Categoria: Filosofia e Cosmovisão

Sobre a propaganda – Um texto essencial

A somar a um certo nível de vida, outra condição tem de ser alcançada: para o homem ser devidamente alvo de propaganda, ele precisa de ter um mínimo de cultura. A propaganda não consegue ter êxito onde as pessoas não têm registo de cultura ocidental. Não estamos a falar de inteligência; algumas tribos primitivas serão seguramente inteligentes, mas têm uma inteligência estranha aos nossos conceitos e costumes. É necessária uma base – por exemplo, educação: um homem que não sabe ler facilmente escapará à maioria da propaganda, tal como um homem que não está interessando em ler. As pessoas costumavam pensar que aprender a ler evidenciava o progresso humano, ainda celebram o declínio da iliteracia como uma grande vitória, condenam-se países com uma grande percentagem de analfabetos, pensa-se que saber ler é uma estrada para a liberdade. Tudo isto é discutível, porque o importante não é ser capaz de ler, mas perceber o que se lê, reflectir e fazer um julgamento sobre o que se lê. Fora disso, ler não tem qualquer significado (e até destrói certas qualidades automáticas de memória e observação). Mas falar de faculdades críticas e discernimento é falar de algo muito acima da educação elementar e considerar uma minoria muito pequena. A vasta maioria das pessoas, talvez 90%, sabem ler, mas não exercitam a sua inteligência para além disso. Atribuem autoridade e valor eminente ao que é publicado, ou, inversamente, rejeitam-no totalmente. Como estas pessoas não possuem conhecimento suficiente para reflectir e discernir, acreditam – ou descrêem totalmente no que lêem. E como essas pessoas escolherão a leitura mais fácil estão precisamente no nível em que a palavra publicada os consegue agarrar e convencer sem oposição. Estão perfeitamente adaptados para a propaganda.

Não vamos dizer: “se lhes déssemos melhores leituras…”, “se estas pessoas recebessem uma melhor educação…”. Tal argumento não tem validade porque as coisas não são assim. Não vamos também dizer:”Isto é apenas a primeira fase, em breve a sua educação será melhor, é preciso começar por algum lado”. Primeiro, é preciso muito tempo para passar da primeira para a segunda fase. Em França a primeira fase foi alcançada há meio século atrás e ainda estamos muito longe de atingir a segunda fase. Mas há mais, infelizmente. Esta primeira fase colocou o homem ao dispor da propaganda. Antes de poder passar para a segunda fase, ele vai encontrar-se num universo de propaganda. Ele vai ser formado, adaptado, integrado. É por isto que o desenvolvimento da cultura, na URSS, pôde ser feito sem perigo. Pode atingir-se um nível cultural mais alto sem deixar de ser um receptáculo da propaganda desde que se fosse um receptáculo da propaganda antes de adquirir faculdades críticas, e desde que essa mesma cultura esteja integrada no universo da propaganda. Na verdade, o resultado mais evidente da educação elementar nos séculos XIX e XX foi tornar o indivíduo susceptível à superpropaganda (1). Não há qualquer possibilidade de elevar o nível intelectual das populações ocidentais suficientemente e tão rapidamente de forma a permitir-lhes escapar ao processo de propaganda. As técnicas de propaganda avançaram muito mais rapidamente do que as capacidades de raciocínio do homem comum, de tal forma que diminuir essa distância e formar esse homem fora do mecanismo de propaganda é quase impossível. Na realidade, o que acontece e o que vemos em nossa volta é a reivindicação de que a própria propaganda é a nossa cultura e que as massas devem aprender. Apenas dentro e através da propaganda é que as massas têm acesso à economia, política, arte ou literatura. A educação elementar torna possível penetrar no reino da propaganda, dentro do qual as pessoas recebem depois a sua formação intelectual e cultural.

O homem inculto não pode ser atingido pela propaganda. A experiência e a investigação feita pelos alemães entre 1933 e 1938 mostrou que nas áreas remotas, onde as pessoas mal sabiam ler, a propaganda não tinha qualquer efeito. O mesmo é verdade para o enorme esforço feito pelo mundo comunista para ensinar as pessoas a ler. […]

Um dos métodos de propaganda mais eficazes na Ásia comunista foi estabelecer professores para ensinar a ler e doutrinar as pessoas ao mesmo tempo. O prestígio do intelectual – “marcado com o dedo de Deus” – permitiu que afirmações políticas aparecessem como verdades, enquanto o prestigio da palavra publicada, que se havia aprendido a decifrar, confirmava a validade do que os professores haviam dito. Estes factos não deixam margem para dúvidas de que o desenvolvimento de uma educação elementar é uma condição fundamental para a organização da propaganda, ainda que uma tal conclusão seja contrária a muitos preconceitos, melhor expressos pelas palavras pungentes mas totalmente irrealistas de Paul Rivet: “uma pessoa que não sabe ler um jornal não é livre”.

