Month: Julho, 2007

Um comentário ao texto antecedente…

Um interessantíssimo comentário do professor António Lugano ao texto antecedente de Piscitelli, publicado, naturalmente, com a concordância do próprio:

Prezado Rodrigo

Relativamente ao artigo do Alfonso Piscitelli “A Europa arqueofuturista de Adriano Romualdi”, publicado no seu “blogue” “O fogo da vontade” de 21/07/2007, permito-me o seguinte comentário que, pela sua extensão, preferi enviar-lhe por esta via “e:mail”.

Adriano Romualdi faleceu muito jovem mas, pelo que disse, fez e escreveu, é muito pouco provável que aceitasse ser relacionado com o “arqueofuturismo” do senhor Faye.
Alfonso Piscitelli, estudioso e profundo conhecedor da Tradição europeia e indo-europeia, compreendeu o objectivo de Romualdi em revigorar a cultura da Europa desde a tradição primeva (“arkhé”) e perspectiva-la num futuro de que foi desviada pela exacerbação esotérica do que soi apelidar-se de “trono e altar” !

“La Tradizione europea, come la intende Romualdi, è qualcosa di dinamico: in essa trova posto il Mos Maiorum (il patrimonio di valori eterni), ma anche l’innovazione tecnologica.” (A. Piscitelli)

Porém, analisando o “Archéofuturisme” de Faye, Piscitelli “deixou-se arrastar” pelo erro etimológico sugerido pelo autor, pretendendo encontrar a raiz grega “arkhé” onde ela não se encontra e, daí, supondo a obra como uma teorização metapolitica, que na realidade nunca o foi.

A obra de Guillaume Faye, é apresentada em 1998 após um “interregno politico” desde o seu abandono, em 1986, da ND (G.R.E.C.E.), onde demonstrou uma inteligência apurada aliada a uma critica acerba e a um temperamento irrascível.
Faye regressa aureolado com o êxito de alguns trabalhos da sua fase precedente, tais como “Le système à tuer les peuples” (1981), “La NSC: Nouvelle société de consommation” (1984) e “Les nouveaux enjeux idéologiques” (1985), generalidades quase metapoliticas, de indubitável valor analítico.

O “Archéofuturisme”, uma obra que se pretende de cabeceira, é recebido como um alerta à já visível desconstrução etno-cultural que padece a cultura europeia, tanto na Europa como na América.A sua tese central é que o mundo se dirige para uma “convergência de catástrofes”, um sismo civilizacional que provocará um “depois-do-caos” assente numa mistura detonante de tecno-ciência e valores ancestrais. Na generalidade uma leitura que se faz com interesse, pelo entusiasmo do autor e pela análise concreta de situações reais, embora nos deixe um “amargo de boca”, talvez provocado por um certo ambiente apocalíptico expresso em termos proféticos.
É como se, através do folhear, sentissemos uma brisa proveniente de alguma revelação que se tivesse manifestado ao autor durante os anos que durou a sua “travessia do deserto”, desde o abandono do G.R.E.C.E. até à data desta sua publicação. A obra termina com uma novela de ciência-ficção, ou, para nos mantermos no âmbito messiânico, numa parábola sobre uma “crónica dos tempos arqueofuturistas” que nos projecta para o ano 2073, em plena Federação Eurosiberiana…
O “Archéofuturisme” é uma obra para dois tipos de leitores interessados: para os que entendem que “no princípio era a Razão” e para os que crêem que “no princípio era o Verbo”. Os primeiros tentarão entender em que projecto se insere a obra, enquanto os segundos acenderão cirios e proferirão alabanças.

