Categoria: Estratégia

Encruzilhada

«Admitamos um cenário de saída [do euro], com um euro a valer 200$00 mas objecto de uma desvalorização de 30% logo a seguir. Assumamos ainda para o PIB um valor de €165 mil milhões e uma dívida externa de valor equivalente. Neste caso, o PIB passava a medir-se por 33 mil milhões de contos. Mas, como os 200$00 valiam apenas 0,7 euros, a dívida externa pulava para 47 mil milhões, 43% mais. A primeira consequência era negativa.

Mas é no plano social que as comparações devem ser feitas. Do lado das empresas, e uma vez que o preço das exportações baixava, passaríamos a vender mais e a criar mais postos de trabalho: seria óptimo. Mas em termos de poder de compra, e uma vez que o preço das importações subia, os mesmos escudos compravam agora menos coisas e o nível de vida regredia: seria péssimo. Estaremos disponíveis para trocar menos salários por mais emprego?»
Daniel Amaral, Diário Económico de 19/02/2010

O cenário que Daniel Amaral aqui apresenta, de forma naturalmente muito resumida, tem cada vez mais de começar a ser pensado como uma das escolhas que ainda estão nas nossas mãos, enquanto nação. É evidente que, entre prepararmos a saída do Euro com tempo e planeamento, como sugere o Prof. Ferreira do Amaral e sermos forçados a sair do Euro por incapacidade de lá permanecer, a primeira opção é preferível e minoraria os custos sociais e económicos dessa saída.

Em boa verdade, e depois de ultrapassada a fase mais penosa de reintrodução do escudo, i.e., a fase de ajustamento, esta opção traria ainda um outro risco a longo prazo: num Estado tradicionalmente despesista, contaminado por nomeações partidárias e por cunhas, a disponibilização de um instrumento de política monetária que permitisse a manipulação da taxa cambial á vontade, acarretaria o risco de voltarmos, em poucos anos, a não ter contenção com a despesa pública, que foi algo a que, apesar de tudo, o euro obrigou e tem obrigado, com os custos que conhecemos. Isto significa que esta revolução económica deveria, idealmente, ser acompanhada de uma revolução total na classe política portuguesa, com gente consciente de que os novos instrumentos obrigariam a novas e acrescidas responsabilidades. Caso contrário voltaríamos rapidamente aos mesmos problemas de contas públicas, com ou sem moeda própria.

O problema é que a alternativa de permanência no Euro afigura-se cada vez mais como um beco sem saída e em condições humilhantes. Aqueles que nos estão a conceder os empréstimos, a taxas que aliás não sabemos como e quando iremos conseguir pagar, impõem-nos como condição o empobrecimento definitivo da nossa mão de obra, aconselhando inclusive que seja facilitada a entrada de mão-de-obra do norte de África, para baixar os nossos custos de produção (salários). Ou seja, o trade-off que nos é proposto para salvar no imediato a nossa economia da falência passa por transformar Portugal num espaço de mão-de-obra barata dentro da EU, um sítio onde, quando necessário, se possam colocar empresas europeias que precisem de baixos custos de produção, de onde se possam importar alguns bens baratos e onde certos serviços (sobretudo de lazer) sejam disponibilizados aos europeus do norte a baixo preço, como o turismo. O que nos propõem é que assumamos o papel de criadagem empobrecida e agradecida, e consciente do seu lugar, da Europa mais rica.

Quem compete através dos baixos salários e de fracos sistemas de protecção social são países como a Nigéria, a China ou o Paquistão. Até que ponto devem os portugueses empobrecer para serem competitivos com esses países nos mercados internacionais? Isso é aceitável? E alguém acha que isso é possível enquanto exportarmos em euros, que é uma das moedas mais caras do mundo e feita à medida de economias altamente industrializadas como a alemã?

Por outro lado, a ideia de que podemos evitar competir com o terceiro mundo através dos baixos custos produtivos pressupõe uma ideia fantasiosa do país e que alguns costumam debitar nas televisões: a de que, em vez disso, passaremos a competir com os países mais desenvolvidos, porque, por algum milagre, surgirão não se sabe de onde, um conjunto de empresas portuguesas, não de serviços ou construção mas produtivas, capazes de competir nos mercados de produtos de alto valor acrescentado que valem pela sua qualidade e diferenciação. Aqui o euro não seria um factor de desvantagem competitiva porque os mercados desses produtos são por natureza caros – a qualidade paga-se – e os concorrentes têm moedas fortes. Isto é certamente uma formulação bonita quando é feita nas televisões, mas, até ao momento, não passa de uma utopia. Não temos nem teremos essa estrutura produtiva, pelo menos nos anos mais próximos. Qual é então o nosso futuro com uma moeda tão cara como o euro e completamente desajustada das necessidades competitivas de economias como a portuguesa nos mercados internacionais?

Uma exigência necessária sob a forma de uma oportunidade

«”O sistema de justiça português é constituído por lojas maçónicas e controlado pela maçonaria. Além de controlar as decisões dos processos – incluindo os casos da Universidade Moderna, Portucale, Casa Pia, Apito Dourado e Isaltino Morais -, controla igualmente a carreira dos juízes e dos magistrados do Ministério Público e dos altos funcionários do Estado”, diz José da Costa Pimenta, em carta para a actual ministra e os principais protagonistas do sector.

As acusações vão surgir em livro. Eis os vários processos:

CTT: (Citações do Ministério Público) Em escutas telefónicas, um indivíduo faz alusões à sua condição de maçom para obter informações do caso da venda de prédios

Moderna: (Citações do Ministério Público) Uma conspiração maçónica, com a Moderna como ponto de reunião, para tomar conta das estruturas do poder em Portugal, é revelada num documento de Nandim de Carvalho.

Portucale: (Citações de Abel Pinheiro) Nos governos de Guterres, o GOL era conhecido por o “gabinete”, dado o número de socialistas por metro quadrado. (…) É uma rede de relações humanas única.»