Esta necessidade de um certo nível cultural para tornar as pessoas susceptíveis à propaganda (2) é melhor entendida se olharmos para um dos instrumentos mais importantes da propaganda: a manipulação de símbolos. Quanto mais um indivíduo participa na sociedade de que faz parte, mais se agarrará a símbolos estereotipados que expressam conceitos colectivos sobre o passado e o futuro do seu grupo. Quanto mais estereótipos numa cultura, mais fácil formar a opinião pública, e quanto mais um indivíduo participa nessa cultura, mais susceptível se torna à manipulação desses símbolos. O número de campanhas de propaganda no Ocidente que primeiro conquistaram sectores cultos é impressionante. Isto não é apenas verdade para a propaganda doutrinaria, que é baseada em factos exactos e actua ao nível das pessoas mais desenvolvidas, que têm um sentido de valores e sabem um bom bocado sobre realidades políticas, como, por exemplo, a propaganda sobre a injustiça do capitalismo, as crises económicas ou o colonialismo; é normal que as pessoas com mais educação (os intelectuais) sejam os primeiros a ser atingidos por essa propaganda…tudo isto corre em sentido contrário às noções de que apenas o público engole a propaganda. Naturalmente, o homem educado não acredita na propaganda; está convencido que a propaganda não tem qualquer efeito sobre ele. Esta é, na verdade, uma das suas grandes fraquezas, e os propagandistas estão bem cientes de que para chegarem a alguém, devem primeiro convencê-lo de que a propaganda é ineficiente e pouco clara. Por estar convencido da sua própria superioridade, o intelectual é mais vulnerável do que qualquer outra pessoa a esta manobra…

(1)Porque considerava o jornal o principal instrumento de propaganda, Lenine insistiu na necessidade de ensinar as pessoas a ler. Foi o chamariz da Nova Política Económica. A escola tornou-se o sítio para preparar os alunos para receberem propaganda.

(2)Temos também de considerar o facto de numa sociedade em que a propaganda – seja directa ou indirecta, consciente ou inconsciente – absorve todos os meios de comunicação ou educação (como era em 1960 em praticamente todas as sociedades) a propaganda forma a cultura e é, em certo sentido, a própria cultura. Quando os filmes e as novelas, os jornais e a televisão são instrumentos de propaganda política em sentido restrito ou no sentido das relações humanas (propaganda social), a cultura está perfeitamente integrada na propaganda; em consequência, quanto mais culto um homem é, mais propagandizado está. Aqui podemos observar também a ilusão idealista daqueles que esperam que meios de comunicação social criem uma cultura de massas. Essa “cultura” é simplesmente uma forma de destruir a personalidade.

Jacques Ellul, Propaganda: The Formation of Men’s Attitudes, pgs 108-111, 1973

Análise filosófico-política ao Real Madrid – Barcelona

Os jogos entre o Barcelona e o Real Madrid, para além de serem grandes espectáculos futebolísticos, extravasam essa dimensão meramente desportiva. O que se joga é um confronto entre duas concepções totalmente diferentes do mundo, entre éticas e estéticas diametralmente opostas. E mais uma vez, para nosso deleite, o Barcelona saiu vencedor, dentro e fora do jogo.

Antes de chegarmos a esse embate de mundivisões, mas igualmente interessante, é o confronto entre certas individualidades que representam um e outro lado, no caso concreto, a comparação entre Mourinho e Guardiola e Ronaldo e Messi.

Comecemos pelos treinadores…mais uma vez Guardiola não só saiu vencedor dentro de campo como fora dele. Aquilo que em Portugal nos habituaram a celebrar como “grandes jogadas psicológicas de Mourinho”, o “maior do mundo”, não passam frequentemente de provocações sujas, achincalhamento dos adversários, fruto de má formação, que aliás sobressai em todos os momentos importantes da carreira do indivíduo. Nas vésperas do jogo, enquanto Guardiola compareceu na conferência de imprensa para falar das equipas, Mourinho, esse génio dos “jogos mentais”, mandou um dos adjuntos falar aos jornalistas, como que dizendo que ele era demasiado importante para ir ali perder o seu tempo, e, ao mesmo tempo, procurando desvalorizar o jogo e o adversário. Se fora de campo deu uma lição de arrogância, dentro de campo foi o que se viu, levou uma lição de futebol. Infelizmente, e como era esperado, Mourinho, no final, não teve a hombridade e a humildade de reconhecer a superioridade do adversário ou do treinador rival, não! Segundo o “mestre dos jogos mentais” o Barcelona teve sorte! Pasme-se, o Real Madrid fez um golo nos primeiros segundos, num lance totalmente fortuito e que resultou de um azar do guarda-redes do Barcelona, que falhou um pontapé, e basicamente, desde aí, nunca mais tocou na bola… levou três golos como podia ter levado 5… e o outro é que teve sorte. Como não podia deixar de ser, e apesar da sua equipa ter dado porrada em tudo o que mexia ainda teve o desplante de vir dizer que o Messi deveria ter sido expulso. Nem sequer teve a capacidade de não falar numa arbitragem que não o prejudicou de forma alguma. Enfim, a habitual falta de classe a contrastar com a classe habitual de Pepe Guardiola.