O vocábulo “arqueofuturismo”, um composto unificado gramatical formado pelo adjectivo “arqueo” (antigo) e o substantivo “futurismo”, é um neologismo criado por Alain Gérard in “Vendée, le Livre de la Mémoire” (1993), citado por Rodolphe Badinand in “Réquiem pour la Contre-Révolution” (1996/97).O termo é utilizado no contexto de uma análise histórica sobre o passado e o futuro do povo da Vendeia, massacrado, entre 1793 e 1796, pelo regime instituido em França em 1789/91.Assim que, o vocábulo foi criado por Alain Gérard em 1993 (cinco anos antes da obra homónima de G. Faye) e, contrariamente aos que afirmam que “arqueo” provém do grego “arkhé” (principio), esclarecemos que a raiz é “arkaios” (antigo), a mesma etimologia de “arqueología”.O “arqueofuturismo” não tem lexicalmente (nem conceptualmente) nenhuma relação com a tradição primeva, com o conceito filosófico de Anaximandrós de Mileto (610/546 EP), de “arkhé” (principio : não como “um ponto temporal”, mas como “origem perpétua”) nem, consequentemente, com um “futurismo” filosóficamente analisado como consequência de um processo de precaução e responsabilidade. Na realidade, o “arqueofuturismo” (dos senhores Gérard e Faye) são propostas de ligação do “antigo” (“arkaios”) com o futuro do povo de Vendeia, no caso Gérard, ou com o vanguardismo técnico-artístico, na versão Faye.
Neste último caso, um “futurismo artístico” a que não falta Filippo Marinetti, fundador da “coisa” e autor do “Manifesto Futurista” no qual proclama que um “automóvel rugidor”… é mais belo que a “Vitória de Samotrácia” (a estátua) !

Em 2000, publica Faye “La colonisation de l’Europe, Discours vrai sur l’immigration et l’Islam” (2000), um impactante alerta contra “a invasão pelas fronteiras e pelas maternidades” de um imensa quantidade de imigrantes árabes. Porém, a tonalidade é bastante mais suave quanto aos milhões de imigrantes da África subsariana e outros tantos turcos, paquistaneses e chineses, o que começa a revelar-se “pelo menos curioso” (como acentuou Alain Benoist).
Em seguida (sob o pseudónimo de Guillaume Corvus, publica (2004) “La convergence des catastrophes”… regresso ao Apocalípse, sem apelo nem agravo. Ao leitor resta-lhe aguardar o “ungido”, o “Mashiah” que nos enviará alguma divindade sem nome.
O “processo” iniciado com a “Archéofuturisme” vai tomando a forma do “Imperium” eurosiberiano, uma recuperação do já proposto por Francis Parker Yokey, por um lado, e Alexandre Dougine, por outro… sem esquecer o incontornável Jean Thiriart… o da “nação europeia”.
Uma autêntica inflação de geoestratégicas refundações !

Nesse mesmo ano (2004) uma polémica lançada pelo jornalista Serge de Beketch acusa Guillaume Faye de ser um agente provocador e um impostor. Será curioso saber que em 1967, quando da “guerra dos 6 dias”, Beketch se alistou no exército de Israel (Tsahal), e é fundador do “Cercle d’amitié française juive et chrétienne”.
Esta polémica foi retomada pelo “site” “VoxNR” (“site des resistants au nouvel ordre mondial”) que qualifica Faye de agente sionista.

Obviamente não assumo qualquer posicionamento, e tão somente transcrevo o que é de notório conhecimento público.

Neste contexto, parece-me pertinente tentar situar o recente livro “La nouvelle question juive”, publicado por Faye em Junho deste ano (2007) ?
Para Faye, o “holocausto” (termo da mitologia judaica), foi uma realidade histórica provocada pelos alemães durante a guerra 1939/45, e posteriormente designado como “Shoa” (“cataclismo”, “catástrofe”).
Porém, permitimo-nos a seguinte interrogação : Se a verdade é tão evidente, porquê em França (um exemplo entre outros) a lei “Fabius-Gayssot” envia para a prisão quem negue, ou ponha sequer em dúvida, a historicidade da “Shoa” !
Se é com um objectivo de verdade, porque não recorrem a processo idêntico para que não se manifeste qualquer dúvida sobre os bombardeamentos de Dresden e Hiroshima, ou os massacres de Sabra e Shatila, ou os milhões de mortos no Gulag soviético-marxista ?

