Categoria: Personalidades

Luta e Vitória, Comandante!

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Há 40 anos (NdT: este artigo foi escrito em 2007) morria Che Guevara. Por que é que os fascistas o homenageiam?

Há 40 anos morria Che Guevara. O comandante guerrilheiro havia tentado exportar o fenómeno revolucionário cubano, tanto em África como na América Latina que, sendo ele argentino, considerava no seu todo um pouco como a sua pátria. As chamas de guerrilha deveriam acender a revolução: É essa chama que fascinaria Giangia como Feltrinelli, muito pouco leninista mas romântico e garibaldino.

O Che e os Fascistas

Em quarenta anos o Che foi objecto de todas as desvalorizações, foi reduzido a logótipo publicitário, a símbolo de reconhecimento de tribos urbanas ultracapitalistas. Mas quando morre, ou antes ainda, quando abraçou o seu sonho revolucionário abandonando um ministério em Cuba, Ernesto Guevara podia contar com muitas antipatias, muitas das quais entre os fariseus do seu próprio campo, mas também com muitas simpatias entre aqueles cuja estúpida lógica dos esquemas estáticos via como seus adversários. Quando a demência e a esclerose do dogmatismo à tartufo não estava na moda entre os herdeiros da Revolução Nacionalista, foram muitos a apoiar o Che. Desde Jean Thiriart, fundador da Jeune Europe e do Partido Nacional Europeu, que seria voluntário na Palestina, a Juan Peron. Costui, fascista entre os fascistas, exilado em Espanha depois de ter sido perseguido pela oligarquia clérico-militar ligada a Washington havia estabelecido um pacto estratégico com Fidel Castro e elogiava particularmente o Che cuja luta, segundo o seu parecer oficial, utilizava o marxismo como puro e simples instrumento para um ideal superior. Foi o próprio Peron, último dos estadistas fascistas, a acolher o Che na Espanha franquista – com o beneplácito do caudilho – e a colocá-lo em contacto na Argélia com Boumedienne. De resto, Guevara havia apoiado Peron contra os comunistas poucos anos antes na Argentina e uma das suas acções de guerrilha foi obra dos peronistas. Com o Che vivo a nata do fascismo pós-bélico estava com ele, com o Che morto foram-lhe dedicadas muitas reflexões e algumas hagiografias, como “Une passion pour El Che” de Jean Cau, autor de sensibilidade nacional-socialista.

Brancos ou Negros?

Poderei portanto homenagear o Che no seguimento dos meus ilustres predecessores e sentir-me por isso muito mais fascista do que os fascistas que o denigrem. Mas não seria suficiente nem correcto. Não o quero homenagear só porque os melhores dos fascistas o fizeram mas porque o merece por si. Conheço as objecções, sinto-as continuamente: desde que o fascismo caiu na sombra reaccionária do conservadorismo burguês e perdeu a sua alma – e o seu mais profundo significado existencial e sacro – as banalidades sucedem-se. Uma dessas é que não se pode homenagear o Che, não se pode não ficar contente pela morte do Che, porque ele batia-se para destruir os nossos valores. Nossos? Valores? Brincamos? O Che batia-se por libertar o seu continente da ocupação americana, da opressão oligárquica e das injustiças. Podemos não compartilhar a direcção dada pelo Che à sua luta, o seu posicionamento ideológico e programático, mas não podemos não sentir como nossa a sua luta, e se não a sentimos das duas uma: ou daquela luta não sabemos nada ou enganámo-nos de campo, somos “guarda branca” e não “camisa negra”.

Luta e Vtória

Enfim, não se pode deixar de homenagear o Che porque um homem que abandona cargos, honrarias, dinheiro e privilégios para ir viver para a selva, no meio dos montes, com um punhado de companheiros de luta, passando dias inteiros a pão e água, um homem que sonha e permanece fiel ao seu sonho metendo carne, músculo e nervos ao seu serviço, não pode deixar de ser homenageado. Dita-o claramente aquele sentimento da vida, da honra e do sacro que está na base da visão do mundo que fez grande a nossa antiguidade e a nossa mais recente “primavera”. Aquela ideia do mundo que – do Bhagavad Gita passando pelos sacerdotes das lupercálias, as legiões mitraicas, a cavalaria medieval até aos comandos Werwolf – representou o melhor que a memória do homem recorda e que se condensa na “Doutrina ariana de Luta e Vitória” (que não é a do sucesso tangível mas a da vitória sobre si mesmo)(*). Quem não perdeu o sentido daquele filão não pode deixar de respeitar e homenagear o herói de Santa Clara. Honra ao Che: Luta e Vitória, Comandante!