In Diário de Notícias, 13-11-2011

O problema

O Diário de Notícia levou a cabo, de 12 a 14 de Novembro, uma interessante investigação sobre as teias de influência das lojas maçónicas em Portugal. Das maiores empresas, passando pelos partidos políticos, com particular incidência no PS (conhecido como o braço político da maçonaria irregular portuguesa, nomeadamente do “famigerado” GOL – Grande Oriente Português), pelos tribunais, pelas forças se segurança e forças armadas, pelos serviços secretos e acabando, naturalmente, nos principais cargos dirigentes do aparelho de Estado, uma grande parte dos principais responsáveis são membros da maçonaria. Isto implica a suspeita de que uma parte importante dos cargos de poder do país são decididos e atribuídos em reuniões secretas de grupos secretos e não são o resultado de processos de decisão abertos, transparentes e assentes exclusivamente no valor pessoal e não na pertença a determinadas redes grupais de influência. A maçonaria é, pois, uma inversão e uma perversão daquilo que é, idealmente, uma sociedade de mérito.

O estafado argumento maçónico

Num artigo sobre o assunto de 14-11-2011, Ferreira Fernandes levanta a questão fulcral: Por que razão a maçonaria, as suas práticas e os seus membros são secretos? Escreve o jornalista: “O culto do segredo, por tão anacrónico, hoje, entende-se mal. A explicação mais imediata é que os maçons ganham por o ser, e fazem-no em segredo para ganharem ainda mais. Mas, ontem, António Reis, que liderou o Grande Oriente Lusitano, disse ao DN que não: serem maçons “pode-lhes causar dificuldades nas suas carreiras profissionais”. Engraçado, tinha ideia do contrário: os maçons que exercem a minha profissão são mais do género de terem estátua sem eu saber porquê do que não a terem embora a merecessem.”

Pois…este é que é o cerne do problema: os maçons pretendem continuar a sê-lo em segredo porque isso os beneficia nos negócios e nas nomeações, porque saber quem são explicaria como é que alguns nomes de honestidade duvidosa e méritos incomprovados conseguem certos lugares…bastaria saber “quem nomeou os nomeados” para se perceber qual a ligação entre uns e outros. Assim, permanecendo em segredo, os membros da organização podem continuar a encher os cargos directivos sem que se estabeleça a ligação que explica certas ascensões profissionais, ou sem que se perceba por que razão o Estado subsidia, com o dinheiro de todos, certas instituições ou faz certos negócios com determinados particulares.

Uma exigência necessária sob a forma de uma oportunidade política

Ninguém pretende impedir os maçons de o serem, e de procurarem nas lojas o tal “aperfeiçoamento espiritual” que, pelo visto, não conseguem alcançar por outros meios ou vias. O que se pretende é que nas lojas não se prepare o “aperfeiçoamento profissional e salarial” dos maçons à custa dos portugueses sem loja e do bom funcionamento do Estado.

Repare-se que mesmo nas organizações que têm por objectivo a tomada do poder político (algo que a maçonaria nega ter por finalidade), isto é, os partidos, a lei exige, apesar do direito de reserva da lista de filiados, princípios de transparência. Da lei dos partidos políticos:

Artigo 6.º

Princípio da transparência

1- Os partidos políticos prosseguem publicamente os seus fins.
2- A divulgação pública das actividades dos partidos políticos abrange
obrigatoriamente:
a) Os estatutos;
b) A identidade dos titulares dos órgãos;
c) As declarações de princípios e os programas;
d) As actividades gerais a nível nacional e internacional.
3- Cada partido político comunica ao Tribunal Constitucional, para efeito de anotação, a identidade dos titulares dos seus órgãos nacionais após a respectiva eleição, assim como os estatutos, as declarações de princípios e o programa, uma vez aprovados ou após cada modificação.
4- A proveniência e a utilização dos fundos dos partidos são publicitadas nos termos estabelecidos na lei do financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais.

Assim, a bem da transparência e da verdade cívica, uma exigência e uma exigência apenas se deve colocar à maçonaria: conhecer os nomes dos seus membros – no mínimo dos que servem o Estado – e as suas – da maçonaria – actividades gerais. O que não conspira não teme, o que é honroso não precisa de se esconder, as práticas viciosas e as ideias inconfessáveis é que precisam de secretismo para se defenderem e propagarem. “Discreta” é a máfia. Em prol de uma comunidade aberta e não de uma chusma sombria.

Isto pode ser feito através de uma petição popular que reúna as assinaturas necessárias para levar esta exigência ao Parlamento. Nem que seja para ver quem são os “irmãos” que lá estarão para rejeitar a proposta de forma a protegerem os seus interesses privados.

Não percebo o que espera o movimento nacionalista, por que não através do próprio PNR, para iniciar esta luta.

Resistência sem Líder

«(…)Duas coisas resultam evidentes desta discussão. Primeiro, que o tipo de organização em pirâmide pode ser facilmente infiltrado e não é, portanto, um método sólido de organização em situações onde o governo tem os meios e a vontade de penetrar a estrutura (…) Segundo, que os requisitos normais para a estrutura de células baseada no modelo comunista não estão disponíveis para os patriotas. Depois disto ser entendido, levanta-se a questão:”Que método sobra para aqueles que fazem parte da resistência à tirania do Estado?”. A resposta vem do Coronel Amoss, que propôs o método de organização da “célula fantasma” e que descreveu como Resistência sem Líder. Um sistema baseado na organização por células, mas que não tem qualquer controlo ou direcção central, quase idêntico ao método usado pelos comités de correspondência durante a Revolução Americana. Utilizando o conceito da Resistência sem Líder, todos os indivíduos e grupos operam independentes uns dos outros e nunca reportam a um quartel-general central ou líder único à procura de direcção ou instruções, como fariam os que pertencem a uma típica organização em pirâmide.

À primeira vista, um tal tipo de organização parece irrealista, principalmente porque parece não haver organização. A questão natural coloca-se portanto em perceber como é que as “células fantasma” e os indivíduos colaborarão entre si quando não há intercomunicações ou direcção central? A resposta a esta pergunta é que os participantes numa estrutura de Resistência sem Líder, através de célula fantasma ou acções individuais, devem saber exactamente o que fazem e como o fazem. Torna-se responsabilidade do indivíduo adquirir as capacidades e informação necessária para o que tem de ser feito. Isto não é de todo tão impraticável como pode parecer, porque é certamente verdade que em qualquer movimento, todas as pessoas envolvidas têm a mesma visão geral das coisas, estão familiarizados com a mesma filosofia, e de forma geral reagem a determinadas situações de formas similares. A história prévia dos comités de correspondência durante a Revolução Americana prova que isto é verdade.