Enfim, sem alabanças nem perjúrios, o “arqueofuturismo” (versão G. Faye) parece converter-se, lenta mas inexorablemente, num “arqueofunambulismo”, deambulando entre Lisboa e Moscovo, via Tel Aviv, graças à compreensão dos “eleitos” !
A orientação política da actividade do senhor Faye, já suposta por alguns, é a de defender a inclusão de Israel na Europa, situação que, há já alguns anos, venho sugerindo como “acto provável” da sua encenação.
Através de um discurso orientado a um público receptivo à defesa da identidade europeia, falaciosamente vai sendo introduzido o tema da “Eratz Israel” europeia.
Esperemos que com a publicação de “La nouvelle question juive”, o projecto “arqueofuturista” se torne evidente para todos os que nos interessamos “verdadeiramente” pelos povos europeus e pela sua cultura.

Como tem últimamente sucedido em vários países da Europa, não nos surpreendamos com o nervosismo dos bonifrates de turno que, como habitualmente, optarão pela (tentativa) de desqualificação que somente a eles atingirá !
———

Guillaume Faye “dixit” in “France-Echos”
texto recuperado de
http://www.marianne-en-ligne.fr/forum/categories/virtual/3385/50165/reponses.phtml
de 31/05/2006

-> entrevista que Faye nega ter sucedido,
apesar de que “Wikipedia” continua a fazer-lhe referência in
http://fr.wikipedia.org/wiki/Joseph_Mac%C3%A9-Scaron
e que, a nosso conhecimento, nenhuma denúncia judicial foi realizada.

Le projet sioniste est un exemple absolument exceptionnel dans l’histoire d’ « archéofuturisme » (du nom d’un de mes ouvrages, L’Archéofuturisme ), c’est-à-dire de reconstruction, de renaissance, de résurrection et de projection dans l’avenir d’une forme politique passée mais nullement oubliée.

Le sionisme constitue donc un exemple de création d’une forme politique et étatique nouvelle autour d’un peuple, dont devraient s’inspirer les refondateurs identitaires européens.

Je considère les juifs comme des alliés, comme partie prenante de la civilisation européenne, avec un statut très particulier et original de « peuple à part »
———

“Controlando a imprensa controlaremos as mentes.
Controlando as mentes controlaremos o mundo”
(Barão Moisés Montefiore)

Com Cordialidade
António Lugano

30 de Julho de 2007

A Europa arqueofuturista de Adriano Romualdi

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Os trinta anos da morte de Adriano Romualdi surgem num momento de discussão – talvez até de confusão – a respeito da identidade cultural da Europa. À civilização do Velho Continente Adriano dedicou densas páginas de entusiasmo e de rigor; hoje o seu intelecto – na idade de completa maturação cultural – saberia dar um contributo enorme à definição de um conceito de Europa que fosse síntese de tradição e modernidade. Um contributo certamente superior àquele dos políticos que, improvisados “pais da Constituição”, durante semanas se dedicaram a acrescentar ou retirar linhas ao soneto do “Preâmbulo” da Constituição europeia.

Evidentemente é escusado imaginar o que poderia ter acontecido se a mais válida promessa da cultura de direita (só de direita?) do pós-guerra italiano não tivesse sido violentamente tolhida numa auto-estrada de Agosto. Menos escusado, porém, é pensar quanto da obra de Romualdi foi negligenciado com o passar dos anos e quantas intuições expressas com uma linguagem ainda juvenil podem hoje reflorescer no nosso contexto. Para Adriano a ideia de Europa e a tentativa de elaborar um novo mito de nacionalismo-europeu representarão a via de saída dos becos estreitos nos quais se haviam fechado os movimentos patrióticos (mesmo os mais revolucionários) através das peripécias de duas guerras mundiais.

