Entrevista a Gustavo Zerbino

Aproveitando a deslocação da selecção nacional de rugby do Uruguai o jornal “A Bola” entrevistou o presidente da federação daquele país, Gustavo Zerbino, um dos sobreviventes do tragicamente célebre desastre aéreo dos Andes, que obrigou, inclusive, os sobreviventes a alimentarem-se do cadáver dos companheiros mortos para poderem sobreviver. Uma entrevista deveras interessante, e sem os clichés habituais, talvez porque nada na vida daquele homem tenha sido vulgar, e da qual destacamos estes excertos:

«Hoje, com a crise económica, acha que as pessoas choram demais?

– A crise não é económica. É mentira. Há crise de valores e princípios. A sociedade de consumo busca a gratificação instantânea e consome coisas, inventa coisas de que não precisa, coisas que as pessoas não só não têm tempo para viver como não têm dinheiro para pagar. É angustiante. A felicidade não é um destino, não é ter as coisas, a felicidade é a viagem. Primeiro é preciso ser, depois fazer, e depois, sim, virá um resultado feliz. Na sociedade em que vivemos, vivemos em mentiras. Pensamos demais em sortes e azares.

Não crê no acaso, na sorte?

– Não. É tudo trabalho a 99% e sorte no 1% que falta. Quanto mais trabalhas, mais sorte tens. Se cais, levanta-te. Na sociedade actual, o hábito é cair e ficar quieto, à espera que se resolva, que alguém resolva, que alguém ajude. Em Montevideu, em Lisboa, em Madrid, o desporto nacional é a queixa. Vivemos a chorar pelo chefe, pelo vizinho, pelo que seja, é um auto-boicote.

Com certeza que alguém se queixou na cordilheira dos Andes durante o acidente. Não?

– Sim, mas quem se queixava era ignorado, porque era um terrorista das acções em marcha, perturbava o esforço dos outros. A gente que se queixa é porque ainda está bem. A gente que está realmente a sofrer aperta os punhos, ferra os dentes e age. Temos de transformar os problemas em oportunidades, mas para isso temos de lutar contra a mente que te diz que és feio, não prestas, não te ajudam, és um burro…Desculpas!»

Mentalidade de esquerda

A forma como a esquerda acusa constantemente a Alemanha de ser culpada pela crise que afectou uma parte da Europa do sul, ou de não ser solidária com o resto da Europa, querendo que os alemães assumam, para saldar essa suposta culpa, as dívidas dos outros, é própria da natureza ideológica da esquerda.

A esquerda vive, tradicionalmente, do culto da vitimização do “fraco” e da culpabilização do “forte”. Os princípios de responsabilização própria são estranhos à esquerda. O fraco nunca o é por culpa das suas próprias limitações ou falhas mas sim porque é oprimido, enganado ou explorado pelo forte. A culpa nunca é do indivíduo, mas sim da sociedade, que não assume o seu dever de o tornar igual.

Se os governantes alemães pensaram a U.E. como uma forma de beneficiar a Alemanha e o seu povo fizeram muito bem. Quem, no sul da Europa, andou anos a aceitar subsídios para deixar de produzir e proceder à desindustrialização do próprio país, fez muito mal. Enquanto uns pensaram na sua pátria a médio-longo prazo, outros pensaram no seu bolso a curto prazo. A estupidez e a incompetência não têm nem devem de ser indemnizadas.

A mentalidade que sobressai nos constantes pedidos de solidariedade e ajuda, nas tentativas de obrigar o norte mais rico a partilhar os custos da falta de rigor, seriedade política e competência do sul, é equivalente à do inútil que não quis trabalhar ou não conseguiu produzir nada com excelência mas que se acha no direito de exigir subsídios aos que trabalharam mais e melhor.

Mas o que não é de esquerda vê o mundo de outra forma. Tem orgulho e não mendiga. Sente vergonha da sua própria ingenuidade quando compreende que foi iludido e sente vergonha das suas próprias incapacidades quando comparado com os que lhe foram superiores. Ele não esmola, armado em vítima, culpabilizando pela sua situação os que foram melhores ou mais inteligentes, nem sequer os que o enganaram. Põe as mãos no solo, levanta os joelhos do chão, aguenta em silêncio as dores, e diz: “muito bem, assumo as minhas próprias falhas, vou superar isto com o meu próprio esforço e sacrifício, sem ajudas, mas, nem que seja a última coisa que faça, prometo-vos que voltarei para vos olhar de cima!”