Como todo o propósito da Resistência sem Líder é derrotar um Estado tirano (pelo menos no que a este ensaio concerne) todos os membros de células fantasma ou indivíduos tenderão a reagir a acontecimentos objectivos da mesma forma através de tácticas usuais de resistência. Órgãos de distribuição da informação, como jornais, panfletos, computadores, etc., que estão largamente disponíveis para todos, mantêm cada pessoa informada sobre os acontecimentos, permitindo uma reposta planeada que tomará muitas variações. Ninguém precisa de dar uma ordem a alguém. Aqueles idealistas verdadeiramente comprometidos com a causa da liberdade agirão quando sentirem que o tempo é certo ou seguirão o exemplo de outros que os precederam. Embora seja verdade que muito poderia ser dito contra este tipo de estrutura como método de resistência, tem de se ter presente que a Resistência sem Líder é fruto da necessidade. As alternativas mostraram-se impraticáveis. A Resistência sem Líder resultou anteriormente na Revolução Americana e, se os verdadeiramente empenhados a puserem em prática, resultará agora.

Não é preciso explicar que a Resistência sem Líder conduz a células de resistência muito pequenas ou mesmo de um homem só. Os que se juntam a organizações para brincarem ao faz-de-conta ou para “se integrarem num grupo” rapidamente serão eliminados, enquanto que para aqueles que estão empenhados a sério na sua oposição ao despotismo do regime é exactamente o que é desejável (…)»

Louis Beam, in Leaderless Resistance

Também suspeito o mesmo…

“Suspeito que muitas das grandes mudanças culturais que abrem caminho para a mudança política são largamente fenómenos estéticos” – J.G.Ballard

Os mesmos esqueletos de sempre

Tantos anos depois verificamos, com pesar, que persiste o principal problema que impediu, durante décadas, o desenvolvimento do movimento nacionalista português, que continua perdido num labirinto do qual não consegue sair. E o problema é este: o movimento nacionalista continua dividido entre dois grandes grupos que não se suportam e que já deveriam, há muito, ter deixado de contar para qualquer coisa: saudosistas do salazarismo e das colónias de um lado e grupos skinheads de outro.

Os primeiros incapazes de perceber o mundo em que vivem e agarrados a uma ideia de Estado Português que já não existe – e não existirá mais – confundindo, por isso, os conceitos de Estado, Império e Nação, ou seja, confundindo a comunidade nacional com a comunidade linguística, tornam-se assim comoventes serviçais dos que pretendem a destruição etno-cultural dos povos na era da Nova Ordem Global. Muitas vezes movidos por um messianismo católico misturam, ainda por cima, a identidade nacional com o Canon da Igreja ou os interesses do Vaticano e não reconhecem quando essas coisas são opostas. O discurso permanente e repetitivo contra a revolução democrática de Abril e o regime daí saído nunca é complementado com qualquer proposta alternativa, permitindo retratá-los como nostálgicos da velha ditadura, ou ávidos de uma nova que eles próprios não conseguem explicar.

Os segundos vivem encerrados num mundo imaginário criado por Hollywood. Com um discurso básico, uma imagem excêntrica que reflecte um mau-gosto notório, e tatuagens por tudo o que é lado (alguns até no pescoço e cabeça as têm!) causam aversão na maioria da população. Dizem-se nacional-socialistas mas os antigos heróis do Terceiro Reich lutaram precisamente contra a vulgaridade dos gostos e dos hábitos que esses skinheads fazem gala de exibir. A verdade crua e dura é esta: nenhum movimento político pode ter qualquer tipo de aspiração enquanto tiver a sua imagem associada a esses grupos. Basta ouvir o povo para saber que ninguém no seu perfeito juízo entregaria os destinos da nação nas mãos de pessoas com aquele aspecto e discurso.

Oiço agora novamente muitos a falarem na necessidade de união de todas as tendências, para acabar com as divisões internas, quando na verdade, o que era verdadeiramente necessário, e desde há muito tempo, era que o movimento se livrasse daquelas duas tendências (pelo menos daquelas duas…). Não é de uma união de ineptos que o movimento precisa mas de uma ruptura com os pesos-mortos…

Um movimento nacionalista deve hoje assentar em dois pressupostos: na defesa da identidade étnica e cultural do povo e na rejeição da vulgaridade e da fealdade.

O exemplo da UDC na Suiça

Publicamos uma recensão de Yvan Blot a um livro que procurava analisar o que caracteriza a actual UDC suíça, enquanto partido identitário, e perceber o seu sucesso. Para reflectir sobre o exemplo…

«Segundo o autor a UDC renovou-se, rejuvenesceu e radicalizou-se aplicando uma “fórmula vencedora” original. Essa fórmula corresponde a quatro temas dominantes:

– A crítica do sistema e da classe política (para blocher, líder do partido, blufistas pretensiosos sedentos de privilégios) em nome da democracia verdadeira;
– A defesa da singularidade suíça e da identidade nacional, particularmente face à U.E e sobretudo face à imigração;
– O liberalismo económico limitado pela preferência nacional em matéria social e de protecção dos agricultores;
– O conservadorismo moral fundado sobre a luta contra a insegurança.

Tradição e Inovação, conservadorismo e modernidade

(…) Blocher renovou os métodos do partido a partir da secção de Zurique. Tem meios financeiros importantes, uma imprensa que não é negligenciável, particularmente com o hebdomadário nacional de alto nível “Weltwoche”. Dispõe também de uma importante associação, a «Associação para uma Suíça Neutra e Independente». Soube mobilizar a clientela dos desiludidos do sistema político, dos abstencionistas e de numerosos jovens ao mesmo tempo que fidelizava os seus partidários (…)

A UDC: Um movimento democrata-identitário

No fim o autor interroga-se sobre a etiqueta a dar a um tal partido. Recusa os termos “extrema-direita”, ou «direita radical», ou “nacional-conservadorismo” para preferir nacional-populismo. Na realidade o autor não quer pisar o risco e reconhecer o carácter profundamente democrático da UDC, daí a escolha depreciativa da palavra “populismo”. Na verdade estamos na presença de um partido democrata-nacional ou democrata-identitário. Mas a sua fórmula vencedora não é dupla mas quádrupla:

– Democracia directa (crítica da oligarquia no poder)
– Conservadorismo de valores (crítica do laxismo e discurso securitário)
– Liberalismo económico (crítica do fiscalismo e do estatismo)
– Defesa da nação (nomeadamente face a uma imigração exagerada)

Desta forma a UDC conseguiu vitórias eleitorais únicas na história recente da Suíça sem contar os sucessos nas iniciativas e referendos que ela promoveu beneficiando da ajuda da democracia directa.»