Gabriele Adinolfi, 9 de Outubro de 2007

(*) Cf. Julius Evola

Viver pela Espada!

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Daniel Roxo era transmontano de nascimento e doou-se completamente à defesa da Pátria.

Morreu em território português de Angola continuando a luta onde o deixaram – no Batalhão 32 do Exército Sul Africano. Ele que foi sempre o Comandante aceitou as divisas de Sargento e decidiu (como tantos outros da sua estirpe) continuar o combate.

A sua acção em combate foi épica. A ele e a outros poucos portugueses se deve a grande vitória da ponte 14 (Dezembro de 1975 – no rio Nhia) em que milhares de cubanos e MPLA foram clamorosamente derrotados pelo Batalhão 32. Durante a batalha os portugueses do Batalhão 32 sofreram quatro mortos. Os Cubanos e MPLA perderam mais de 400 homens, embora o número exacto seja difícil de determinar pois, como a BBC mais tarde informou, camiões carregados de cadáveres estavam constantemente a sair da área em direcção ao norte. Entre os Cubanos mortos estava o comandante da força expedicionária daquele país, o Comandante Raul Diaz Arguelles, grande herói da Cuba de Fidel. E note-se sem a intervenção de meios aéreos! Só com apoio da artilharia.

Foi cronologicamente a última grande batalha em que soldados portugueses (no século XX) se bateram. E bem!

Trata-se de uma batalha que nas nossas Academias Militares não é estudada (nem sequer conhecida), mas que pelas inovações tácticas e emprego de pequeníssimos grupos de comandos deu resultados bem inesperados (para os cubanos, é claro). No entanto esta batalha é estudada (e bem) nas academias russas, britânicas e americanas (algumas).

Poucos meses depois o nosso Daniel Roxo morria em combate. Antes contudo tinha já recebido a maior condecoração sul africana (equivalente à nossa Torre e Espada). Só no primeiro reconhecimento abateu (sozinho) 11 inimigos a tiro.

Durante uma patrulha perto do rio Okavango, o seu Wolf (veículo anti minas semi blindado) rebentou uma mina e foi virado ao contrario, matando um homem e esmagando Roxo debaixo dele. O resto da tripulação tentou levantar o veiculo para o libertar mas era demasiado pesado. Breytenbach, (antigo comandante dos Búfalos, no seu livro (Eles vivem pela Espada – They Live by the Sword, pp. 105) escreveu:

Danny Roxo, mantendo-se com o seu carácter intrépido, decidiu tirar o melhor partido das coisas, acendendo um cigarro e fumando-o calmamente até que este acabou, e então morreu – ainda esmagado debaixo do Wolf. Ele não se tinha queixado uma única vez, não tinha dado um único gemido ou grito, apesar das dores de certeza serem enormes.

Assim morreu o Sargento Danny Roxo, um homem que se tinha tornado numa lenda nas Forças de Segurança Portuguesas em Moçambique, e que rapidamente se tinha tornado noutra lenda nas Forças Especiais Sul Africanas.

Metapedia

Jean Mabire – In Memoriam (08/02/1927 – 29/03/2006)

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A Europa

Jean Mabire gostava de se dizer regionalista normando, mesmo autonomista, mas não se contentava em defender a sua pequena pátria. Desde muito jovem compreende que uma outra pátria, espiritual e ideal, corolário da primeira, se lhe oferecia: a Europa. Durante toda a sua vida detestou o centralismo estatista, o jacobinismo francês e o parisianismo cultural. Na sua vontade feroz de reencontrar a identidade dos povos, não deixa nunca de afrontar esse Moloch das culturas populares enraizadas que é o Estado francês. Maît’ Jean toma consciência de uma indispensável complementaridade entre a luta identitária regional e a acção em favor de uma autêntica construção europeia. A Europa de Jean Mabire não é a Europa de Maastricht, de Bruxelas e de Frankfurt, esta vulgar e medíocre paródia indigna dos nossos povos, este horrível monstro feito de uniformidade informe e artificial.

