabar num sucesso.

Reencontramos em toda esta «moral» da antiga Hiperbórea um certo gosto pelas causas perdidas, uma atitude de perpétuo desafio, onde o gosto pelo risco era exaltado até ultrapassar todos os limites do possível. Os guerreiros espartanos de Leónidas nas Termópilas são, nesse sentido, verdadeiros hiperbóreos. O que conta não é o prazer mas o dever. Não a submissão a um outro para além de si mas a liberdade de impor-se uma conduta conforme à irrevogável Honra da sua linha e do seu clã.

Reencontramos este mesmo espírito no nobre ariano, no dório ou no norueguês. Desde a Idade do Bronze até à conversão da Islândia ao cristianismo, durante quatro mil anos nada parecia ter mudado na moral e na fé dos nossos antepassados. Perante os deuses, permaneciam livres e orgulhosos, ignorando a humildade como o medo. Ignoram os dogmas estreitos e os ritos imobilistas. Afrontar o destino torna-se uma regra de vida absoluta, que se prolonga mesmo para lá da morte. A única «salvação» está no «combate», sem tréguas e sem medo. O Valhalla só acolhe guerreiros!

Descobrimos assim a oposição entre a religião dos hiperbóreos e a dos asiânicos que é de tipo matriarcal. Contra as deusas da noite e da lua, os deuses do Norte afirmam-se à luz do dia e do sol. O sagrado exprime-se no culto do fogo e exalta-se nas grandes festas pagãs do solstício de Inverno e do solstício de Verão. Os templos não são cavernas sombrias onde reinam as trevas, mas recintos sagrados, construídos em locais elevados, expostos ao vento, fustigados pela chuva e queimados pelo sol.

Jean Mabire
in “Thulé, Le Soleil retrouvé des Hyperboréens”

A mulher europeia

null

«A liberdade e a plena dignidade da mulher. O europeu quer a mulher livre, não somente por ela, mas também por ele…porque apenas a sente como sua se ela se entregar livremente e puder deixá-lo a qualquer momento.»

Robert Dun, Les Catacombes de la Libre Pensée, Liberté, Vérité, Santé, 1999, pag.6

Estratégias do Sistema para Manipular a Opinião Pública e a Sociedade

null

Estratégias do Sistema para Manipular a Opinião Pública e a Sociedade

1 – Estratégia da Diversão

Elemento primordial do controlo social, a estratégia da diversão consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das transformações decididas pelas elites políticas e económicas, graças a um dilúvio incessante de distracções e informações insignificantes.

A estratégia da diversão é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar por conhecimentos essenciais, nos domínios da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. «Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, presa por assuntos sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem tempo algum para pensar; de regresso à jaula com os outros animais» (extracto de «Armes silencieuses pour guerres tranquilles»).

2 – Criar problemas para oferecer soluções

Este método é também chamado «problema-reacção-solução». Cria-se um problema, uma situação prevista para suscitar uma determinada reacção do público, afim que seja ele mesmo a pedir soluções que à partida se lhe desejavam impor.

Por exemplo: deixar desenvolver a violência urbana, ou organizar atentados terroristas, para que o público peça leis securitárias em prejuízo da liberdade. Ou ainda: Criar uma crise económica para fazer aceitar como um mal necessário o recuo dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3 – A estratégia do «gradual»

Para fazer aceitar uma medida inaceitável, basta aplicá-la progressivamente, «de forma gradual», ao longo de um período de 10 anos. Foi desta forma que foram impostas condições sócio-económicas radicalmente novas de 1980 a 1990. Desemprego massivo, precaridade, flexibilidade, deslocalizações, salários que já não garantem um rendimento decente, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se tivessem sido impostas bruscamente.

4 – A estratégia do diferimento

Uma outra forma de fazer passar uma decisão impopular é apresentá-la como «dolorosa mas necessária», obtendo o acordo do público no presente para uma aplicação futura. É sempre mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro porque o esforço não é exigido logo de seguida. Depois porque o público tem sempre tendência a esperar ingenuamente que «tudo melhore amanhã» e que o sacrifício pedido possa ser evitado. Enfim, isso deixa tempo ao público para se acostumar à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando o momento chegar.