E Ronaldo? Foi totalmente anulado pela equipa do Barcelona. A tal ponto que começou a ouvir assobios dos próprios adeptos do Madrid, no único estádio do mundo onde não era apupado. Do outro lado, Messi, esse sim o melhor jogador do mundo, deu novamente um show, foi decisivo e desequilibrou (juntamente com outros companheiros seus) a partida. Ronaldo é um bom jogador mas um insuportável fenómeno mediático, Messi é um jogador brilhante e um inacreditável fenómeno futebolístico. Não há comparação possível.

Mas deixemos então esses pequenos detalhes e cinjamo-nos ao que interessa: a dimensão colectiva daquela batalha encerra um confronto de ideias e de filosofias que vão muito para lá de um mero jogo de futebol.

Uma concepção enraizada e identitária contra uma concepção mercantilista e cosmopolita

O Barcelona é um clube que representa uma ética enraizada e identitária enquanto o Madrid representa uma concepção mercantilista e cosmopolita. A maior parte dos jogadores do Barcelona são formados nas escolas do clube e desde pequenos identificados com a cultura do Barça. São muito bem pagos, ou não fossem os melhores do mundo, mas sentem a cultura do Barça porque aquela é desde sempre a sua comunidade. O Madrid, pelo contrário, gasta fortunas a comprar os melhores jogadores que encontra em todas as partes do mundo, jogadores que não têm qualquer ligação ao clube mas sim aos salários astronómicos que os atraem para ali. O Madrid funciona como qualquer outra multinacional em qualquer outro negócio.

Note-se por exemplo que o Barcelona não teve publicidade paga nas suas camisolas durante 111 anos, e só em 2011 quebrou, para nosso desgosto, esse princípio. Ainda que preferíssemos que o Barça se tivesse mantido fiel a essa lógica não comercial, a verdade é que a mercantilização crescente do futebol e a necessidade do clube competir com equipas que recebiam valores astronómicas de publicidade acabou por levar a essa ruptura com a sua tradição. Mesmo assim, o patrocinador que foi aceite para as camisolas foi uma ONG, e, sendo uma boa proposta comercial, certamente não seria a melhor oferta em cima da mesa.

Servir o colectivo ou servir-se do colectivo

A outra diferença de monta na filosofia que os dois clubes representam, diz respeito à forma como as individualidades se relacionam com o colectivo.

O Barcelona poderá até ter o melhor jogador do mundo (Messi) e talvez aqueles que mais perto estarão dele (com destaque para Xavi e Iniesta), mas são os jogadores do Real Madrid que parecem ter mais “nome”. Isto resulta das diferenças de identidade entre as duas equipas. Enquanto que no Madrid, o colectivo conta com as suas vedetas para resolverem os jogos naqueles desequilíbrios e rasgos individuais que só os predestinados conseguem fazer, no Barça são as individualidades que contam com o colectivo para ganhar os jogos. Os grandes jogadores do Barca, jogam para o colectivo, sacrificam-se pela equipa, são menos individualistas e menos egoístas, jogam mais em conjunto, é a força do colectivo que sobressai. No Real é o contrário, há mais individualismo, todos aspiram a ser a vedeta da noite, o colectivo está ali para fazê-los sobressair a elas, as grandes individualidades. No Barça, os melhores servem o colectivo e é o colectivo que mais ganha, no Real, os melhores servem-se do colectivo e é o seu vedetismo que mais ganha.

A Fidelidade a princípios contra a lógica dos meios que justificam os fins

O que também se observou ontem, uma vez mais, é que o Barça é um clube fiel a princípios, mesmo se esses princípios parecem vencidos. O Barça nunca renega o seu estilo. Isto é patente no facto do Barcelona jogar sempre, em todos os campos e sejam quais forem as circunstâncias, com os mesmos princípios e valores, aqueles em que acredita e que defende. O Barcelona não mudou a sua estratégia por ir jogar ao estádio mais difícil do planeta, e não mudou a sua forma de actuar quando, com poucos segundos de jogo e nesse mesmo estádio adverso, se encontrou a perder. No Barça não se trata apenas de ganhar, mas sim de ganhar a jogar de uma determinada maneira, ou então de sair derrotado mas a jogar assim!

O Real, pelo contrário, adapta a sua estratégia e os seus princípios às circunstâncias. Jogam da forma que acham que lhes permitirá vencer, seja ela qual for e implique o que implicar, mesmo a negação dos seus princípios de jogo mais habituais. No Real os fins justificam os meios, o que interessa é ganhar, seja a jogar como for. O Madrid adapta o seu jogo ao adversário e às situações. Foi o que tentou fazer ontem, alterando, uma vez mais, o seu desenho táctico e a sua estratégia.