Jean Mabire sentia-se plenamente europeu. A Europa das suas aspirações queria-se enraizada, viva e polimorfa. Ele sonhava com uma Europa em que os povos transbordariam de vitalidade, entusiasmo e energia. A sua Europa ideal não era aquela «de cem bandeiras» elogiada por Yann Fouéré, mas antes uma Europa de mil bandeiras, respeitosa dos particularismos populares, regionais e étnicos, uma Europa diversa e unida que se estenderia dos geisers da Islândia à taiga siberiana.

Ao exaltar os mais altos feitos dos europeus, Maît’ Jean valorizava a perenidade do carácter europeu. L’ été rouge de Pékin que narra os cinquenta e cinco dias do cerco do bairro diplomático em Pequim por parte dos Boxers em 1900, faz também parte deste verdadeiro trabalho de memória. Este episódio mal conhecido devia agradar-lhe, pois alemães, britânicos, franceses, italianos, russos e mesmo americanos lutaram lado a lado contra um inimigo comum, o perigo amarelo.

Ignorava que a questão europeia lhe permitiria abordar as margens da política?

A Política

Evocar o Jean Mabire político seria um erro, tanto se coibiu de entrar nos miasmas pútridos da acção política. Contudo, não a exclui da sua obra. É preciso talvez falar de «metapolítica», da qual foi um eminente representante. Na verdade, fazia metapolítica ao realçar a cultura normanda. Isso toma toda outra direcção com a guerra da Argélia que dilacerava a sociedade francesa. De regresso do seu Comando de caça, Jean Mabire colaborou na revista pró Argélia francesa L’Esprit Public ainda que, enquanto autonomista normando, não partilhasse a quimera de assimilar milhões de muçulmanos, árabes e Kabyles, num Estado-Nação negador das identidades populares. Retirou deste envolvimento paradoxal um livro magistral, L’écrivain, la politique et l’espérance que republicará três décadas depois, enriquecido por novos artigos, sob o título La torche et le glaive.

Nesta excelente obra, para além dos temas sobre a Europa e as regiões, Mabire expõe o seu socialismo. E sim, Maît’Jean era socialista! É, de resto, estranho que os pequenos inquisidores não tenham descoberto nele o primeiro dos «vermelhos-castanhos» …mas, atenção! O seu socialismo não devia nada ao marxismo e outros esquerdismos. O seu socialismo mergulhava nos ricos (e muito desconhecidos) pensamentos da escola francesa, de Proudhon a Jaurès. A justiça social, a defesa do «pequeno povo», o apoio à «oficina» e à «loja» entusiasmavam-no. Realmente com atenção às pequenas gentes, representava um inegável «intelectual orgânico».

Fiel às suas ideias, Jean Mabire era o contrário do fanático. Vimo-lo a propósito das suas amizades, sabia distinguir a pessoa das suas opiniões. Para o final da década de 80, entrou na National-Hebdo onde assina cáusticas «crónicas livres», frequentemente a contracorrente do Front National e das suas orientações nacionalistas jacobinas. De forma alguma uma cabeça política, Maît’Jean compreende rapidamente a aposta de defender um ponto de vista regionalista-europeu nas colunas de um hebdomadário afiliado a um partido político de audiência maior.