Escolhas que revelam a índole da nossa “classe pulhítica”

(…)Portugal é um dos países que mais depressa celebrarão mil anos de independência.Isto se resistir até 2143. Ou, pelo menos, soprar 900 velas daqui a 32 anos, o que muitos de nós iremos testemunhar. Portugal pode consegui-lo, mas tem contra si tanto problemas económicos estruturais quanto a erosão da vontade de existir como Nação.

É neste quadro que aparece a proposta do Governo para abdicar do feriado de 1 de Dezembro, que celebra o dia em que os Restauradores puseram fim a 60 anos de domínio de Madrid.

Sendo certo que há poucos feriados para oferecer em troca dos religiosos – e que o 10 de Junho está fora dessas contas –, Portugal ficará a ser um dos raros países a deixarem de celebrar a libertação de uma potência estrangeira. Pelo contrário, os países bálticos celebram em duas datas diferentes o adeus ao Império Russo e à União Soviética.

Por cá, faltou coragem para assumir que o 25 de Abril, como simples mudança de regime, era um candidato mais óbvio a juntar-se ao 5 de Outubro entre os ex-feriados. Isso afrontaria mais gente do que varrer a independência para debaixo do tapete. Infelizmente.

Leonardo Ralha, Desistir da Restauração, Correio da Manhã

Comentário mais votado entre os leitores:

“o 25 de Abril é um grande dia para os políticos e para as chefias militares, pois foi o dia que lhes permitiu seguir uma carreira onde é possível enriquecerem.”

Lógica liberal

Os liberais explicam-nos que o Estado português teve e tem de privatizar o capital das empresas estratégicas nacionais (o Estado é mau). Mas não vêem inconveniente na compra desse capital estratégico por investidores ligados a governos estrangeiros, por sinal corruptos (o mercado é bom). A partir da perspectiva que os liberais têm da economia percebe-se a lógica. A partir da perspectiva que os liberais têm do interesse nacional…percebe-se a lógica.

Encruzilhada

«Admitamos um cenário de saída [do euro], com um euro a valer 200$00 mas objecto de uma desvalorização de 30% logo a seguir. Assumamos ainda para o PIB um valor de €165 mil milhões e uma dívida externa de valor equivalente. Neste caso, o PIB passava a medir-se por 33 mil milhões de contos. Mas, como os 200$00 valiam apenas 0,7 euros, a dívida externa pulava para 47 mil milhões, 43% mais. A primeira consequência era negativa.

Mas é no plano social que as comparações devem ser feitas. Do lado das empresas, e uma vez que o preço das exportações baixava, passaríamos a vender mais e a criar mais postos de trabalho: seria óptimo. Mas em termos de poder de compra, e uma vez que o preço das importações subia, os mesmos escudos compravam agora menos coisas e o nível de vida regredia: seria péssimo. Estaremos disponíveis para trocar menos salários por mais emprego?»
Daniel Amaral, Diário Económico de 19/02/2010

O cenário que Daniel Amaral aqui apresenta, de forma naturalmente muito resumida, tem cada vez mais de começar a ser pensado como uma das escolhas que ainda estão nas nossas mãos, enquanto nação. É evidente que, entre prepararmos a saída do Euro com tempo e planeamento, como sugere o Prof. Ferreira do Amaral e sermos forçados a sair do Euro por incapacidade de lá permanecer, a primeira opção é preferível e minoraria os custos sociais e económicos dessa saída.

Em boa verdade, e depois de ultrapassada a fase mais penosa de reintrodução do escudo, i.e., a fase de ajustamento, esta opção traria ainda um outro risco a longo prazo: num Estado tradicionalmente despesista, contaminado por nomeações partidárias e por cunhas, a disponibilização de um instrumento de política monetária que permitisse a manipulação da taxa cambial á vontade, acarretaria o risco de voltarmos, em poucos anos, a não ter contenção com a despesa pública, que foi algo a que, apesar de tudo, o euro obrigou e tem obrigado, com os custos que conhecemos. Isto significa que esta revolução económica deveria, idealmente, ser acompanhada de uma revolução total na classe política portuguesa, com gente consciente de que os novos instrumentos obrigariam a novas e acrescidas responsabilidades. Caso contrário voltaríamos rapidamente aos mesmos problemas de contas públicas, com ou sem moeda própria.