O consumo como acção política

(Patrick McGrath Muñiz, Consumerist Gluttony)

Sucede por vezes nos movimentos de aspiração revolucionária (no sentido em que ambicionem alterações de paradigma político) haver uma vontade de apresentar grandes estratégias teóricas de transmutação da sociedade, uma espécie de grande plano com as diversas etapas que conduzirão à mudança e a chegar a um objectivo completamente claro e pré-fixado. Ora, a comum incapacidade de formular esse grande plano teórico, ou aplicá-lo, a aparente inexistência de resultados visíveis, ou a incapacidade de pré-determinar concretamente qual o estado de coisas a que se pretende chegar no final, conduzem muitas vezes à desmotivação e à sensação de que, na realidade, nada pode ser feito, nada mudará verdadeiramente…a isso segue-se a resignação…e é precisamente esse estado de resignação, de “rendição”, em que, não os podendo bater nos juntamos, mesmo se contrariados, a eles, que faz com que as grande mudanças fracassem e os resultados, efectivamente, não surjam.

No fundo é preciso perceber que as grandes mudanças são uma sequência de pequenas alterações muito pouco visíveis. Mas, a dado momento, a soma dessas pequenas alterações, que de início são quase invisíveis, acabará por originar uma mudança abrupta que raramente é antecipada. Parece que surge de repente mas nunca assim é…quem não percebe isto tende a achar que as revoluções são preparadas através de um guião que elenca passo a passo as diferentes fases de acção até chegar a um objectivo perfeitamente pré-delineado.

Assim, um dos grandes erros estratégicos frequentemente cometido por quem se dispõe a combater contra um dado sistema de valores dominante é “querer correr sem antes ter começado a andar”. O fundamental não é conseguir identificar tudo o que está mal e ter as soluções para todos os problemas delineando de uma ponta a outra todo um novo modelo de sociedade mas sim focar a acção nas pequenas alterações, combatendo aqueles pontos nocivos e concretos que conseguimos visualizar e com que nos deparamos no quotidiano e que podem ser mais ou menos atingidos pela nossa actuação, porque muitos a contribuírem para pequenas mudanças geram uma grande transformação no final.

Um exemplo concreto é aquilo que consumimos, ou como consumimos. Todos nós temos, dentro de um certo limite, a capacidade de decidir o que consumir. Esta decisão sobre o consumo tem o potencial de ser um enorme acto revolucionário, e um em que todos podem participar. A soma dessas pequenas decisões e participações pode levar a alterações profundas.

Todos os que combatem contra o modelo de sociedade dominado pelos interesses económicos e caracterizado pela destruição identitária e uniformização cultural do mundo devem ter presente que esse sistema societário actual tem no capitalismo globalizado das grandes marcas ou corporações a sua vanguarda ofensiva.

Assim, a estratégia passa por atacar os pilares da sociedade de consumo…

Uma grande parte do que as pessoas são levadas a consumir não lhes é necessário ou acaba por ser redundante:

– Consumir menos e ter sempre presente a influência da publicidade na incitação sub-reptícia ao consumo. Antes de consumir perguntarmo-nos se precisamos realmente do que vamos comprar. É preciso aprender a resistir à manipulação das mentes através da publicidade e propaganda!

Quando decididos a consumir fazer escolhas conscientes:

– Combater as grandes marcas. Evitar consumir nas grandes corporações multinacionais, almoçar um bife num café em vez de ir ao McDonald’s, beber água em vez de pagar Coca-Cola, não comprar uns ténis de corrida à Adidas ou à Nike, tentar comprar no pequeno comércio em vez de nas grandes superfícies, etc.

Se há algum produto de que gostamos particularmente que seja produzido por uma dessas empresas iconográficas da globalização, pois bem, há de certeza outras de cujos produtos conseguimos prescindir.

Preferir a produção nacional:

– Quando consumir tentar sempre optar por produtos produzidos em Portugal, isso não só reforça o emprego nacional como fere o modelo de produção globalizado. Na impossibilidade de comprar nacional consumir produtos de países que consumam o que produzimos.

Boicotes ideológicos:

– Ter presente que algumas empresas apoiam ou financiam ideias, campanhas e organizações que se opõem ao que defendemos. Boicotar os produtos dessas empresas. Ter presente que alguns Estados nacionais representam a antítese daquilo que defendemos e praticam actos que consideramos injustos. Boicotar o consumo da sua produção.

Temos, evidentemente consciência de que muitas vezes estas opções são limitadas pela capacidade financeira das pessoas e que, em muitos casos, o preço mais baixo que as grandes corporações praticam é um factor de decisão fulcral, ou mesmo o único. Mas nem sempre é assim, há quem, de facto, tenha rendimento que permite fazer escolhas, e há produtos em que a diferença de preço é inexistente ou insignificante. E depois basta ter consciência de que se não for possível fazer estas escolhas sempre, fazê-las de quando em vez, quando surge a oportunidade, significa contribuir para uma pequenina mudança, e se todos fizerem uma pequenina mudança…grandes mudanças surgirão.

Isto é também lutar pela nossa liberdade, a de hoje e de amanhã, porque à medida que mais e mais pessoas reforçam o consumo das grandes marcas maior é a capacidade dessas marcas estrangularem concorrencialmente os pequenos proprietários, e isso significa que também nós e os nossos descendentes veremos crescentemente negada a possibilidade de podermos ser pequenos proprietários, caminharemos progressivamente para um mundo em que todos seremos funcionários, serviçais de corporações megalómanas e minorias riquíssimas que mandarão sobre os povos e os seus Estados nacionais.