Exemplo: A passagem ao Euro e a perda de soberania monetária e económica foram aceites pelos países europeus em 1994-95 para uma aplicação em 2001. Outro exemplo: os acordos multilaterais da ALCA que os EUA impuseram em 2001 aos países do continente americano, reticentes, concedendo-lhes uma aplicação diferida no tempo até 2005. (NdT: Todo o processo de implementação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é um exemplo desta estratégia).

5 – Dirigir-se ao público como a crianças

A maior parte das publicidades destinadas ao grande público utilizam um discurso, argumentos, personagens, e um tom particularmente infantilizantes, frequentemente próximo do debilitante, como se o espectador fosse uma criança de tenra idade ou um atrasado mental.

Quanto mais se tenta enganar o espectador mais se adopta um tom infatilizante. Porquê? «Se nos dirigimos a uma pessoa como se ela tivesse 12 anos, então, por força da sugestão, ela terá, com alguma probabilidade, uma resposta ou uma reacção tão ausente de sentido crítico como a de uma criança de 12 anos». (cf. « Armes silencieuses pour guerres tranquilles»)

6 – Apelar à emoção mais que à reflexão

Apelar à emoção é uma técnica clássica para fazer curto-circuito na análise racional, e portanto do sentido crítico dos indivíduos. Para mais, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para aí implantar ideias, desejos, medos, pulsões ou comportamentos…

7 – Manter o público na ignorância e na estupidez

Agir de maneira a que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados no seu controlo e escravização. « A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser do mais pobre possível, de tal forma que o fosso de ignorância que separa as classes inferiores das classes superiores seja e permaneça incompreensível pelas classes inferiores». (cf. « Armes silencieuses pour guerres tranquilles»)

8 – Encorajar o público a comprazer-se na mediocridade

Encorajar o público a achar «cool» o facto de ser estúpido, vulgar e inculto…

9 – Substituir a revolta pela culpabilidade

Fazer crer ao indivíduo que ele é o único responsável da sua infelicidade, por causa da insuficiência da sua inteligência, das suas capacidades ou dos seus esforços. Assim, em vez de se revoltar contra o sistema económico, o indivíduo desvaloriza-se e culpabiliza-se a si próprio, o que suscita um estado depressivo em que um dos efeitos é a inibição da acção. E sem acção não há revolução!

10 – Conhecer os indivíduos melhor do que eles se conhecem a si próprios

No curso dos últimos 50 anos, os progressos fulgurantes da ciência cavaram um fosso crescente entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dirigentes. Graças à biologia, à neurobiologia, à psicologia aplicada, o sistema chegou a um conhecimento avançado do ser humano, tanto fisicamente como psicologicamente. O sistema passou a conhecer o indivíduo médio melhor do que este se conhece a si próprio. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema detém um maior controlo e poder sobre os indivíduos do que eles próprios.

Autoria anónima

Criminalidade e Imigração

null

Um estudo estatístico feito pela Polícia Judiciária de Lisboa na sua área de jurisdição concluiu que 40,5% dos homicídios são cometidos por imigrantes(*)! 40,5%, repetimos…

A ligação entre a imigração por um lado e a insegurança, a criminalidade ou a conflitualidade social por outro, tem vindo a ser denunciada por todos aqueles a quem ainda vai restando coragem, inteligência e liberdade de pensamento nesta distopia demencial do politicamente correcto em que vivemos…e tem também vindo a ser constantemente escondida e negada pelos poderosos lóbis pró-imigração, que são os que têm voz pública.

Trata-se, pois, de uma estrondosa chapada na cara desses esbirros ditatoriais que têm pressionado os jornais a não publicar a “cor” ou a “origem” do crime, para melhor poderem manipular a população com a sua propaganda…e geralmente com sucesso, diga-se.

Contudo, aquelas estatísticas ainda conseguem ser mais gravosas do que aparentam numa primeira leitura. E isto porque, devido à adulteração da lei da nacionalidade – com a passagem progressiva do direito de sangue para o direito de solo – e com a crescente e escandalosa facilitação na atribuição administrativa da nacionalidade, muitos criminosos de origem ou ascendência estrangeira têm agora passaporte português (ficando, por isso, fora daqueles números).

Para que fosse possível analisar plenamente esta problemática seria também necessário que fossem disponibilizadas estatísticas sobre a origem dessa imigração criminosa, porque também nisto existem diferenças; há imigração e imigração…isto é, os riscos, problemas e potencialidades variam de acordo com os povos de onde ela provém.