O problema é que a alternativa de permanência no Euro afigura-se cada vez mais como um beco sem saída e em condições humilhantes. Aqueles que nos estão a conceder os empréstimos, a taxas que aliás não sabemos como e quando iremos conseguir pagar, impõem-nos como condição o empobrecimento definitivo da nossa mão de obra, aconselhando inclusive que seja facilitada a entrada de mão-de-obra do norte de África, para baixar os nossos custos de produção (salários). Ou seja, o trade-off que nos é proposto para salvar no imediato a nossa economia da falência passa por transformar Portugal num espaço de mão-de-obra barata dentro da EU, um sítio onde, quando necessário, se possam colocar empresas europeias que precisem de baixos custos de produção, de onde se possam importar alguns bens baratos e onde certos serviços (sobretudo de lazer) sejam disponibilizados aos europeus do norte a baixo preço, como o turismo. O que nos propõem é que assumamos o papel de criadagem empobrecida e agradecida, e consciente do seu lugar, da Europa mais rica.

Quem compete através dos baixos salários e de fracos sistemas de protecção social são países como a Nigéria, a China ou o Paquistão. Até que ponto devem os portugueses empobrecer para serem competitivos com esses países nos mercados internacionais? Isso é aceitável? E alguém acha que isso é possível enquanto exportarmos em euros, que é uma das moedas mais caras do mundo e feita à medida de economias altamente industrializadas como a alemã?

Por outro lado, a ideia de que podemos evitar competir com o terceiro mundo através dos baixos custos produtivos pressupõe uma ideia fantasiosa do país e que alguns costumam debitar nas televisões: a de que, em vez disso, passaremos a competir com os países mais desenvolvidos, porque, por algum milagre, surgirão não se sabe de onde, um conjunto de empresas portuguesas, não de serviços ou construção mas produtivas, capazes de competir nos mercados de produtos de alto valor acrescentado que valem pela sua qualidade e diferenciação. Aqui o euro não seria um factor de desvantagem competitiva porque os mercados desses produtos são por natureza caros – a qualidade paga-se – e os concorrentes têm moedas fortes. Isto é certamente uma formulação bonita quando é feita nas televisões, mas, até ao momento, não passa de uma utopia. Não temos nem teremos essa estrutura produtiva, pelo menos nos anos mais próximos. Qual é então o nosso futuro com uma moeda tão cara como o euro e completamente desajustada das necessidades competitivas de economias como a portuguesa nos mercados internacionais?

O sistema de reservas fraccionárias da Banca é uma farsa


(Rene Magritte, Les complices du magicien, 1926)

«De onde é que veio o dinheiro? Veio – e isto é a coisa mais importante que importa reter sobre a banca moderna – do nada. Os bancos comerciais, isto é, os bancos que funcionam com reservas fraccionárias, criam dinheiro a partir do nada. Essencialmente fazem-no da mesma maneira que os falsificadores. Também os falsificadores criam dinheiro a partir do nada, imprimindo papel que passa por dinheiro. Deste modo extraem fraudulentamente recursos do público, das pessoas que genuinamente ganharam o seu dinheiro. Da mesma maneira, os bancos que operam através das reservas fraccionárias contrabandeiam recibos de depósitos, depósitos que depois circulam pelo público como equivalentes a dinheiro. Há uma excepção a esta comparação, é que a lei recusa-se a tratar esses depósitos como falsificações.