A questão é portanto ter presente que o consumo pode ser um acto tão ou mais político do que qualquer divagação teórica-doutrinária sobre grandes mudanças sociais. Consumir conscientemente e não instintivamente, como activistas políticos, eis o desafio que a Revolução nos lança…

Não perguntes o que o partido pode fazer por ti, mas o que tu podes fazer pelo partido


Sobre o discurso contra a islamização da Europa

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Primeiro vou deixar claro o seguinte: Há alguns países da Europa que estão, efectivamente, num processo acelerado de islamização. O combate contra a islamização dos países europeus é absolutamente fulcral para todos aqueles que estão interessados na defesa e preservação das nações europeias. Que sobre isto não fiquem dúvidas.

Contudo, se o discurso contra a islamização da Europa que, sobretudo nos últimos anos, se disseminou preferencialmente nalguns sectores da direita nacionalista, tem muitas razões, vive também de muitas manipulações, ilusões e alucinações.

O propósito deste texto não é amenizar as razões e a premência do combate contra a islamização da Europa mas expurgá-lo das falsas questões e das manipulações que frequentemente o permeiam.

O discurso contra a islamização da Europa pode ter três grandes grupos de aderentes, aqueles a quem a identidade colectiva europeia não interessa para além daquilo que possa interferir com os seus interesses e liberdades individuais: nesse caso o islão pode ser visto como uma ameaça a isso. Aqueles que acham que a Europa é uma comunidade colectiva de adesão a uma determinada doutrina com a qual o islão choca: neste grupo poderão estar, por exemplo, muitos cristãos que não têm mais qualquer interesse na defesa da Europa que vá para lá da esfera da sua fé religiosa. E, por fim, aqueles que se batem pela defesa integral da identidade europeia. E são estes que me interessam e é a estes que me dirijo.

Um discurso que tem de ser devidamente enquadrado

Antes de mais nada, o discurso contra a islamização da Europa é um discurso que faz muito mais sentido nalguns países do que noutros, porque, apesar de todo o Ocidente estar a ser, autenticamente, invadido por uma imigração massiva sem paralelismo na história da humanidade, só nalguns países é que uma parte substancial dessa imigração é islâmica. Assim, falar de islamização de Portugal ou da Irlanda, para dar alguns exemplos, é pouco menos que ridículo. Mas faz sentido falar desse risco em países como a França, a Bélgica ou a Holanda porque as populações vêem, sentem e sofrem com essa presença islâmica no seu quotidiano.

Não significa isto que a islamização de países europeus não constitua uma séria ameaça para aqueles que não estão a passar directamente por esse processo, porque pela sua vontade expansionista e totalitária, pela radicalidade de vários dos seus sectores, a islamização de alguns países europeus exporia, ou exporá, os outros a essa voragem.

Mas se é legítimo e até necessário alertar para esse perigo, a verdade é que os movimentos identitários e nacionalistas europeus têm primeiro que tudo de se dirigir ao seu povo, à sua realidade social específica, àquilo que faz sentido para a população de que fazem parte. A casa não se começa a construir pelo telhado. Em última análise o combate contra a islamização de certos países da Europa tem sempre de ser travado pelos povos que passam por isso e não adianta de muito haver outros a falarem do exterior contra o facto, porque se não houver vontade e capacidade de resistência nas nações que estão a ser alvo dessa transformação não haverá nada a fazer. Estarmos em Portugal a falar de islamização da Holanda é redundante porque os holandese é que podem resolver o problema e eles estão consciente do que está a suceder, e se não estiverem não o ficarão certamente por haver outros a dizerem-lhes o que está a acontecer na sua própria pátria.

É preciso por isso que, dentro de cada país, os movimentos de resistência saibam enquadrar-se naquilo que são os seus próprios problemas reais e locais antes de pretenderem pensar em cenários futuros ou hipotéticos que os possam vir a afectar. É uma questão de ter presentes as devidas prioridades.

O problema não é a islamização, é a imigração

Desviar o discurso da imigração para a islamização gera confusões doutrinárias graves, porque abre espaço a que a Europa deixe de ser entendida como um espaço com características étnicas e culturais específicas ameaçadas pela imigração não-europeia para passar a ser um espaço de adesão a determinados valores que o islão poderia ameaçar: por exemplo a cristandade ou a laicidade republicana. Ora eu não sou ou deixo de ser europeu por acreditar na mensagem de Cristo ou na tríade de valores celebrizados pela revolução francesa (igualdade-liberdade-fraternidade) e nos seus “direitos humanos”. Estas coisas excluiriam, aliás, alguns dos mais brilhantes pensadores europeus, desde Platão e Séneca a Nietzsche e Heidegger. Ora, o islão ameaça tanto a identidade europeia como a presença de povos africanos ou asiáticos com outras crenças. Todas essas realidades, se a sua presença for significativa, representam corpos estranhos à Europa. E quem não o entender não pode ambicionar mais do que uma Europa amputada, uma mixórdia que não é continuadora e respeitadora da sua essência e das suas origens.

É fundamental, por isso, perceber as hierarquias do problema e subalternizar a crítica da islamização europeia à crítica, mais ampla, da imigração desregrada. Se isso não for feito, o resultado não será apenas a confusão doutrinária no interior dos movimentos nacionalistas mas também a confusão – para o exterior – com determinadas forças que são contra a islamização da Europa mas que, ao mesmo tempo, são indiferentes à defesa da identidade integral europeia…isto quando não lhe são manifestamente adversas.

Os riscos que advêm daqui são múltiplos: erros de análise na distinção entre amigos e inimigos, desencaminhamento de militantes, atracção de outros pelas razões erradas, desacerto nas batalhas a travar e no objectivo a atingir, etc.

Se o combate à imigração e o combate ao islão não forem devidamente enquadrados e hierarquizados, caminhar-se-á progressivamente para uma “reductio ad islam” que resultará em achar que esse é o combate central e que, findo esse, os objectivos estão alcançados. Dessa forma, mesmo para aqueles que conseguissem entender que o problema do islão na Europa provém sobretudo do problema da imigração, a solução seria, quanto muito, a mera redução da imigração islâmica, sem mais considerações contra as outras proveniências dos movimentos migrantes.

As forças subversivas por detrás do discurso contra a islamização da Europa

Por detrás do discurso contra a islamização da Europa estão muitas forças que não têm relação com a concepção de Europa própria dos ideários nacionais e identitários.