No final, o Barcelona poderá até perder o campeonato, mas uma coisa é certa, permanecerá fiel aos seus princípios, mesmo se derrotados. A honra do Barcelona chama-se fidelidade.

A arte(?) ideológica contemporânea

A arte tradicional, na maior parte dos países, representa geralmente os quatro temas que constituem, segundo Heidegger, o “mundo” dos homens.

A divindade, os homens, a natureza, o ideal

Quando a arte representa a divindade: é o caso da arte grega clássica que tanto marcou a nossa. É o caso da arte da Idade Média, principalmente religiosa. A arte religiosa constitui a maioria das obras-primas apresentadas nos nossos museus de arte antiga. A arte que representa o Buda pertence também a essa categoria. O Islão recusa-se a representar deus mas os versos do Corão são representados de maneira decorativa.

Quando a arte representa os homens: é nomeadamente o caso da arte do retrato. O rosto humano é representado não somente nas telas mas também nos monumentos e sob a forma de esculturas. No cristianismo a representação de Deus e a representação dos homens convergem frequentemente, porque Deus encarna num homem, o Cristo. Mas o retrato pode também representar um rei, um guerreiro, um simples camponês, mulheres ou crianças.

A arte pode também representar a natureza, a terra que conduz os homens. É a arte paisagista. No século XIX a arte paisagista ganhou uma conotação patriótica. Mas a arte patriótica é mais antiga do que isso.

A arte representa, por fim, o ideal, os ideais da sociedade. Representamos nos nossos monumentos nacionais uma mulher que simboliza a justiça, a bravura ou a caridade. Algumas cenas podem representar batalhas, a caridade aos pobres, cenas realistas mas onde se encarna um ideal na acção.

Estas artes não são ideológicas, no sentido das ideologias modernas. Dizer que a arte cristã é ideológica seria abusivo.

Ideologias modernas e destruição das formas de arte da tradição

Mas as ideologias modernas destruíram, a pouco e pouco, as formas de arte saídas da tradição e que representavam o mundo dos homens, sobre a terra, sob o céu e perante a divindade. A arte do Gestell (sistema utilitarista que controla os homens ao seu serviço), para utilizar este conceito de Heidegger, destrói tudo aquilo que não se enquadra na sua lógica utilitária.

Deus deixa de ser representado porque passa a ser associado à superstição. A arte ideológica oficial elimina toda a forma de herança religiosa e de transcendência. Ela será por vezes blasfema (veja-se o “Piss Christ”, por exemplo), para chocar, porque o escândalo é mediático e isso vende.

O ideal passa a ser considerado como um utensílio da repressão, em conformidade com as ideias dos falsos profetas Marx e Freud. É por isso evacuado sem cerimónias.O homem deixa de ser representado porque são as massas que passam a ser louvadas, e as particularidades do indivíduo, da sua classe, da sua profissão, da sua raça, passam a ser coisas irritantes que é preciso fazer esquecer para que os homens se tornem perfeitamente permutáveis no processo económico e social. A paisagem, a natureza, desaparecem porque representam elementos de enraizamento do homem na sua terra.

A arte contemporânea: inumana, abstracta e desencarnada

A arte contemporânea, que se tornou a arte oficial obrigatória (vejam-se as paredes dos ministérios, das câmaras e dos edifícios oficiais) obedece a estes imperativos ideológicos. Já não deve representar o mundo tradicional.

Rompe deliberadamente com a herança religiosa e humanista da nossa civilização. É uma arte de ruptura revolucionária.

É abstracta e desencarnada porque rejeita toda a forma de enraizamento. Não encarna nenhum ideal, em nome de um subjectivismo total. A sua tendência dominante é representar, se é que ainda representa alguma coisa, o mundo quotidiano naquilo que tem de mais insignificante, utilitário ou prosaico. Frequentemente, quer-se chocante, porque ao chocar, atrai a atenção dos Media e dos financiamentos oligárquicos.

Esta arte é inumana no sentido próprio do termo, já que nunca representa a figura humana, e se a representa, é para a desfigurar o mais possível: como escreveu Salvador Dali, “um homem normal não tem vontade de sair com as meninas de Avinhão de Picasso”(ver o seu livro “Les cocus du vieil art moderne”).

A arte moderna: uma arte autoritária que interdita toda a forma de crítica

Por fim, esta arte inumana ou desumana é de natureza profundamente autoritária, como é, na essência, toda a ideologia. Esta arte estende-se para todo o lado. Interdita toda a forma de crítica, que é menosprezada, senão mesmo diabolizada com violência. O bom conformista não ousará nunca assumir que não gosta de uma celebrada obra dita contemporânea. Esta arte autoritária é irresponsável porque não responde ao pedido de um rei, de um burguês ou de um príncipe da Igreja, como antigamente. Ela pode responde à procura de uma burocracia anónima: Façam um fresco para as entradas dos nossos escritórios. Ademais, esta arte contemporânea é tão sustentada pelos poderes públicos como pelas pessoas privadas. É frequentemente financiada pelo imposto, isto é, pela força, o que acentua ainda mais o seu carácter autoritário.