Uma outra forma de olhar para a falta de solidez essencial e inerente do sistema de reservas fraccionárias da Banca é lembrar uma regra crucial de um sistema financeiro sólido, uma regra que é cumprida em todo o lado excepto no negócio bancário: nomeadamente, que a estrutura temporal (ou seja, o prazo) dos activos da firma não deve ser mais longa do que a estrutura temporal dos seus compromissos ou responsabilidades. Sucintamente, suponha que uma firma tem uma dívida de $1 milhão a pagar aos credores até ao próximo 1 de Janeiro, e $5 milhões até ao 1 de Janeiro seguinte. Terá de arranjar forma de ter activos disponíveis no mesmo montante naquelas datas, ou um pouco antes. Ou seja, terá 1 milhão a entrar, disponível, no dia 1 de Janeiro ou um pouco antes, e $5 milhões no mesmo dia do ano seguinte. A estrutura temporal dos seus activos não é mais alargada, preferencialmente até deverá ser um pouco mais curta, do que o prazo de liquidação das suas responsabilidades.

Mas os bancos de depósitos não respeitam e não podem respeitar esta regra. Pelo contrário, as suas responsabilidades – os seus depósitos – são devidas no imediato, assim que forem pedidas pelos depositantes, enquanto os seus empréstimos aos devedores só estarão, inevitavelmente, disponíveis após algum período de tempo, mais curto ou mais longo, conforme o caso. Os activos de um Banco são sempre a mais longo prazo do que as suas responsabilidades, que são imediatas. Posto de outra maneira, um Banco está sempre inerentemente falido, e ficaria de facto falido se todos os seus depositantes se apercebessem que o dinheiro que acreditam ter disponível quando quiserem não está realmente lá.»

Murray Rothbard, in The Mystery of Banking, pgs.98,99, Ludwing von Mises Institute, Auburn, Alabama

Uma exigência necessária sob a forma de uma oportunidade

«”O sistema de justiça português é constituído por lojas maçónicas e controlado pela maçonaria. Além de controlar as decisões dos processos – incluindo os casos da Universidade Moderna, Portucale, Casa Pia, Apito Dourado e Isaltino Morais -, controla igualmente a carreira dos juízes e dos magistrados do Ministério Público e dos altos funcionários do Estado”, diz José da Costa Pimenta, em carta para a actual ministra e os principais protagonistas do sector.

As acusações vão surgir em livro. Eis os vários processos:

CTT: (Citações do Ministério Público) Em escutas telefónicas, um indivíduo faz alusões à sua condição de maçom para obter informações do caso da venda de prédios

Moderna: (Citações do Ministério Público) Uma conspiração maçónica, com a Moderna como ponto de reunião, para tomar conta das estruturas do poder em Portugal, é revelada num documento de Nandim de Carvalho.

Portucale: (Citações de Abel Pinheiro) Nos governos de Guterres, o GOL era conhecido por o “gabinete”, dado o número de socialistas por metro quadrado. (…) É uma rede de relações humanas única.»

In Diário de Notícias, 13-11-2011

O problema

O Diário de Notícia levou a cabo, de 12 a 14 de Novembro, uma interessante investigação sobre as teias de influência das lojas maçónicas em Portugal. Das maiores empresas, passando pelos partidos políticos, com particular incidência no PS (conhecido como o braço político da maçonaria irregular portuguesa, nomeadamente do “famigerado” GOL – Grande Oriente Português), pelos tribunais, pelas forças se segurança e forças armadas, pelos serviços secretos e acabando, naturalmente, nos principais cargos dirigentes do aparelho de Estado, uma grande parte dos principais responsáveis são membros da maçonaria. Isto implica a suspeita de que uma parte importante dos cargos de poder do país são decididos e atribuídos em reuniões secretas de grupos secretos e não são o resultado de processos de decisão abertos, transparentes e assentes exclusivamente no valor pessoal e não na pertença a determinadas redes grupais de influência. A maçonaria é, pois, uma inversão e uma perversão daquilo que é, idealmente, uma sociedade de mérito.

O estafado argumento maçónico

Num artigo sobre o assunto de 14-11-2011, Ferreira Fernandes levanta a questão fulcral: Por que razão a maçonaria, as suas práticas e os seus membros são secretos? Escreve o jornalista: “O culto do segredo, por tão anacrónico, hoje, entende-se mal. A explicação mais imediata é que os maçons ganham por o ser, e fazem-no em segredo para ganharem ainda mais. Mas, ontem, António Reis, que liderou o Grande Oriente Lusitano, disse ao DN que não: serem maçons “pode-lhes causar dificuldades nas suas carreiras profissionais”. Engraçado, tinha ideia do contrário: os maçons que exercem a minha profissão são mais do género de terem estátua sem eu saber porquê do que não a terem embora a merecessem.”