A relação entre a imigração e a criminalidade é para mim um factor “secundário”. Oponho-me à imigração em defesa da preservação da identidade do meu povo, não da minha segurança pessoal. Portanto, mesmo se a imigração não fosse causadora de insegurança, a minha oposição ao fenómeno manter-se-ia inalterável: é uma oposição de princípios, isto é, do campo ético e não do campo utilitário. E o mesmo vale para os debates sobre os benefícios e prejuízos económicos do fenómeno…a nação é um “valor mais alto”, não é uma empreitada mercantil, leiloada à melhor oferta.

Esclarecido isso, que é um ponto importante, a verdade é que se a imigração é em si um fenómeno nocivo para a identidade nacional, as suas consequências negativas para a segurança individual dos nacionais ainda agravam mais a sua perversidade. Todas as comunidades têm indivíduos que não prestam, e esses são um problema seu, o que não é admissível é que, adicionalmente, importem maus elementos do estrangeiro, e muito menos colocando em risco a própria vida dos seus cidadãos!

Perante estes factos há duas correntes de opinião:

A primeira será a nossa, continuaremos, até que nos forcem ao silêncio, a denunciar a perniciosidade da imigração para a nação – entendida como comunidade de origem e destino histórico – cujas características pretendemos defender e legar aos nossos descendentes, bem como a sua perniciosidade para a vida quotidiana dos nossos compatriotas. A resolução do problema passa, neste caso, por parar esses fluxos migratórios e incentivar um processo de repatriamento faseado e responsável. Tudo isto acompanhado por uma reversão da lei de nacionalidade em direcção ao direito de sangue.

Para o segundo grupo, constituído por governantes e comissões, partidos e associações, lóbis financeiros e órgãos de comunicação social, intelectuais e fazedores de opinião, a imigração é intocável.

Porque:

a) A sua recusa coloca em causa demasiados interesses económicos e crenças ideológicas;
b) A identidade nacional não existe ou não interessa;
c) A relação entre a imigração e os fenómenos de criminalidade e instabilidade resolve-se através de políticas de “integração” feitas à custa das oportunidades e dos salários dos trabalhadores nacionais e pela crescente falta de exigência nos critérios e processos de atribuição da nacionalidade. Logicamente, à medida que os imigrantes forem acedendo à nacionalidade, diminui a probabilidade dos crimes serem cometidos por quem não possua passaporte nacional.

O que lhes interessa a criminalidade se puderem aumentar os seus lucros, se puderem continuar abraçados às suas utopias políticas, se conseguirem manipular as estatísticas?

(*)Estrangeiros matam em Portugal

De pé perante o destino!

null

É próprio da força espiritual dos indo-europeus – e isto é testemunhado pela grande poesia destes povos, e acima de tudo pelas suas tragédias – sentir uma alegria profunda perante o destino – na tensão entre as limitações do homem e a falta de limites dos Deuses. Nietzsche chamou uma vez a essa alegria “amor fati”. Em particular, os homens ricos em alma entre os povos indo-europeus sentem – precisamente no meio dos golpes do destino – que a divindade lhes concedeu um grande destino no qual têm de fazer prova de si.

Goethe, numa carta à Condessa Auguste zu Stolberg, de 17 de Julho de 1777 expressa um pensamento verdadeiramente indo-europeu, quando escreve:

Alles geben die Götter, die unendlichen,
ihren Lieblingen ganz:
alle Freuden, die unendlichen,
alle Schmerzen, die unendlichen, ganz.

Os Deuses eternos dão todos os infinitos
Aos seus favoritos:
Todas as alegrias e todos os pesares, para todo o eternamente,
Derradeira e completamente.

Esta alegria dos indo-europeus face ao destino nunca resulta em aceitação passiva, em fatalismo. Quando confrontado com a certeza da morte o indo-europeu permanece consciente de que a sua natureza herdada é a de um guerreiro. Isto é expresso no “Bhagavad Gita” indiano (II, 38) pelo Deus Krishna quando diz a Arjuna:”Aceita a alegria e a dor, o ganho e a perda, a vitória e a derrota, e prepara-te para a batalha, e assim não carregarás qualquer culpa sobre ti”. Mais tarde o Deus caracteriza a natureza indo-europeia ainda mais claramente, quando diz (XVIII, 59):” E se, pleno de suficiência, dissesses: «não quero mais combater», uma tal determinação revelar-se-ia vã, porque a tua natureza levar-te-ia a fazê-lo”.

