O anti-racismo, a Esquerda e o Judeu imaginário

by RNPD

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«Vivemos uma situação de abdicação generalizada perante o dinheiro, perante o show-business, perante a moda, perante a economia. E nomeadamente por parte da Esquerda. O anti-racismo é o seu mais recente suplemento de alma. O anti-racismo faz de nós pessoas de esquerda e de bem, apesar de todas as nossas capitulações. Temos uma necessidade incessante do anti-racismo para voltar a dar à nossa identidade algum lustro, para provarmos a nós próprios que continuamos fieis aos nossos princípios no preciso momento em que os abandonamos. Isso parece-me muito perigoso porque isso tende a substituir o anti-racismo de combate por um anti-racismo de identidade.

É preciso que os anti-racistas ricos, que enervam prodigiosamente os que se encontram em situação difícil, não dêem incessantes lições de moral aos pobres! Os pobres estão-se marimbando para as acusações de racismo…perdemos todo o contacto com a realidade. Penso que é preciso olhar para os problemas com humildade. Reencontraremos o sentido da realidade no dia em que a necessidade imporá de verdadeiramente combater o racismo em vez de ver nisso o meio para a esquerda mais comprometida com a modernidade mediática preservar a sua identidade e de se embelezar aos seus próprios olhos (…)

Muitos daqueles que reagem hoje como “judeus imaginários” nunca sofreram qualquer anti-semitismo. Mas essa vitimização dá à sua vida uma espécie de suplemento épico. Vivem à procura de manifestações de anti-semitismo e muitas vezes alegram-se de as encontrar em vez de se desolarem. O que diz o “judeu imaginário”? “Herdei um sofrimento que não me tocava, do perseguido guardei a personagem mas não sofria a opressão, assim podia gozar com toda a tranquilidade um destino excepcional”. O “judeu imaginário” actual recebeu o reforço de toda uma esquerda imaginária, que veio reconfortar-se no anti-racismo enquanto deixou de ser de esquerda face à educação, à economia, ao dinheiro, à indústria cultural. O “judeu imaginário” foi como que absorvido nessa grande esquerda imaginária que entoa o cântico do anti-racismo…»

Alain Finkielkraut, entrevistado por Serge Moati & Jean-Claude Raspiengeas, La Haine Antisémite, Flammarion, 1991, p.214-215, 218. Via Euro-Synergies