Pois…este é que é o cerne do problema: os maçons pretendem continuar a sê-lo em segredo porque isso os beneficia nos negócios e nas nomeações, porque saber quem são explicaria como é que alguns nomes de honestidade duvidosa e méritos incomprovados conseguem certos lugares…bastaria saber “quem nomeou os nomeados” para se perceber qual a ligação entre uns e outros. Assim, permanecendo em segredo, os membros da organização podem continuar a encher os cargos directivos sem que se estabeleça a ligação que explica certas ascensões profissionais, ou sem que se perceba por que razão o Estado subsidia, com o dinheiro de todos, certas instituições ou faz certos negócios com determinados particulares.

Uma exigência necessária sob a forma de uma oportunidade política

Ninguém pretende impedir os maçons de o serem, e de procurarem nas lojas o tal “aperfeiçoamento espiritual” que, pelo visto, não conseguem alcançar por outros meios ou vias. O que se pretende é que nas lojas não se prepare o “aperfeiçoamento profissional e salarial” dos maçons à custa dos portugueses sem loja e do bom funcionamento do Estado.

Repare-se que mesmo nas organizações que têm por objectivo a tomada do poder político (algo que a maçonaria nega ter por finalidade), isto é, os partidos, a lei exige, apesar do direito de reserva da lista de filiados, princípios de transparência. Da lei dos partidos políticos:

Artigo 6.º

Princípio da transparência

1- Os partidos políticos prosseguem publicamente os seus fins.
2- A divulgação pública das actividades dos partidos políticos abrange
obrigatoriamente:
a) Os estatutos;
b) A identidade dos titulares dos órgãos;
c) As declarações de princípios e os programas;
d) As actividades gerais a nível nacional e internacional.
3- Cada partido político comunica ao Tribunal Constitucional, para efeito de anotação, a identidade dos titulares dos seus órgãos nacionais após a respectiva eleição, assim como os estatutos, as declarações de princípios e o programa, uma vez aprovados ou após cada modificação.
4- A proveniência e a utilização dos fundos dos partidos são publicitadas nos termos estabelecidos na lei do financiamento dos partidos políticos e das campanhas eleitorais.

Assim, a bem da transparência e da verdade cívica, uma exigência e uma exigência apenas se deve colocar à maçonaria: conhecer os nomes dos seus membros – no mínimo dos que servem o Estado – e as suas – da maçonaria – actividades gerais. O que não conspira não teme, o que é honroso não precisa de se esconder, as práticas viciosas e as ideias inconfessáveis é que precisam de secretismo para se defenderem e propagarem. “Discreta” é a máfia. Em prol de uma comunidade aberta e não de uma chusma sombria.

Isto pode ser feito através de uma petição popular que reúna as assinaturas necessárias para levar esta exigência ao Parlamento. Nem que seja para ver quem são os “irmãos” que lá estarão para rejeitar a proposta de forma a protegerem os seus interesses privados.

Não percebo o que espera o movimento nacionalista, por que não através do próprio PNR, para iniciar esta luta.

O nome é Legião, o caminho é tradição, o estilo é acção!

Quem se esconde por detrás da “ajuda”?

Mario Draghi é o novo patrão do Banco Central Europeu (BCE). Loukas Papadimos acaba de ser designado primeiro-ministro grego. Mario Monti foi indigitado primeiro-ministro italiano. São três financeiros formados nos Estados Unidos, dois deles antigos responsáveis do tenebroso Goldman Sachs. Um deles é membro da Comissão Trilateral e do grupo Bilderberg. (Retirado do editorial do site Polémia: “Draghi, Papadimos, Monti : le putsch de Goldman Sachs sur l’Europe”)