Esta é a visão indo-europeia do destino, a alegria indo-europeia no destino, e para os indo-europeus a vida e a crença seriam debilitadas, se esta representação fosse substituída por um Deus redentor.

Ideias de redenção e de redentores apenas se puderam disseminar, entre os povos de língua indo-europeia, nos períodos mais tardios e geralmente apenas entre alguns sub-estratos indo-europeizados. Quando se deseja aplicar um conceito como redenção à natureza original do indo-europeu, pode-se falar, quanto muito, numa auto-redenção, mas nunca numa redenção por um Deus feito homem, um semi-Deus ou Deus. Mas a auto-redenção indo-europeia deve ser descrita, mais correctamente, como auto-libertação, como a libertação da alma que se auto-purifica moralmente, mergulhando nela própria até ao seu próprio “ser”, uma libertação para fora do tempo e do espaço, e uma libertação da necessidade da existência e da necessidade do “ser”. Uma tal auto-libertação, alcançada pela superação dos desejos do eu (Pali: kilesa = nibbana ou tanhakkhaya, a apatheia dos Estóicos) foi ensinada pelo filho do príncipe indiano, Sidarta, o sábio com “olhos da cor da Flor do Linho”, que mais tarde foi chamado Buda, o Iluminado. No domínio indo-europeu tal libertação do tempo e do espaço é experimentada, pelo místico, através do Nirvana durante o tempo de vida (Pali: samditthika nibbana), pelo isolamento da alma individual penetrando sobre si mesma, tornando-se, no seu nível mais profundo, a alma universal ou parte dela. Portanto, o misticismo ocidental não pode ser confundido com uma redenção.

Os indo-europeus sempre tiveram tendência a elevar o poder do destino acima do dos Deuses (cf. Ilíada, XV, XVII, XXII; cf. Odisseia, III; cf. Teogonia de Hesíodo; cf. Prometeus de Ésquilo; cf. Heródoto, I) especialmente, sem dúvida, os indianos, os helénicos e os teutónicos. A “Moira” ou “Aisa” dos helénicos, que já aparecia em Homero e Heraclito, corresponde às “Nornas” dos teutónicos, a “Wurd” (Weird, Wyrd;Urd na Escandinávia). Em MacBeth, de Shakespeare, o destino (Wyrd no Inglês antigo) é representado pelas “Three Weird Sisters”, que correspondem às “Parcas” dos Romanos, enquanto Deusas do destino também aparecem entre os eslavos sob várias formas, e havia uma Deusa do destino entre os letões (um povo báltico indo-europeu), chamada “Leima”. Até Platão (As Leis, V) no período tardio do seu povo, sublinhou que a divindade estava sujeita ao destino, e um provérbio anglo-saxónico, composto por um poeta cristão, transporta a visão pré-cristã : “Cristo é poderoso, mas mais poderoso é o destino”. Aura-Mazda, o Deus dos céus dos iranianos, distribui o destino, como faz Zeus, o Deus dos céus dos helénicos (G. Widengren: Hochgottglaube im alten Iran, Uppsala Universitets Årsskrift, 1938, VI, pp. 253 ff.), mas ambos, contudo, nada podem contra o destino.

Mas, repito, esta visão indo-europeia do destino não tem nada a ver com fatalismo, referindo-se meramente à compreensão daquela última e dura realidade a partir da qual a religiosidade indo-europeia origina para se erguer em direcção ao Divino. De acordo com a sua natureza, o homem indo-europeu não pode sequer desejar ser redimido da tensão da sua vida ligada ao destino. O enfraquecimento desta tensão teria significado para ele um enfraquecimento da sua religiosidade. O próprio facto de estar ligado ao destino tem provado ser, desde o início, a fonte da sua existência espiritual. “As ondas do coração não chegariam a erguer tão alto e com tanta beleza a sua espuma até torná-la espírito, se esse rochedo antigo e mudo, o destino, não fosse o seu contraponto.” Esta certeza, expressa por Hölderlin no seu Hipérion, foi pressagiada pelas tragédias de Sofocles e de cada grande poeta de natureza indo-europeia. É a mesma certeza que Schopenhauer exprimiu num comentário duro: “ Uma vida feliz é impossível, o mais alto que o homem pode alcançar é um rumo heróico” (Parerga und Paralipomena, Volume XI, Capítulo 34)