Arte desenraizada, ideológica, inumana e autoritária, é objecto de uma propaganda mediática constante. Reflecte o inchamento do ego do artista, que pensa substituir-se ao Deus criador, favorece as especulações financeiras e é o dinheiro, frequentemente, o seu único imperativo categórico; é desenraizada, como a ideologia, porque quer ter uma vocação universal. Esta arte ideológica dificilmente tem a preferência do povo, supostamente inculto, mas é venerada pela oligarquia dominante.

A arte contemporânea versus a arte tradicional humanista e enraizada

A ideologia da arte oficial emprega o seu dinamismo em torno a quatro pólos:

O dinheiro
O ego
Os Media
Abstracção (negação das raízes)

A arte tradicional, que sobrevive nomeadamente na Rússia (São Petersburgo tem hoje em dia a maior escola de arte figurativa) e nalguns meios dissidentes no Ocidente, pode ser representada pelo esquema seguinte:

Ideal (o Bem, o Belo)
Divindade
Os homens
Natureza

A arte tradicional é humanista e enraizada, tem na maior parte do tempo uma dimensão espiritual ou idealista afim de direccionar o homem para o alto. A arte ideológica, dita contemporânea, e que parece ter o seu centro em Nova Iorque, despreza Deus e os homens para estabelecer o ego e o dinheiro, os seus fetiches, como motores do seu dispositivo autoritário. Esta arte ideológica, frequentemente financiada pela força (o imposto) não é nem humanista nem democrática, contrariamente ao discurso dos seus promotores: estamos, sim, perante uma arte ideológica oficial.

Yvan Blot, Polémia

O nome é Legião, o caminho é tradição, o estilo é acção!

A lição de Engels

Na sua introdução ao texto “Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico”, Friedrich Engels, co-autor juntamente com Marx, embora algo ignorado, do manifesto comunista, faz uma breve, mas muito bem conseguida resenha histórica das condições que levaram à antecâmara da ascensão comunista. Diz ele que essas condições começaram a surgir com o advento das teorias materialistas em Inglaterra que, depois, adquiriram contornos próprios no continente. Enquanto na Inglaterra a burguesia soube partilhar com a velha aristocracia o poder servindo-se da moralidade veiculada pelo cristianismo para manter controlado o proletariado, no continente a destruição, muito mais profunda, das amarras religiosas, libertou os desejos mais revolucionários das classes populares e, quando a burguesia quis servir-se da religião para proteger os seus interesses, já não foi a tempo.

E é na conclusão dessa resenha histórica que Engels expõe, com sumária clareza, uma ideia que deveria ser uma lição para uma certa direita. Uma ideia que apenas os fascismos souberam entender e interpretar, uma ideia que explica a hegemonia do pensamento social de esquerda no Ocidente que saiu do pós segunda guerra mundial.

Diz ele (Pag.38, Editorial Estampa, 1974):

«A burguesia francesa negava-se a comer carne à sexta-feira e a alemã suportava religiosamente ao domingo intermináveis homilias protestantes. Chegavam com o seu materialismo a uma situação deveras embaraçosa. Die religion muss dem Volk erhalten werden – é preciso conservar-se a religião para o povo – é o único recurso que pode salvar a sociedade da ruína total. Para desgraça deles só compreenderam isso após terem feito o máximo para destruírem definitivamente a religião. E, agora, chegava a vez do burguês britânico rir-se deles e gritar-lhes:”Ah, imbecis, há dois séculos que vos poderia ter dito isso!”. Entretanto, receio muito que nem a estupidez religiosa da burguesia britânica, nem a conversão post festum do burguês continental conseguirão opor um dique à maré crescente do proletariado» E porquê? A explicação surge, cortante, logo a seguir: «A Tradição é uma grande força freadora, é a vis inertiae da História, mas como é uma força meramente passiva, necessariamente sucumbirá.»

E de facto sucumbiu! A direita do pós guerra agarrou-se à Igreja, por vezes ao Trono, à moral e bons costumes, e com isso não conseguiu mais do que ser uma força “freadora”, mas passiva. Foi conseguindo “frear” ou adiar algumas mudanças, mas, pouco a pouco, as forças activas da esquerda foram conseguindo fracturar e penetrar cada vez mais esse muro até ao ponto em que hoje nos encontramos, com uma “direita” que cumpriu os presságios de Engels e Marx e já não é nada mais do que um magote vergonhoso de defesa do capitalismo e de interesses individuais.

Essa “direita” tem de morrer, juntamente com os efeitos nocivos do marxismo, para que a Europa se possa reerguer, a alternativa não pode ser conservadora ou liberal, mas sim radical, dura e indiferente à moral moderna, capaz de despertar consciências e de não pedir desculpas, politicamente incorrecta e com uma estética arrojada… revolucionária e populista, se quisermos.