Grupos cristãos: dentro da incontável variedade de famílias cristãs (todas elas convencidas de serem portadoras da Verdade e do único caminho que salva do Inferno) existe de tudo, desde os que têm colaborado, pelos mais variados motivos de índole bíblica, com a presença islâmica nas terras europeias aos que se lhe opõem vendo nisso uma ameaça, lógica, diga-se de passagem, à força do cristianismo. Mas mesmo estes últimos não são forçosamente parte da “resistência europeia”. Porque ser-se cristão não é condição necessária, e muito menos suficiente, do “ser europeu”. Para muitos deles o que lhes interessa defender é a força da sua fé religiosa e a sua comunidade é a de todos os homens – de todo o mundo – que partilham a sua espiritualidade. Podem não querer islâmicos na Europa mas apoiam frequentemente a imigração não-europeia cristã ou potencialmente convertível. A luta pela identidade europeia não é essa.

Lobbies judaicos: Por detrás das grandes transformações políticas que minaram a coesão étnica e cultural das nações europeias encontrou-se frequentemente uma forte presença de lobbies judaicos. Durante séculos o judeu foi o elemento estranho no seio das nações europeias, e durante séculos sentiram as consequências dessa diferença. Ao fomentarem politicas de imigração não-europeia e ao combateram as manifestações sociais do tradicionalismo europeu os judeus conseguiram assim atenuar ou até eliminar aquilo que os tornava um elemento estranho, porque numa sociedade sem homogeneidade cultural e anti-tradicional, eles passaram a ser apenas mais um grupo no meio de tantos outros, a partir do momento em que o multiculturalismo e a diferença étnica se torna a norma a sua diferença extingue-se e cessam as barreiras à afirmação do seu poder. Mas se lhes interessou a imigração massiva para a Europa não lhes interessa a parte islâmica dessa imigração, porque o islão representa, por várias razões, uma ameaça aos seus interesses e ao seu estatuto na Europa bem como à segurança de Israel (e não nos esqueçamos que a Europa tem armas nucleares). Para os lobbies judaicos importa, por isso, travar a islamização da Europa mantendo, contudo, os factores (entre os quais a imigração massiva) que transformam a Europa, não numa realidade histórica etno-cultural, mas numa ideologia política assente numa visão universalista e aberta à diversidade cultural e religiosa, ou seja, a eles. Estes não são, obviamente aliados na luta pela identidade europeia.

Interesses norte-americanos: Tal como no caso dos lobbies judaicos (que aliás, hoje actuam, e por vezes se confundem, com a política externa norte-americana) também aos pensadores da hegemonia global norte-americana interessa uma Europa assente num modelo globalizado e multicultural, desde que não exista o risco de islamização. Isto porque o Islão é hoje uma das grandes forças de resistência à geopolítica global do Império norte-mericano. Aos EUA interessa uma Europa que se insira na lógica do que é o modelo societário dos EUA, em que o mercado global acaba por ser o único delineador de identidades, um mundo em que as pessoas são antes de tudo produtores e consumidores, de individualismo radical, em que a economia determina os valores. A islamização do continente europeu não representaria apenas uma ameaça à geopolítica global e ao poderio militar norte-americano, mas também uma ameaça à lógica mercantilista do seu modelo de sociedade. Conclusão: Também nalguns sectores políticos estado-unidenses existem os que lutam contra a islamização da Europa, mas também esses são ferozes inimigos da identidade europeia.

Existem depois outros grupos, feministas, homossexuais, ateus, libertários, etc., que, por razões que têm a ver com o seu posicionamento político histórico, sentem ainda relutância em aderir a um combate que, lá no fundo, interpretam como sendo contra o “outro-diferente-excluído”. Mas assim que o islão começar a “excluir” a “diferença” desses grupos, mais e mais entrarão nessa luta, em defesa dos seus interesses individuais, não das identidades históricas nacionais da Europa.

Como é que as forças subversivas actuam?

Uma parte da estratégia delineada pelas forças subversivas passa por influenciar ou infiltrar os movimentos nacionalistas, uma vez que sabem que são estes os mais receptivos e activos no combate contra os factores de destruição da Europa tradicional. E o islão é, sem margem para dúvidas, uma entidade estranha e perigosa. Esta tentativa de manipulação dos meios identitários faz-se de diversas maneiras, das quais destacamos:

A internet: Uma parte substancial desse trabalho de manipulação do discurso nacionalista faz-se através de sites e fóruns na internet que se focam, 24 horas sobre 24 horas, na colecção de notícias e textos que retratam o lado mais negro do islão. Algumas dessas notícias e alguns desses textos são verdadeiros outros são falsificações mais ou menos grosseiras (por exemplo, ainda me lembro, há uns tempos, da forma como vários sites divulgaram que no Irão os judeus eram obrigados a usar uma estrela amarela na roupa, notícia falsa que acabou por não ser desmentida pela maioria dos que inicialmente a divulgaram). Tudo vale. Estes sites funcionam como centrais de propaganda ininterrupta que para além de divulgarem fornecem material para ser divulgado por outros sites. Muitos dos que vão lá buscar material são nacionalistas que depois acabam por funcionar como um elo na cadeia de transmissão daquela propaganda, demasiadas vezes sem fazer a devida triagem ou confirmar a credibilidade das fontes.

Não é também por acaso que a maior parte desses sites são escritos em inglês e têm uma lógica bastante simplista ou até maniqueísta. Por um lado o inglês, pela sua universalidade, facilita a divulgação transversal por todos os países do material ali publicado, por outro lado, muitos dos contribuintes com comentários e textos para esses sites são, “estranhamente”, anglófonos. Isto apesar dos sites estarem sedeados nos mais diferentes países. Por fim, os nacionalistas que são mais permeáveis àquela publicidade são naturalmente os que, para além da sua língua, apenas lêem em Inglês. Privados do que se publica em francês, italiano, espanhol ou alemão, isto é, dos textos escritos com fidelidade à tradição continental europeia, com coerência e força doutrinal e cientes das reais ameaças à identidade da Europa, limitam-se a sorver o que se publica em inglês, onde, regra geral, encontramos um grande desconhecimento da realidade e da tradição política da Europa e um pensamento estruturado em função do que foram e são as tradições e problemas políticos anglo-saxónicas com as suas peculiaridades próprias e o seu discurso de inspiração liberal. Neste sentido, os sites nacionalistas que bebem naqueles acabam por funcionar, desadequados ao espaço político onde estão inseridos, como um elo de deformação da doutrina nacionalista europeia, e um factor de desencaminhamento e confusão para os que os lêem.