É evidente que uma religiosidade que provém de uma tal atitude perante a vida nunca pode ser universal. A religiosidade indo-europeia não pode nunca ser transferida para outras estirpes humanas à escolha. “Mahatma” (India), “megaletor” (Iliada, XVI ; Odisseia, XI ), “megalofiquia” ou “megalopsiquia” (Helénico — cf. Aristóteles: Ética a Nicómaco, II ; IV), “magnitudo animi” (Ulrich Knoche: Magnitudo animi, Philologus, Supplementband XXVII, 3, 1935), “magnanimus” (romano), “mikilman” e “storrada” (alemão do norte), do antigo nórdico “mikilmenska” ou “stormenska”, os homens de “hochgemüte” (coração nobre), como era chamado na idade média germânica – tudo descrições que podiam ser tradução umas das outras. A religiosidade é aqui o amadurecimento do herói face ao destino, que confronta ao lado dos seus Deuses. Isto é também o significado de “Readiness is all” (Hamlet, V) e “Ripeness is all” ( Rei Lear, V) em Shakespeare.

null

Diz-se que a concepção de vida dos teutónicos é uma Pan-Tragédia, uma atitude que concebe toda a existência e acontecimentos do mundo trespassados por um princípio derradeiramente trágico. Mas esta Pan-Tragédia, que surge de forma quase super-consciente no verdadeiro teutão Hebbel, não é meramente teutónica, é encontrada entre todos os indo-europeus, atravessando toda a sua religiosidade. O indo-europeu torna-se um homem maduro apenas através da sua vida de tensão perante o destino. O herói teutónico, soberbamente caracterizado pelas sagas islandesas, compreende com nobreza o seu destino, permanece de pé perante ele e é, portanto, fiel a si mesmo. Ésquilo (Prometeu Acorrentado) comentou de forma similar, quando disse:”Os homens sensatos são os que honram Adrastea”, sendo que Adrastea é uma Deusa helénica do destino.

Encontramos muitas designações para o destino nas línguas dos indo-europeus, porque o destino significava muito para eles: a “Moira” dos helénicos corresponde à “Fatum” dos romanos, a “ananke” e “heimarmene” dos helénicos à “necessitas” e “fatalitas” dos romanos. Os teutónicos designavam o destino de acordo com o aspecto com que o viam, “örlog”, “metod”, “wurd”, “skuld” e “giskapu” (cf. também Eduard Neumann, Das Schicksal in der Edda, Beiträge zur deutschen Philologie, Vol. III, 1955).

Nos indianos a ideia de destino havia-se tornado a ideia de “Karma” (cf. Julius von Negelein: Die Weltanschauungen des indogermanischen Asiens, Veröffentlichungen des Indogermanischen Seminars der Universität Erlangen, Vol. I, 1924, pp. 116 et seq., pp. 165 et seq.), a ideia de uma migração da alma que, de acordo com o comportamento moral durante o tempo de vida, levaria invariavelmente a uma vida melhor ou pior depois da reincarnação – um conceito peculiar dos indianos. De acordo com a descrição helénica de “kyklos tes geneseoos”, a ideia de um ciclo de nascimentos foi originalmente característica a todos os povos indo-europeus, e também se prova a sua existência entre os celtas e os teutões (cf. também Erik Therman: Eddan och dess Ödestragik 1938, pp. 133-134, 172). Talvez também deva ser explicada a partir da observação atenta de características físicas e espirituais herdadas nos clãs, dos Indianos como dos Iranianos, dos helénicos como dos romanos e teutónicos – porque o hereditário, ter que ser como se é, é o destino.

Erik Therman (Eddan och dess Ödestragik, 1938, p. 90) descobriu que “ uma atitude desafiante perante o destino, de luta contra ele apesar do reconhecimento do seu poder supremo” é característica do Edda e de muitas das sagas islandesas. Essa atitude desafiante sobressai também no “Nibelungenlied” medieval, que espantou Goethe pelo seu carácter não-cristão, que caracterizava a imperturbabilidade teutónica face ao destino impiedoso. Foi esta mesma imperturbabilidade indo-europeia que Virgílio, e até o moderado Horácio, louvaram:

Felix qui potuit rerum cognoscere causas
atque metus omnis et inexorabile fatum
subiecit pedibus strepitumque Acherontis avari.
(Geórgica, II)

Si fractus illabatur orbis,
impavidum ferient ruinae.
(Carmina, III)

Geibel também expressou a mesma ideia na sua “Brünhilde” (II):

Se há algo mais poderoso que o destino
É a coragem, que olha o destino imperturbável.