De temperamento dificilmente sensível ao militantismo político eleitoral, apoiou sempre as causas meritórias. Envolveu-se desde o início na grande aventura da renovação do pensamento inconformista europeu. Nos anos 60, enquanto escrevia alguns textos para a Defense de l’Occident, a revista de Maurice Bardèche, tornou-se redactor-chefe de Europe-Action onde pôde, por fim, conciliar o seu regionalismo, o seu europeísmo e o seu socialismo. Isso não o impediu de recontar a vida de Jean-Louis Tixier-Vignancour em Histoire d’un Français. Em 1969, para além da sua participação no lançamento do Mouvement Normand, que é, repita-se, um sucedimento metapolítico, «Didier Brument» contribuiu para o aparecimento do G.R.E.C.E. (Groupement de recherches et d’études pour la civilisation européenne) e participou nas colunas de Éléments, a revista principal da «Nova Direita». Nos seus esboços de tipologia das tendências internas do G.R.E.C.E. os doutos especialistas rotulá-lo-ão entre os Völkischen, o que é um pouco redutor para alguém a quem o socialismo europeu aproximará de boa vontade à corrente nacional-revolucionária…Em 1995, Maît’Jean seguiu o seu velho camarada Pierre Vial na formação de uma nova associação, Terre et Peuple, na qual participou regularmente nas mesas redondas anuais e na realização da revista homónima.

Num campo menos metapolítico, mas igualmente primordial, em 1973, Jean Mabire e o Dr. Maurice Rollet fundaram o movimento de escutismo Europe-Jeunesse. Deseja importar os princípios das altas escolas populares dinamarquesas inauguradas por Nicolas Grundtvig.

Jean Mabire era um sublime pedagogo ou, mais exactamente, um verdadeiro educador. Conhecia a importância de formar a juventude que é, afligida pelo truísmo, o futuro da nossa herança. Já actual há três décadas, esta tarefa é agora vital nesta época de lobotomia generalizada e de incultura favorecida. Para educar a juventude, elevá-la em direcção ao belo, ao bom e ao bem, Maît’Jean empregou principalmente o seu talento de escritor. (…)

O Paganismo

Os temas que versavam a França, a Europa, a Normandia, a política, a guerra, a escrita…despontaram num terreno fértil, que ademais é centro do imaginário pessoal de Jean Mabire: o paganismo. Maît Jean era pagão. Apesar de uma educação religiosa, rapidamente se livrou dos preceitos bíblicos para descobrir a alma perdida dos europeus. Não podemos compreender a atenção que ele dispensava às tradições populares e aos seus países se ignorarmos este facto fundamental.

É verdade que o seu paganismo não assentava sobre o panteão greco-romano. Preferia olhar em direcção ao Norte, a Ultima Thule, a Hiperbórea original. Nietzsche, Wagner e outros, foram os faróis desta demanda em direcção ao seu próprio Graal: as origens espirituais do Ser Europeu. Ele traçará, pontualmente ou parcialmente, esse trajecto em Thulé, le soleil retrouvé des Hyperboréens, Les dieux maudits, récit de mythologie nordique, Les solstices, histoire et actualité ou, mais recentemente, em Des poètes normands et de l’héritage nordique. «Se me orgulho de algo na minha vida é de ter sido quem manteve a ideia nórdica na Normandia», reconhecia em «Trinta anos depois…», o prefácio que escreveu para La Torche et le glaive. Fazer uma lista completa não serviria para nada, porque a veia pagã aflora e percorre todas as suas obras, inclusive nas que parece mais afastada.

Jean Mabire compreendia que não mais voltaremos aos Antigos. Mas a sua determinação, a sua ética, a sua coragem, são modelos e recursos intemporais. Neste ponto ele agiu também como aclarador, pois este tradicionalista, que não o era no sentido guenoniano ou evoliano do termo, este tradicionista, para usar o neologismo forjado por Dominique Venner, tentou pela escrita e pela reflexão renovar com os filões perdidos da tradição politeísta europeia, essa «mais longa memória», recentemente celebrada por Nietzsche.

Sublinhamos frequentemente o carácter despertador de Jean Mabire. Que ele tenha despertado povos perdidos e memórias ocultadas é incontestável, mas, pela sua audácia, mostrou que era também um fundador, um rompedor, um explorador, um precursor. Inspiremo-nos no seu exemplo. Relendo os seus livros, agindo segundo a nossa «equação pessoal», continuemos a nossa marcha nas terras crepusculares da Idade do Lobo, guiados pela única Estrela polar de onde, de agora em diante, nos contemplará Jean Mabire.

Excerto de Maît’Jean, le précurseur, de Georges Feltin-Tracol