A grande vitória do sistema
«La plus grande victoire du système est d’avoir persuadé les esprits, non de ses qualités, mais de son caractère fatal »
in Élements, nº132
No editorial do mais recente número da revista Élements, dedicado aos rebeldes e aos falsos rebeldes, toca-se no ponto essencial. De facto, a maior vitória do sistema não é ter convencido as pessoas das suas qualidades, mas da sua fatalidade, isto é, do seu carácter irrevogável, definitivo.
Isto é notório para todos os grandes processos do modelo de funcionamento das sociedades ocidentais. Não podemos ser contra a Globalização porque se trata de um processo irreversível, não podemos opor-nos à imigração porque “os imigrantes já cá estão”, não podemos procurar um outro modelo económico porque não existem alternativas à dicotomia liberalismo-marxismo, não podemos sair da U.E. porque seria a Hecatombe, não podemos questionar a democracia porque é a “pior forma de governo com excepção das outras que se conhecem”, e assim sucessivamente…
Quando somos confrontados com o carácter fatal do funcionamento do modelo parece que todas as suas formas nasceram espontaneamente e tomaram conta da humanidade sem que os homens pudessem fazer algo. Na realidade, é o preciso oposto, nenhuma destas formas de funcionamento da sociedade nasceu por si mesma, são meros resultados da vontade e da decisão de alguns homens, de leis e instituições criadas pelo homem, e, da mesma forma, a sua reversão ou modificação depende apenas do mesmo, da decisão dos homens, é tão simples quanto isso.
Mas pesa sobre essa ideia uma sombra terrível, como se para lá do que existe espreitassem as trevas… o que aconteceria se seguíssemos outro caminho, se criássemos outro modelo? E a resposta do sistema é rápida: O Caos!
O sistema está blindado pela propaganda incessante que faz pesar sobre as populações um medo terrível da mudança, uma aversão ao risco e uma crescente habituação à comodidade na mediocridade.
Assim, a política ficou reduzida à economia, ou melhor, à baixa economia, à gestão comezinha de orçamentos própria de “donas de casa”; e nos programas “sérios” e jornais de “referência” a única coisa que se debate é a forma de melhor rentabilizar o modelo: um bocadinho mais de Estado aqui, um bocadinho menos ali…investimento público ou investimento privado, o Estado ou os particulares…essas são as grandes questões das oposições “respeitáveis”!
Os grandes temas estão fora do debate e do pensamento, atingimos o melhor dos mundos possíveis, e aos homens resta trabalhar, trabalhar muito, para serem produtivos como máquinas, comer e foder, como é próprio dos animais, consumir o que não precisam para saciar as necessidades que a publicidade lhes impõe, ver televisão e beber…para entreter e esquecer.