Partia do pressuposto que em 1945 haviam sido derrotadas todas as nacionalidades europeias. Não só os húngaros mas também os polacos, rendidos ao mais brutal dos seus opressores tradicionais. Não apenas os alemães mas também os russos, que viam consolidado um regime que no fundo já estava moribundo em 39 e destinado a uma natural implosão. Não apenas os italianos mas também os franceses e os ingleses, privados dos seus impérios, reduzidos ao estatuto de médias potências. Todos os povos europeus haviam sido substancialmente humilhados e olhavam nos olhos pela primeira vez o abismo do seu aniquilamento cultural. Ao mal extremo Romualdi contrapõe o remédio extremo de um retorno à fonte primordial: As vanguardas políticas e culturais da Europa deveriam reconhecer que as suas pátrias particulares tinham origem num tronco comum, bem distinto na sua fisionomia depois da alta pré-história. As raízes da Europa eram, nesse sentido, procuradas num estrato mais profundo do que o caracterizado pelo racionalismo moderno ou cristianismo medieval. Através da antropologia, da linguística, da arqueologia, da História, em sentido lato, dever-se-ia reconstruir o rosto da tradição europeia, mediante os mais avançados instrumentos de pesquisa científica.

Chegamos aqui a um segundo aspecto fundamental da obra de Romualdi. Adriano intui a necessidade estratégica de dominar a linguagem, os instrumentos, até as conclusões das ciências modernas ocidentais. Do convívio com Evola adquirirá o amor pelo elemento arcaico, por aquilo que num longínquo passado assinalava a pureza de um modo de ser ainda incorrupto. Todavia Romualdi reage energicamente à corrente “guenoniana” do pensamento tradicionalista: a essa abordagem antiquária e até um pouco lunática que em nome de dogmas imutáveis levava ao desprezo de tudo quanto se havia alterado na história dos últimos dez séculos, a desprezar as grandes criações do génio europeu moderno. Assim, enquanto os “guenonianos” se perdiam em metafísicas árabes e alimentavam polémicas intermináveis sobre a “regularidade iniciática” ou sobre o “primado dos Brahman”, Adriano Romualdi quer dar uma nova definição do conceito de Tradição.

A Tradição Europeia, como a entende Romualdi, é algo de dinâmico: nela encontram lugar o Mos Maiorum, o património dos valores eternos, mas também a inovação tecnológica. No fundo, os antigos indo-europeus irromperam na cena do mundo em carros de combate – uma extraordinária invenção para a época. Desde o princípio o indo-europeu caracteriza-se por uma grande capacidade de inovação técnica e a sua concepção espiritual do mundo leva à atribuição de um significado superior às próprias criações materiais. Na índia as rodas dos carros de combate (Chakras) tornam-se símbolos dos centros de energia vital que o Ioga procura na interioridade. Na Grécia, o martelo, que forja as armas e outras ferragens, torna-se imagem do deus ordenador do Cosmos segundo a concepção platónica do “demiurgo”. Nas modernas missões espaciais, na audácia investigadora das ciências modernas, no límpido estilo das criações tecnológicas Romualdi destrinçava, portanto, os frutos mais maduros do génio europeu. Digamos a verdade, quando a Nova Direita francesa começou a valorizar os estudos de sociobiologia, a etologia de Lorenz e as mais heterodoxas pesquisas de psicologia não fizeram mais que desenvolver um impulso já dado por Adriano Romualdi. E ainda, quando Faye lançou a brilhante provocação do Arqueofuturismo propondo conciliar “Evola e Marinetti”ou as raízes profundas da Europa e a sua moderna capacidade científico-tecnológica retomou, no fundo, um tema notório de Romualdi. O leitor de “O fascismo como fenómeno europeu” recordará que Romualdi, no mesmo movimento histórico dos fascismos, reconhecia a tentativa de defender os aspectos mais altos da tradição com os instrumentos mais audazes da modernidade. Olhando o futuro próximo que se adivinhava nos anos da Contestação, Romualdi via o risco dos europeus se desvigorarem no bem-estar, caindo como frutos demasiado maduros na bolsa de povos menos civilizados e vitais (leia-se o prefácio a “Correnti politiche e culturali della destra tedesca”). Todavia não desprezou nunca os aspectos mais positivos da modernidade europeia e dessa mesma sociedade do bem-estar construída no Ocidente. Hoje haveria provavelmente de satirizar aqueles intelectuais que, à direita, são tentados a abraçar grosseiras utopias islamitas. Romualdi queria uma Europa ancorada no seu próprio “Arkè”, e ao mesmo tempo moderna, inovadora, na vanguarda da tecnologia. Uma Europa em que os homens sabem idealmente dialogar com Séneca e Marco Aurélio ao mesmo tempo que conduzem automóveis velozes, utilizam os instrumentos da comunicação por satélite, operam com lasers. Esta imagem da Europa, esboçada em poucos anos por Romualdi, permanece hoje o melhor “preâmbulo” para um continente velhíssimo e no entanto ainda audacioso.