Por que razão as doutrinas e os responsáveis pela enfermidade económica que atinge o ocidente estão a ser nomeados para os lugares de chefia dos países que precisam de ser resgatados? A resposta é simples: é preciso salvar o sistema. Desde o momento em que esta crise financeira começou a despontar que ouvimos falar da necessidade de reformas do sistema financeiro mundial, para o sanear. Até ao momento nem uma que interessasse foi feita. As únicas “reformas” que estão a ser conduzidas são no sentido de transferir ainda mais poder dos Estados para os mercados. A continuar assim, no final de tudo isto o povo acabará simplesmente empobrecido, e convencido de que o seu empobrecimento é necessário para ultrapassar a “crise”, e uma pequena elite, a superclasse global, formada pelos banqueiros e as grandes multinacionais acabará ainda mais rica – com a ajuda dos políticos dos grandes partidos democráticos, autênticos serviçais que em troca de favores e fortuna protegem, nos governos, os interesses da superclasse global. A narrativa que está a ser montada, servida pelos melhores argumentistas deste género de filmes, explicará que essa era a única alternativa e que o povo, cada vez mais miserável, se deverá sentir agradecido e orgulhoso dos sacrifícios que o salvaram (sabe-se lá de quê…).

Inside Job

Acabei de ver o documentário “Inside Job” de Charles Ferguson, sobre a crise financeira iniciada nos EUA pelas escandalosas actividades especulativas de alguns dos maiores bancos mundiais e que resultou no resgate financeiro, por parte do Estado (portanto dos contribuintes…) de algumas dessas instituições. No final de tudo aquilo, os quadros dirigentes daqueles Bancos e as próprias instituições financeiras onde se fizeram todo o tipo de práticas desonestas ainda conseguiram enriquecer mais e reforçar o seu poder.

O documentário é absolutamente imperdível mostrando com clareza a promiscuidade existente entre os Bancos e os tais governos democráticos. É impressionante a lista de antigos e actuais quadros superiores e administradores dos maiores Bancos que são nomeados para os principais cargos de política económica, nacional e internacional. Que interesses servem eles? Os dos Bancos que lhes pagam ou os do cidadão comum?

Mas se todo o documentário é brilhante há um capítulo que considero fulcral. Para além do lobbying que as instituições financeiras fazem directamente sobre os governos, há um outro tipo de relação que é exposta e que me parece até mais importante. Falo da relação entre as instituições financeiras e alguns dos principais académicos de Economia. Ficamos ali a saber que vários professores de Harvard, da London Business School (o reputadíssimo Richard Portes), da Universidade de Columbia e de tantas outras reputadas faculdades de Economia foram pagos, por instituições financeiras e comerciais, para escreverem relatórios e análises “académicas” em defesa da desregulação dos mercados e dos produtos financeiros.

Essa gente usa as universidades para difundir ideias e doutrinas que beneficiam os grandes interesses financeiros, formatando a mente dos alunos, falando nas televisões disfarçados com a respeitabilidade e suposta isenção que a população, ingenuamente, atribui aos títulos académicos dos Srs. Professores, e são conselheiros do poder político em matéria de políticas económicas.

Muito do que hoje é dominante em matéria de pensamento económico não tem qualquer comprovação na realidade, é resultado de modelos simplistas e dogmáticos, e muitos trabalhos de suposta investigação académica são manietados pelos “especialistas” de acordo com o que pretendem demonstrar no final.

A dada altura o realizador entrevista o presidente do Departamento de Economia de Harvard, John Campbell, e pergunta-lhe se ele não vê qualquer inconveniente em ter professores cujo rendimento advém, em grande parte, de trabalhos para, ou pagos por, instituições financeiras e empresariais, ao que Campbell responde: “não”…então o realizador faz-lhe a seguinte comparação, sob a forma de pergunta: “Um médico escreve um artigo a dizer que para tratar uma determinada doença deve receitar-se uma determinada droga, mas descobre-se que 80% dos rendimentos desse médico advêm do laboratório que fabrica a tal droga…isso não o incomoda?”…a reacção de Cambpell é impagável, começa a gaguejar sem saber o que dizer, porque a comparação é exacta e mortífera: temos vários académicos de Economia a defenderem em salas de aulas ou em trabalhos de investigação determinado tipo de politicas económicas que são as que interessam às grandes instituições financeiras para as quais também trabalham e de onde provem larga parte do seu rendimento.

Dos bancos mais influente o caso mais conhecido será talvez o Goldman Sachs. Veja-se uma pequena lista dos nomes que passaram pelo Banco e que exercem ou exerceram cargos de influencia política:

Hank Paulson, antigo secretário de Estado do Tesouro dos EUA
Saiu da liderança do Goldman Sachs para ser secretário de Estado do Tesouro durante a administração Bush. Paulson delineou o programa de ajuda à banca durante a crise financeira de 2008, que também resgatou o Goldman.