Organizações e partidos nacionalistas: Desde o final da segunda guerra mundial que as tentativas de manipular por dentro as organizações e partidos nacionalistas foram implementadas, com vários objectivos, controlá-las, desacreditá-las ou, simplesmente, usá-las em combates que servem outros interesses externos. Isto começou através da CIA com as chamadas redes “Gladio” e tem hoje alguma expressão no discurso anti-islamização. Em troca da possibilidade de apoios, acesso aos media ou respeitabilidade política, os partidos e organizações nacionalistas são incentivados a focarem-se no problema da islamização da Europa, relegando para plano secundário outros que são igualmente dramáticos para a sobrevivência do continente. As organizações e partidos nacionalistas, mesmo quando conscientes disso aceitam por vezes o trade-off, afinal, a islamização não deixa de ser um grave problema e, ao mesmo tempo, a sua crítica pode ser publicamente apresentada em defesa da “democracia ocidental” ou dos “judeus”, ou dos “direitos das mulheres e dos homossexuais” (tudo isso ameaçado pelo expansionismo islâmico), que são discursos e justificações mais fáceis.

Às forças subversivas interessa sobremaneira controlarem os movimentos nacionalistas, por um lado porque sabem que é dali que poderá vir o combate e a denúncia dos seus interesses, e assim interessa-lhes re-direccionar esses movimentos para outros sentidos e outras lutas, e por outro lado porque podem dar expressão a um discurso politicamente incorrecto sem se prejudicarem demasiado, servindo-se dos nacionalistas e identitários.

É preciso também saber distinguir, para evitar maiores equívocos, entre a utilização por parte de forças subversivas dos movimentos legitimamente interessados na defesa da Europa e a existência de personalidades, publicações e organizações que se focam quase exclusivamente no combate ao islão mas que não têm relação alguma com os movimentos nacionais e identitários da Europa.

Conclusão – como agir:

A denúncia da islamização da Europa é importante por parte dos movimentos de “resistência europeia” mas ela deve ser devidamente pensada e enquadrada.

Nos Estados onde esse problema não se sente localmente, o discurso tem de se centrar noutros problemas e a crítica à dita islamização deve ser inserida no risco que representaria para todos os países europeus a islamização de parte do continente. É fácil de perceber que constituiria um risco para a liberdade e a cultura dos países limítrofes a existência de uma potência ao serviço da fé islâmica no seio da Europa.

Nos Estados onde esse problema se faz sentir efectivamente o discurso contra a islamização da Europa é mais premente mas deve ser inserido no problema mais amplo da imigração e não poderá nunca sobrepor-se ao primeiro. A islamização não pode ser denunciada como um perigo para o modo de vida ocidental (o que leva a concluir que a imigração “não-islamica”, não sendo contrária às liberdades individuais do Ocidente, seria bem-vinda ou um “não-problema”) mas como uma ameaça à identidade histórica da Europa com a mesma gravidade que é colocada por qualquer tipo de imigração não-europeia, cada uma com os seus problemas específicos. É isto que, em geral, é feito nos países onde a doutrina nacionalista está mais consolidada e é mais madura, como França ou Itália, mas não me parece que seja isto que é feito, genericamente, na Holanda, por exemplo.

Saber distinguir os amigos dos inimigos e saber escolher os aliados é fundamental. É preciso separar o trigo do joio. Se fora da nossa área há interesses politico-económicos que falam contra a islamização da Europa, óptimo, mas saibamos servir-nos deles e não servi-los a eles. É preciso alertar os nossos para o facto de certas convergências que possam ocorrer a este nível serem meramente ocasionais e situadas num determinado contexto, muitos dos que falam contra a islamização da Europa pretendem a destruição do nosso continente por outras formas, os nossos objectivos não são os deles, a Europa dos movimentos nacionalistas e identitários não é a Europa dos interesses norte-americanos, de Israel e dos judeus, da Igreja Católica ou de alguns esquerdismos republicanos de “causas fracturantes”. Se os discursos se cruzarem não esqueçamos que fora dessa batalha a nossa causa não é a causa deles e muitas vezes a causa deles é a morte da nossa causa.

Ler e procurar informação fora do mundo anglo-saxónico. Não significa isto que em Inglaterra e nos EUA não existam homens dos nossos, a travarem a mesma guerra e com verdadeira formação doutrinária. Mas se devemos também estar abertos a esse espaço cultural, não podemos de forma alguma cingir-nos a ele porque a verdade é que a essência da nossa tradição política reside na Europa continental, foi aí que foram escritas as grandes obras da nossa área ideológica e é daí que continuam a vir os grandes textos de orientação política para compreender o nosso mundo.

Desconfiar daqueles que pretendem dividir e transformar a área nacionalista num combate entre simpatizantes de Israel e simpatizantes do mundo islâmico, desperdiçando as energias da área nessa luta. O confronto entre os judeus e os islâmicos não é uma preocupação nossa excepto na medida em que afecte o nosso continente. E nesse sentido, uns e outros têm sido, embora de formas diferentes, forças de subversão no interior da Europa.

Impedir que o combate à islamização conquiste e monopolize o discurso nacionalista. A islamização da Europa não invalida que o continente esteja ameaçado por outros factores igualmente perigosos: a hegemonia dos poderes económicos sobre o homem, a globalização, o modelo societário norte-americano, a imigração não-europeia de todos os tipos, a força parlamentar e empresarial de “sociedades secretas”, a decadência dos valores, a manipulação pelos meios audiovisuais, a perversão do Estado, entre outros.

Uma década de PNR. E agora?

10 anos de PNR: Balanço de uma década. E depois?

Não venci todas as vezes que lutei;
mas perdi todas as vezes que deixei de lutar!