Mencionei anteriormente que a ideia de destino já havia sido reflectida na filosofia helénica por Heraclito, Platão e outros. Os Estóicos, em particular Possidónio, passaram o conceito helénico de uma lei do destino (heimarmene) aos romanos, conceito que foi compreendido, de forma mais clara, por Epicuro e os seus discípulos Tito Lucrécio Caro, Virgílio e Horácio.

A Igreja tentou substituir a ideia indo-europeia de destino pela ideia de providência (providentia). Entre os homens capazes de pensar a tentativa falhou, porque os indo-europeus mais capazes recusaram-se a aceitar uma providência que distribui cegamente em sorte um excesso de golpes cruéis, ao mesmo tempo que encara isso como amor e benevolência. No “Opus Postumum” de Kant encontramos o seguinte comentário:” Se desejássemos formar um conceito de Deus a partir da experiência, toda a moral cairia e apenas o despotismo permaneceria”, portanto, conclui Kant, teríamos de assumir que um tal criador do mundo não tinha qualquer consideração pela felicidade das suas criaturas.

Quem quer que seja da mesma opinião de Baetke ou H. Rückert, de que aquela visão dos indo-europeus não oferecia “nenhuma solução satisfatória para a questão do destino”, ou partilhe a sugestão de que esses homens “nunca estavam preparados religiosamente para enfrentar a questão do destino” – tem uma compreensão da questão, enquanto observador exterior, completamente diferente daquela aceitação resoluta do destino com que o indo-europeu imaginava a sua vida. Não é esbatendo a questão do destino na ideia de redenção que o indo-europeu pode aperfeiçoar a sua natureza – porque tal redenção provavelmente parecer-lhe-ia uma evasão, e a sua natureza só é aperfeiçoada quando prova o seu valor na face do destino.”Mas, sobretudo, sê a ti próprio fiel”, Hamlet (I, 3). Do mandamento moral de permanecer fiel a si mesmo resulta que a religiosidade indo-europeia é de carácter aristocrático: já que não se aconselha o degenerado a permanecer fiel a si mesmo.

Não tentei aqui providenciar qualquer solução para a questão filosófica ou religiosa do destino, mas apenas explicar como o indo-europeu viveu o seu destino e como isso contribuiu para o amadurecimento do seu carácter.

A certeza do destino não fez com que o verdadeiro indo-europeu procurasse a redenção, e mesmo quando o seu destino o fez tremer, nunca se entregou à contrição ou à confissão receosa do “pecado”. Ésquilo, que estava completamente influenciado pela religiosidade helénica e pelo poder do divino, permanece de pé, como qualquer indo-europeu, perante os Deuses imortais, e apesar de todas as experiências devastadoras não manifesta qualquer sentimento de pecado.

Assim, a religiosidade indo-europeia não diz respeito à aflição, à condenação, à contrição, mas ao homem que honra a divindade permanecendo de pé, com firmeza, no meio do tumulto do destino, para lhe prestar a sua homenagem.

A palavra germânica “fromm”, significando “religioso” ou “devoto”, deriva de “capaz” ou “apto”, e está relacionada com a palavra gótica “fruma”, que significa “primeiro”, e com a “promos” grega, significando “avançar”. Para os indo-europeus a religiosidade manifestava-se sob a forma da vontade que se revelava no meio do destino, perante os deuses, mostrando a aptidão do homem de boa natureza que se tornava ainda mais vertical e pleno de divindade quanto mais devastadores fossem os golpes do destino. Porque os deuses esperam que os melhores homens e os de natureza mais verdadeira provem o que valem na bigorna do destino…

A religiosidade desafiante da juventude indo-europeia, que confronta o destino para testar a força da sua jovem alma, foi celebrada por Goethe no seu poema “Prometeu”. Também Hebbel descreveu notavelmente a jovem religiosidade indo-europeia nórdica no seu poema “An die Jünglinge”. A natureza indo-europeia estende-se dessa religiosidade mais expansiva à religiosidade mais calma, devota e interior do poema “Grenzen der Menschheit” de Goethe.

Hans F. K. Günther, The Religious Attitudes of the Indo-Europeans, London: Clair Press, 1967, Capítulo 3