Mario Draghi, futuro presidente do BCE
O futuro presidente do BCE, Mario Draghi, foi director-geral da Goldman Sachs International entre 2002 e 2005. A ligação levou-o a enfrentar perguntas dos eurodeputados sobre se esteve envolvido na ocultação do défice grego.

Mark Carney, governador do Banco Central do Canadá
O actual governador do banco central do Canadá passou 30 anos no Goldman.Foi responsável pelas áreas relacionadas com risco soberana e foi o homem com a tarefa de delinear a estratégia do banco durante a crise russa de 1998.

Romano Prodi, antigo presidente da comissão europeia
O antigo presidente da Comissão e ex-primeiro-ministro italiano esteve no Goldman nos anos 90. A ligação valeu-lhe críticas da Oposição quando rebentou um escândalo a envolver o Goldman e uma empresa italiana.

Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial
O actual presidente do Banco Mundial foi director-geral do Goldman.Antes de se juntar ao banco tinha trabalhado no Departamento do Tesouro norte-americano. Lidera o Banco Mundial desde Julho de 2007.

Robert Rubin, antigo Secretário de Estado do Tesouro dos EUA
Robert Rubin teve cargos de topo na administração do Goldman. Após 26 anos no banco foi escolhido por Bill Clinton como secretário de Estado do Tesouro. Após passar pelo Governo, trabalhou no Citigroup.

Ducan Niederauer, presidente da NYSE Euronext
O presidente da NYSE Euronext, Duncan Niederauer, que detém as bolsas de Nova Iorque e de Paris, Bruxelas, Amesterdão e Lisboa, foi responsável do Goldman pela área da execução de ordens dadas sobre títulos financeiros.

Mark Patterson, Chefe de Staff do Tesouro dos EUA
Mark Patterson é o chefe de gabinete do actual secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner. Antes de se juntar ao governo estava registado como lóbista, intercedendo para defender os interesses do Goldman.

António Borges, director do Departamento Europeu do FMI
O economista foi vice-presidente e director-geral do Goldman entre 2000 e 2008. Após sair do banco foi da associação que delineia a regulação dos ‘hedge funds’. Em Outubro de 2010, foi nomeado director do FMI para a Europa.

Carlos Moedas, Secretário de Estado adjunto do Primeiro Ministro
Após acabar o MBA em Harvard, no ano 2000, o actual responsável pelo acompanhamento do programa da ‘troika’ foi trabalhar para a divisão europeia de fusões e aquisições do Goldman Sachs. Saiu do banco em 2004.

William C. Dudley, presidente da Fed de Nova Iorque
O actual presidente da Fed de Nova Iorque é a segunda figura mais importante na condução da política monetária dos EUA. Foi durante mais de uma década economista-chefe do Goldman e director-geral.

E isto são apenas os nomes ligados ao Goldman Sachs, agora imagine-se à escala global…

Aliás, basta olhar muito sucintamente para Portugal, Miguel Frasquilho, por exemplo, é um dos principais pensadores da política económica do PSD, que actualmente é governo, foi professor universitário de Economia e é deputado no parlamento, ao mesmo tempo que lidera o Departamento de Research do Banco Espírito Santo. António Nogueira Leite, professor universitário de Economia da Universidade Nova e membro do Conselho Nacional do PSD, exerce vários cargos de administração em diversos grandes grupos económicos nacionais e é vice-presidente do BANIF Investment Bank. Alguém acha que Frasquilho defenderá dentro do PSD ou no parlamento ideias que possam chocar com os interesses do BES? Ou que Nogueira Leite apresente aos seus alunos ideias que sejam contrárias às políticas económicas do Banco de que é vice-presidente ou dos grandes grupos de que é administrador? E quantas vezes vimos estes dois indivíduos serem convidados para aqueles grandes debates televisivos, que se pretendem muito sérios, ao estilo “Prós e Contras”, onde as grandes mentes desta nação explicam ao povo humilde, ávido de conhecimento, os problemas e soluções para o país?