Doutrina para a ressureição anti-burguesa

«Na zona situada entre a cultura e os costumes, é necessário precisar posteriormente uma certa posição. Foi lançada pelo comunismo a palavra de ordem do antiburguesismo, acolhida também no campo da cultura por certos ambientes intelectuais de “vanguarda”. Há aqui um equívoco. Como a burguesia social é qualquer coisa de intermédio, há uma dupla possibilidade de superar a burguesia, de dizer não ao tipo burguês, à civilização burguesa, ao espírito e aos valores burgueses. Uma, corresponde à direcção que conduz ainda mais abaixo de tudo isso, à sub-humanidade colectivizada e materializada com o seu “realismo” marxista: valores sociais e proletários contra a “decadência burguesa” e “imperialista”. Outra é a direcção de quem combate a burguesia e se ergue, efectivamente, acima da mesma. Os homens deste novo posicionamento serão, sim, antiburgueses, mas em função da já referida concepção superior, heróica e aristocrática da existência; serão antiburgueses porque desdenham a vida cómoda, antiburgueses porque seguirão, não os que prometem vantagens materiais mas os que exigem tudo de si mesmos; antiburgueses, finalmente, porque não têm a preocupação da segurança, amam a união essencial entre a vida e o risco em todos os planos, tornando próprias a inexorabilidade da ideia pura e da acção estrita. Outro aspecto pelo qual o homem novo, substância celular do movimento de ressurreição, será antiburguês e se diferenciará das gerações precedentes, é a sua impaciência perante toda a forma retórica e todo o falso idealismo; por todas aquelas grandes palavras escritas com letra maiúscula, por tudo o que é apenas gesto, frase teatral, cenografia. Ao invés, urge essencialidade, novo realismo no enfrentar exactamente os problemas que se impõem, fazer valer não a mera exterioridade, mas antes o ser, não o falar, mas primordialmente realizar de modo silencioso e exacto, em sintonia com as forças afins e aderindo ao imperativo vindo de cima.

Quem, contra as forças da esquerda, só sabe reagir em nome dos ídolos, do estilo de vida, da moralidade medíocre e conformista do mundo burguês, perdeu antecipadamente a batalha. Não é o caso do homem da nossa revolução, que está em pé depois de ter passado pelo fogo purificador das destruições externas e internas. Esse homem, do mesmo modo que politicamente não é o instrumento de uma pseudo-reacção burguesa, também de modo geral retoma forças e ideais anteriores e superiores ao mundo burguês e à era económica, e é com tais forças que cria as linhas de defesa e consolida as posições donde, no momento oportuno, surgirá fulgurante a acção reconstrutora.

Igualmente a tal respeito, julgamos necessário retomar uma palavra de ordem não cumprida: como se sabe, houve no período fascista uma tendência antiburguesa que quis manifestar-se de modo efectivo. No entanto, também aqui a substância humana não esteve à altura da tarefa proposta. E assim, da anti-retórica soube fazer-se retórica.»

Julius Evola, Directrizes em Para a Compreensão do Fascismo, Ed. Nova Arrancada, Pgs.166-167

Repôr as hierarquias

O inimigo é o dinheiro. O reino do dinheiro é o reino do estrangeiro; é também o reino do ventre. A primeira coisa que temos a dizer é que o valor de um homem não se conta em dólares, nem a grandeza de uma nação em cifras de exportações. Acima do dinheiro colocamos o homem, acima dos valores das vendas colocamos a disciplina e a energia. Na sociedade que pretendemos o negociante deverá ser como na Índia: de uma casta abastada mas pouco respeitada. Acima há o soldado, o militante, o trabalhador. Acima dele estão todas as pessoas que fazem algo por coisa nenhuma. Porque a grandeza de uma nação está nos homens dispostos a dar tudo sem nada pedirem em troca, o seu sangue, a sua vida, a sua acção…simplesmente pela honra. Quando uma nação já não tem homens desses, deixa de ser uma nação, não é mais que um aglomerado de interesses, uma sociedade por acções, com prisões e polícias.

Maurice Bardèche

Mais uma infantilidade do nacionalismo: o Conspiracionismo e a simplificação da realidade

O caso do norueguês Anders Breivik trouxe ao cimo uma velha característica dos meios políticos nacionalistas, ou pelo menos de boa parte dos seus simpatizantes, que é a tendência para explicar o mundo de uma forma caricatural e simplificada através de teorias de conspirações secretas a que só um pequeno grupo de iniciados consegue aceder.

Os mentores por detrás desses planos secretos variam conforme o ódio de estimação dos que apresentam essas teorias: ora são os judeus, ora são os islâmicos, por vezes é a maçonaria, noutros casos o Bilderberg ou a Comissão Trilateral, os Rothschild, uma cúpula secreta de banqueiros, etc. E a estes poderíamos acrescentar mais.