Alfonso Piscitelli, Area nº 82, Julho-Agosto de 2003

Saint-Loup: La peau de l’aurochs

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A associação “les Amis de Saint-Loup” reeditou muito oportunamente um dos primeiros livros deste autor. Este romance, publicado em 1954 pela editora Plon, surge sobre muitos pontos de vista, à luz dos acontecimentos actuais, como profético. De facto, como assinala Robert Dun em “Réflexions sur une tenace espérance”, na compilação aparecida em 1991 e intitulada “Rencontre avec Saint-Loup”:

«Poucos sabem que o seu livro “La Peau de l’Aurochs” foi concluído em 1945. Olhando-o com atenção não podemos deixar de descobrir nesta obra uma visão de todas as linhas maiores que se concretizaram em situações históricas depois de 1945: A omnipotência dos tecnocratas que acossa os últimos autênticos humanos até nos mais inóspitos lugares dos altos vales alpinos, a ascensão da China que leva a cabo a conquista do mundo enquanto veicula o materialismo mais agressivo, a regeneração do judeu errante pelo regresso à natureza e à terra. Ora, o Estado de Israel e os Kibboutz, o comunismo chinês, a maré tecnocrata e a reacção ecológica que suscitou, não se manifestaram senão entre 5 e 20 anos depois do final da redacção deste livro profético que descreve também o misterioso eclipse dos tecnocratas agressores e a libertação da terra por aqueles que tiveram a coragem da última resistência. E qual foi a força que deu a vitória aos “partidários” da natureza? Uma ideologia? Não! A “pele do auroque”, o bom senso provincial, a percepção das forças ancestrais (…). O tema foi retomado em “La Republique du Mont-Blanc” que acrescenta ao livro anterior a invasão muçulmana e a acção consciente de destruição genética dos povos europeus.»

A estes temas juntarei outros (com o propósito de os enunciar claramente): a desertificação rural, o genocídio campesino, o cruzamento genético desorientador, a destruição do ambiente, a crítica do primado da razão técnica, o conflito cristianismo/paganismo, o enraizamento, a superação de si e a hipotética chegada de um suprahumanismo nietzschiano. Tudo isto há 50 anos, bem antes de Jean Raspail, Philippe Gauthier e tantos outros! Todos estes temas são evocados neste grande romance onde essa “República Valdostana”, que ele tão bem conheceu, vai renascer e depois sobreviver e regenerar-se graças à tenacidade de algumas almas fortes. Esta comunidade irá refugiar-se nas montanhas e procurar o desenvolvimento. Mas a civilização mundialista instalada no Vale vai um dia querer edificar uma barragem que destruirá as povoações. A comunidade deve então fazer face às forças de atracção-dissolução que essa cultura-mundo exerce sobre a etnia valdostana. Um último grupo resistente tentará sobreviver. Esta intriga, à vez simples e bem engendrada, permite evocar claramente e com grande plausibilidade todos estes temas no curso da história do livro, o que constitui em si uma proeza. Citemos simplesmente, a título de exemplo, esta descrição do mundo político que não deixa de nos fazer pensar, irresistivelmente, no nosso:

«Os políticos exprimiam as opiniões mais diversas mas congregavam-se todos, curiosamente, em torno de algumas ideias monolíticas, exactamente como os pretorianos de César! Todos defendiam a liberdade, preconizavam uma igualdade tão fraternal quanto burlesca entre os homens, encorajavam a confusão de raças. Prometiam todos uma felicidade ilimitada sobre a terra, a democracia cristã somente concedia um suplemento de felicidade no céu».

Pascal GARNIER