A concretização de um sonho

O aparecimento do PNR constitui, na altura, a concretização de um sonho para muitos de nós que militáramos antes em diversos movimentos e associações da dita “área nacional”, ou apenas sem qualquer filiação. Costumávamos ser os observadores da ponta da Europa. Habituados a olhar lá para fora e ver a realidade de partidos que não só existiam, de facto, como conseguiam “criar poder”.
Finalmente a oportunidade foi criada com o esforço de alguns que até hoje recusam os louros, como verdadeiros militantes que são. Apesar de todas as divergências, entendemos que o nosso lugar era o mais difícil, isto é, dentro. E nunca o cómodo lugar de “treinador de bancada”, tão crítico como ausente.
Abria-se uma frente política para o nosso combate. E como desertar? Perante a descrença e o desânimo da maioria, avançámos com convicções. Não com as ilusões do partidarismo dos lugares e dos interesses, mas a força dos ideais – hoje tão esquecidos –, que marcam a nossa presença que se afirma pela diferença.

A dura lição do trabalho

Neste árduo percurso, desde logo se notou a falta de uma cultura associativa. A inexperiência e a desconfiança de um mundo ao qual não estávamos a habituados. Um mundo que, aliás, recusáramos durante tanto tempo.
Mas com todas as críticas possíveis, devemos entender os erros desse tempo como parte do processo de amadurecimento e crescimento. O facto de termos tudo contra nós, pode fortalecer-nos como aqueles que nos atacam nunca imaginariam.
Mas isto, claro, se entendermos o nosso combate como uma forma de vida e não como um hobby, uma forma de entretenimento. Ou pior, uma forma de afirmação de nós próprios perante algo ou alguém.

A armadilha da ditadura mediática

Na sociedade do espectáculo em que vivemos hoje é difícil resistir à tentação dos “15 minutos de fama”. Num mundo do imediatismo e do presentismo é muito difícil transmitir uma mensagem de esforço continuado e de combate a longo prazo, depois do fast-food instalou-se o fast doing. Os resultados não aparecerão amanhã, mas o nosso trabalho deve garantir as gerações futuras – essa é a nobreza do nosso combate. A nossa satisfação é apenas o sentimento do dever cumprido e nunca o da recompensa imediata. Somos homens de pé, resistentes pensantes, não animais de circo no carrossel hedonista.
O aparente sucesso da exposição mediática, normalmente guiado pela máxima “fala mal, mas fala de mim” é não só perverso como demasiado prejudicial a longo termo. Numa fase inicial, é irresistível. Queremos que “nos conheçam”, mas na verdade permitimos a outros que nos dêem a “conhecer”. A imagem que passa – e não é mais que isso mesmo, uma imagem – nunca é, obviamente, a que queremos.
Depois de toda essa visibilidade, a queda. Pior, a banalidade, a anedota, a “coisa” estranha e distante, com a qual ninguém se identifica.
E como sair?

A chave: Seriedade

Uma das perguntas recorrentes na nossa área política, aqui e no estrangeiro, é: queremos verdadeiramente ganhar? Para os poucos que respondem que sim, não é preciso lembrar que tal apenas se faz com trabalho, disciplina, probidade e seriedade. Esta atitude é, aliás, a chave da nossa vitória. Devemos ser o exemplo e jamais alvo de opróbrio.
O primeiro passo no nosso caminho somos nós próprios. Se não encarnarmos o nosso ideal, estamos a tentar passar ideias ocas, sem sentido, como que a vender embalagens vazias. Tal pode não ser fácil nos tempos que correm, mas é exactamente nesse esforço e nessa fidelidade que nos tornaremos exemplo a seguir. Não devemos camuflar o que somos ou queremos. Se nos queremos representantes da Nação, não podemos viver num gueto, pois nunca chegaremos aos nossos compatriotas. A única forma de o conseguir é sendo sérios e responsáveis.Numa altura de inversão de valores, respeitaremos a Tradição. Como escreveu o historiador francês Dominique Venner: “Viver de acordo com a tradição é abraçar os ideais que ela encarna, é cultivar a excelência em relação à sua natureza, reencontrar as suas raízes, transmitir uma herança, ser solidário com os seus. Isto também significa expulsar de nós próprios o niilismo, mesmo que nos sacrifiquemos em aparência às normas práticas de uma sociedade que está escravizada pelo desejo”.

Da política espectáculo à influência política

Recusando a cegueira das luzes da fama aparente, podemos concentrar-nos no importante trabalho de “criação de poder”. Muito foi já feito nas duas últimas eleições a que o PNR concorreu. É disso exemplo a presença de militantes nas mesas de voto e as candidaturas a juntas de freguesia. Mas, como sempre, há muito mais a fazer. Norteados pelo princípio da implantação local, devemos ter como prioridade a real existência de núcleos operativos de militantes na maioria do território nacional, a influência em associações e organizações locais ou de causas transversais, apenas para referir as mais importantes.
Para levar a cabo todo este esforço temos que estar preparados. É necessário iniciar uma preparação interna de quadros, aptos aos desafios de amanhã. Começando dentro das medidas das nossas possibilidades, sem megalomanias, dando prioridade aos dirigentes do partido e militantes mais activos.
Em todo o nosso trabalho fundamentado, que nos levará por fim à desejada influência política, jamais deveremos deixar de ter sempre presentes os nossos objectivos.

O que queremos?

Queremos a vitória das nossas ideias – da nossa concepção do mundo. Não podemos confundir esta nossa vontade com um efémero sucesso eleitoral do partido, ou de uma sigla, embora a devamos igualmente perseguir enquanto partido com base num trabalho estruturado. A nossa via, porém, não é a do imediatismo. A nossa luta é um longo caminho no qual nunca podemos esquecer os pontos-chave: a defesa da nossa identidade étnica, cultural e civilizacional; o combate ao liberalismo e ao mundialismo; a defesa da justiça social e do Ambiente. Propomos ideias adequadas aos tempos modernos, mas ancoradas em valores eternos.

O nosso legado

Como militantes, interessa-nos mais o combate que a vitória. Acreditamos nela, mas não precisamos dela para continuar. Como os construtores de catedrais, o nosso mérito é a fidelidade à continuação da obra e a valorização do trabalho conjunto. Não esqueçamos nunca que a História é sempre inesperada e, quando a altura chegar, temos que estar preparados. Como um elo na corrente da perenidade da nossa Nação, aprendemos com os que nos antecederam e passaremos o testemunho aos que nos seguirem. Somos os portadores da chama.

Duarte Branquinho,
secretário da Mesa da Convenção Nacional

Humberto Nuno de Oliveira,
presidente do Conselho de Jurisdição Nacional

José Carlos Craveiro Lopes,
membro do Conselho Nacional