Estas simplificações da realidade são incorrectas. A situação social, económica e política no Ocidente não é o resultado de uma acção maquiavélica de um grupo, mas o natural resultado do jogo de equilíbrios, de alternâncias, de vontades, que muitos e diferentes grupos influentes levam a cabo para fazerem avançar os seus interesses. O estado político do Ocidente é fruto de um mundo multipolar e não de uma conspiração secreta de um grupo específico que tudo controla e manipula.

Não quer isto dizer que os lóbis que listámos acima não existam, que não conspirem, que não tenham muito poder, ou que não sejam parcialmente responsáveis pelo actual modelo civilizacional. Mas não são, certamente, capazes de definir o futuro do mundo à sua vontade como se não existissem inúmeras variáveis incontroláveis ou antagónicas aos seus desejos. É preciso inclusive perceber que, mesmo dentro desses grupos existem interesses e ideias divergentes. Por exemplo: existem muitas diferenças que afastam a maçonaria regular da maçonaria irregular e muitas lojas distintas dentro de cada uma delas…

O raciocínio simplificador que leva a escolher um determinado grupo como causa de todos os males é prejudicial de várias formas:

1 – Pode conduzir a uma má leitura dos problemas e, consequentemente, dos adversários; que são geralmente mais numerosos, menos poderosos e mais complexos;

2 – Pode descredibilizar aos olhos da sociedade o poder que efectivamente alguns daqueles lóbis possuem e que deve ser exposto e combatido, mas com seriedade.

3- Pode criar nalguns uma sensação de poder excessivo por parte de qualquer daqueles lóbis que paralise a acção de resistência, devido ao medo dos hipotéticos perigos e consequências, reforçando assim, inadvertidamente, o poder efectivo dos mesmos lóbis.

Afinal, era um vencedor

Há muitos anos atrás passei um período da minha vida a estudar livros e jogar partidas de xadrez. Costumava passar horas num clubezinho da vila a treinar. Por lá passavam regularmente mais uns quantos obcecados – todos nós a levar aquilo muito a sério e convencidos de que, num dia bom e com as peças brancas, poderíamos empatar com qualquer GM – e mais uns entusiastas, menos pretensiosos do que nós, que jogavam por puro prazer.

Um desses entusiastas era um tipo com quem todos, os que estávamos convencidos de sermos bons, detestávamos jogar. Por um lado porque ele era muito amador (lembro-me que, em dezenas de jogos, nunca me conseguiu bater, o que significava que nunca era um desafio que exigisse tanto de mim como eu queria), e depois ele tinha uma característica particularmente irritante: por mais irrecuperável que fosse a sua posição no tabuleiro ele nunca desistia, nunca fazia cair o próprio rei, mesmo se não tivesse mais que um peão a defrontar rainha e cavalo continuava sempre a jogar até sofrer efectivamente o xeque-mate. No xadrez este tipo de atitude era considerada falta de civismo desportivo. Fazia-nos perder tempo que poderia ser empregue numa outra partida, quiçá mais interessante. Mas ele não percebia isso e sucedia-me muitas vez ter de gastar meia hora ou mais até conseguir dar-lhe xeque-mate, com ele sempre a mover o rei para evitar durante o maior número de jogadas o fatídico momento.

Depois, quando sofria então o “mate”, levantava-se, e com um genuíno sorriso apertava-me a mão como se tivesse passado o melhor bocado de tempo, e dizia educadamente: “Parabéns, gostei muito, foste um justo vencedor mas viste o quanto aguentei? Estou a melhorar, hã?”…na realidade nunca melhorou grande coisa e continuou sempre a perder; mas também a obrigar-me a jogar sempre, sempre, até à última jogada possível. “Porque razão não fizeste cair o rei no vigésimo movimento? Tinhas o jogo perdido…é aborrecido forçares-me a fazer todos estes movimentos desnecessários quando a partida estava resolvida” – dizia-lhe. “Não, nunca devemos desistir, devemos lutar sempre até ao fim, se não querem dar xeque-mate mudem de jogo.”- Respondia-me invariavelmente.

Por causa disso tinha uma alcunha (que eu acho que ele desconhecia): o “empata”. Era assim que falávamos dele lá no clube.

Entretanto mudei de terra, de hábitos e interesses, mudaram os amigos, os livros passaram a ser outros, e a memória afastou da minha vida aqueles momentos e os rostos daquele clubezinho.

Os anos passaram e, há pouco tempo, um desgraçado infortúnio numa actividade desportiva mais radical fez-me ficar com um braço ao peito. Estava um dia de baixa em casa, com um tédio tremendo e sem nada que fazer quando tive de passar pela velha terra para resolver um assunto de família. Quando dei por mim estava a passar ao lado do velho prédio onde, no segundo andar, havia o clube de xadrez…Fiquei a olhar para aquela varanda, com a porta entreaberta, e invadiu-me um sentimento de melancolia (mais pelos anos passados e pelo afastar da adolescência do que pelos momentos em si, julgo)

Decidi subir as escadas, que continuavam a ranger muito, e abri a porta. Olhei em volta e não reconheci ninguém…estava lá um par de velhos a jogar damas, e um miúdo novo a jogar xadrez com o pai (pelo menos assumi que fosse). Olharam para mim por breves instantes e os olhos regressaram aos tabuleiros. Eu sentei-me numa mesa vaga que tinha as peças de xadrez já dispostas. Fiquei talvez 15 minutos ali sentado a olhar para as peças mas com a cabeça noutra época. De repente a porta abre-se e vejo entrar um gajo com uma muleta, a andar de forma algo desengonçada. Assim que me pôs a vista em cima grita entusiasmado o meu nome, como se de um velho conhecido se tratasse, enquanto se desloca na minha direcção sem que eu reconhecesse a personagem. “Não acredito, pá! Há tantos anos…nunca mais ninguém te viu.” Disse-me, e prosseguiu com aquele “bláblá” até que, por fim, lá reconheci o velho “empata” (não me recordava do nome dele, confesso, só da alcunha) …

O tipo senta-se na minha mesa e começamos a pôr a conversa de circunstância em dia, “o que tens feito”, “estás casado?”, “como vai a família?”, etc…até que me pergunta o que me aconteceu ao braço. Explico-lhe e retribuo a pergunta: “Então, e a perna, andas com muleta?”

Foi então que me disse que tinha tido um acidente e que ficara com aquele problema permanente na perna. Há coisa de uns três anos que anda com a muleta. Deve ter descortinado a minha expressão de pena e pesar porque logo de seguida disse-me com um tom descontraído e alegre: ” não faz mal, pá, já nem ligo, há coisas mais graves na vida e podia ter sido pior…olha, podia agora não estar cá para ver a minha filhota, queres ver?” E mostra-me na carteira a fotografia de uma bebé.

E eu que tinha passado as últimas semanas a queixar-me por ter de andar com o braço ao peito e ter de vir a fazer uma cirurgia para corrigir definitivamente o problema!

Aproxima-se a hora de jantar, digo-lhe o quanto gostei de o ver e que tenho de ir andando para apanhar o comboio. “Nem pensar, antes temos de jogar uma partidinha, em nome dos velhos tempos, sabes que continuo a vir cá de vez em quando, mas raramente vejo a velha malta, muitos saíram daqui e nunca mais disseram nada” (aquela também era para mim).

Ele esconde duas peças nas mãos, uma branca e uma preta, “Escolhe a mão”. Escolho a direita e tenho sorte, saem-me as brancas (é uma vantagem porque são as brancas que abrem e ganham um tempo). “Deixa, joga tu de brancas”. “Não, não”, responde-me, o que é justo é justo.

Abro com e4 e ele responde com C5, é uma defesa “siciliana”…à 13º jogada, com surpresa, noto que tenho uma posição bastante desvantajosa, tenho o centro do tabuleiro perdido e começo a ficar com sérios problemas de espaço, tenho, para além disso, um peão estupidamente isolado, e um bispo muito mal colocado, quase inutilizado. Lembro-me de, aí, ter pensado que se estivesse a jogar contra outro que não o velho “empata” teria o jogo praticamente perdido…à 20ª jogada tenho de facto a partida perdida e à 25º desisto e faço cair o meu rei. “Porra, não acredito que perdi com este gajo”, foi a primeira coisa que me veio à mente.

Levanto-me e estendo-lhe a mão, e ele fica por momentos a olhar para mim e a abanar a cabeça em sinal de reprovação “Por que desististe?”, “O jogo estava perdido, não havia mais nada a fazer”, respondo-lhe. “Nunca devemos desistir, mesmo se a derrota é inevitável, é preciso lutar sempre até à última”. Foi a única vez em que não se mostrou sorridente e entusiasmado por ter jogado comigo. Nem acreditei naquilo, depois de ter perdido dezenas de jogos contra mim ao longo do tempo foi o único jogo que ganhou que não apreciou. “Bom tenho de ir, vê lá se apareces de vez em quando, pá”, recobrou o sorriso voltou-me costas e lá saiu a arrastar a perna, em esforço com a muleta, em direcção à porta.

Fiquei ali parado alguns segundos, até perceber que o Manuel (é esse o nome do “empata”) tinha uma filosofia que aplicava a tudo na vida, fossem quais fossem as circunstâncias ou as situações, ele nunca, mas nunca, desistia, nem aceitava que outros o fizessem.

A forma como consumimos é uma arma política e deve ser pensada como tal

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Culpas a China. Culpas a Índia. Culpas a América. Culpas os CEO’s, as petrolíferas, o vago e incoerente “sistema”, os regimes de regulação internacionais, a hipocrisia da esquerda, o moralismo da direita, os educadores, a economia, os teus pais, a tua infância, o teu emprego, a tua conta bancária, a tua saúde mental, o teu governo, tudo e todos menos tu próprio. Acorda! Isto não é uma brincadeira. Isto está realmente a acontecer e o teu estilo de consumo é a principal causa.

In Adbusters #97